55% das startups norte-americanas falharam depois de terem obtido um financiamento até 1 milhão de dólares, e quase 70 por cento das empresas morreram apesar de ter conseguido financiamento até 5 milhões de dólares, o que prova que o dinheiro não é tudo para viabilizar um negócio. Na verdade, segundo este estudo da CB Insights às startups norte-americanas, a maioria das empresas morrem cerca de 20 meses após a sua última rodada de financiamento e depois de ter levantado 1,3 milhões de dólares.
A pesquisa diz que, apesar da inovação dos seus projetos, as empresas acabam por constatar que não há necessidade de Mercado para os seus produtos ou serviços. Outra razão para a morte das startups é a falta de retorno financeiro, e as empresas acabam descapitalizadas apesar do investimento inicial. Também pode acontecer que as empresas sejam suplantadas pela concorrência e o projeto inovador acaba por diluir-se na oferta das empresas rivais. Mas uma das principais razões encontradas está relacionada com problemas nas equipas.
O Empreendedor falou com Carolina Fonseca, criadora do programa Storm Training and Coaching, um programa de aceleração de performance de equipas direcionado a startups tecnológicas e que procura contrariar os risco de morte prematura das startups, em resultado das carências na dinâmica das equipas.
– Esta área do Capital Humano não é valorizada pelas aceleradoras de startups?
Com efeito, a maior parte dos programas de aceleração foca-se na componente Business da empresa. Neste programa aceleramos a performance da equipa, ou seja, focamo-nos no desenvolvimento do capital humano da startup. Essencialmente trabalhamos três vetores chave: a cultura da startup; as forças individuais de cada pessoa; e as características da dinâmica do grupo, enquanto equipa. Trabalhando estes vetores, conseguimos capacitar startups a gerir o seu capital humano da melhor forma para atingirem melhores resultados.
– Mas porque é que a taxa de insucesso é tão elevada?
Além de se considerar o risco inerente ao negócio, que é elevado e justifica alguns dos insucessos, o fracasso das startups deve-se muitas vezes à equipa quer porque não seja a correta ou porque não trabalha da melhor forma e é ‘outcompeted‘. Curiosamente, os programas de aceleração focam-se muito em validar a ideia e o mercado e desenvolvem atividades que possibilitam o financiamento, mas (até agora) ninguém se focava na dimensão humana que, claramente afeta a performance de uma startup e os seus resultados.
Além disso, é também de realçar que, muitas vezes as startups ficam presas nos financiamentos e adiam a geração de vendas. Como diz o CEO Gary Vaynerchuk, ‘Cash is oxygen‘ e, se não estamos a vender, não temos negócio. Outras vezes, acabam por dar prioridade a tarefas que não são verdadeiramente prioritárias, apesar de serem importantes, o que às vezes também lhes ‘custa a vida’.
– De que forma é que o vosso programa pode ajudar a inverter essa estatística?
Este programa é desenhado para startups que já validaram a sua ideia e têm um plano de negócio estruturado. Ou seja, partimos do princípio que a primeira premissa (‘verificar se existe um mercado relevante’) já foi validada. Ao trabalharmos com as equipas nos três pontos mencionados (cultura, forças individuais e dinâmica da equipa), não só desenvolvemos de forma prática o espírito de cooperação e otimização do trabalho (para que as equipas saiam das intervenções a sentirem a diferença e com action-steps que possam seguir), como capacitamos os elementos da equipa a perceberem por si exatamente quais são os bottlenecks da equipa (a nível da produção, da gestão de grupo e da gestão individual) para que eles se possam gerir autonomamente depois da nossa intervenção.
– A sua empresa é também uma startup, o que a levou a começar este projeto?
O projeto nasceu porque eu passei pela experiência de gerir equipas em contextos de constante mudança, com deadlines apertadas e recursos limitados. Conheço as dificuldades na gestão de projetos nestas circunstâncias e sei o importante que é ter estes conhecimentos e ferramentas para atingir os resultados a que nos propomos.
Além dos estudos que fiz, trabalhei também em consultoria nas áreas de desenvolvimento de competências a nível individual e de equipa e comecei a notar que este tipo de formação era extremamente importante para as multinacionais, mas que não existia de todo no mundo das startups.
– Desde quando está a trabalhar e que apoios teve?
Após identificar esta necessidade, conversei com várias startups em Lisboa e Londres (onde também vivi) e comecei a perceber que a necessidade realmente existe. Foi nessa altura que desenvolvi este programa com 3 colegas consultores (4 cabeças são muito melhores que uma!) e testámos uma versão Beta em Lisboa no verão do ano passado. Encontrámos algumas falhas de implementação e acabámos por reformular o programa. Desde o início do ano que trabalhamos em parceria com algumas aceleradoras e incubadoras em Lisboa. De momento não nos candidatámos a nenhum apoio financeiro, os apoios que temos vêm das aceleradoras e incubadoras com quem estamos a trabalhar.
– Qual é o vosso próximo passo?
Neste momento, pretendemos gerar financiamento orgânico e validar o modelo de negócio a nível de financiamento para, em 2017, ter fundos para fazer a formalização legal.