O conceito de trabalhar apenas 4 horas por semana pode parecer mais adequado a uma piada sobre a preguiça do que a um livro sobre produtividade. No entanto, como o autor Timothy Ferriss gosta de sublinhar, fazer menos trabalho desprovido de sentido para se poder concentrar em coisas de maior importância pessoal não é preguiça; é inteligência.
A estranheza que este conceito desperta deve-se, segundo Ferriss, ao facto de a nossa cultura valorizar o sacrifício pessoal em vez da produtividade pessoal. A ideia de que ‘temos que marchar todos ao ritmo do mesmo tambor’ é desconstruída neste livro em que as experiências do autor e de diversas pessoas que este apelida de ‘novos-ricos’ (aqui sem qualquer sentido pejorativo) servem de base a uma série de dicas sobre como revolucionar a vida profissional.
‘Revolucionar’ pode ser dizer pouco. O livro traz na contracapa um aviso: ‘não leia este livro a não ser que queira largar o seu emprego’. O aviso pode ser um exagero destinado a chamar a atenção do leitor no ponto de venda mas de facto Ferriss não tem qualquer prurido em quebrar ideias pré-concebidas e comummente aceites acerca da forma como encaramos – e realizamos – o nosso trabalho.
ValornUm indivíduo trabalha 10 horas por semana e o outro 80 horas por semana. Ambos ganham 80 000 euros por ano. Qual deles é o mais rico? A pergunta feita nas primeiras páginas lança a questão do valor do trabalho, mas também da liberdade. Trabalhar menos horas liberta o leitor para uma vida diferente, em que há espaço e tempo para outras actividades.
Dieta de baixa informaçãonCultivar a ignorância selectiva é uma das mais importantes pistas que Ferriss destaca. Para quê perder tempo a ver horas de noticiários quando pode programar um feed com as notícias que mais lhe interessam ou simplesmente ouvir o resumo da boca de um colega? Para quê verificar o seu e-mail 10 vezes por dia se verificando apenas 2 vezes (uma de manhã e outra à tarde) vai receber as mesmas mensagens e dar as mesmas respostas?
Empreender com uma musanHá muitas formas de ganhar a vida sem gastar o tempo que um emprego normal consome. A estratégia defendida pelo autor implica encontrar a sua ‘musa’, isto é, um interesse ou paixão que possa ser desenvolvido com fins comerciais. Como desenvolver, testar e rentabilizar a sua musa é o tema de diversos capítulos deste livro.
‘Management by absence’nUma das grandes vantagens da tecnologia é que permite estar do outro lado do mundo enquanto gere o seu negócio. Em 4 Horas por Semana encontrará inúmeros recursos, dos quais se poderá destacar a utilização de assistentes pessoais virtuais que, por custos considerados irrisórios, diminuem substancialmente o volume de trabalho, e as mais diversas ferramentas para apoiar o desenvolvimento do seu negócio com poupança de tempo e permitindo-lhe viajar enquanto trabalha.
Mini-reformasnO que fazer com o tempo e o dinheiro que a sua musa vai gerar? Ferris defende que, em vez de trabalhar como um escravo até à reforma, altura em que a sua saúde e disposição podem não ser as melhores para viajar, pode passar a viver da sua musa e fazer mini-reformas já, enquanto é saudável. Mas o conceito das quatro horas por semana é aplicável tanto às pessoas que optam por viajar como àquelas cujo principal objectivo é simplesmente terem mais tempo para estarem com a família ou desfrutarem de momentos para si , por exemplo para desenvolver um hobby ou uma competência extra.
Nem tudo neste livro é ouro. É possível que alguns dos recursos estejam desactualizados, ou que haja algum exagero nas expectativas criadas. Quatro horas pode ser muito pouco tempo para trabalhar. Porém o conceito base, esse, é ouro e já inspirou milhares de pessoas a fazerem uma análise profunda da forma como trabalham, dos seus medos e objectivos, das regras e limites que fixam para si próprios. Uma boa e divertida leitura que pode influenciar uma mudança na sua vida.