Henrique Neto: “Não basta ter necessidade para ser um bom empresário”

É empresário, empreendedor e candidato às eleições presidenciais que se avizinham. Acredita que a experiência de gestão de empresas pode ser aplicada com sucesso à gestão dos destinos de um país. Ao longo dos anos, contribuiu com o seu pensamento, os seus livros e iniciativas para alertar, aconselhar e procurar implementar a alteração de um sistema político que considera obsoleto. Henrique Neto aceitou falar ao Empreendedor.com sobre o estado atual do empreendedorismo, os impostos, a burocracia, a economia paralela e a importância que assume a decisão que os portugueses vão tomar nas próximas eleições.

Como se explica o crescimento do empreendedorismo em Portugal nos últimos anos?nH.N.: A necessidade é a mãe de todas as iniciativas. Não é uma condição única, mas é frequentemente a razão pela qual os jovens e os menos jovens portugueses, sem emprego certo, se abalancem a inovar e a criar empresas. Infelizmente, não basta ter necessidade para ser um bom empresário e são necessárias outras características pessoais e habilitações curriculares e práticas que nem sempre estão presentes no empreendedorismo.

Suspeito, por isso, que em Portugal se consome muito dinheiro mal gasto porque a formação dos empreendedores não existe ou é excessivamente teórica, nomeadamente para aqueles para quem ser empresário é o primeiro emprego. Saber vender é a competência essencial em qualquer nova empresa, vender antes de gastar muito dinheiro a produzir, evitar custos fixos subcontratando e criando diferenças relativamente aos concorrentes, são objectivos a conciliar.

Como encara o actual estado do país e o futuro no que diz respeito aos impostos, à burocracia e àeconomia paralela?nH.N.:Nenhum empresário gosta de pagar impostos, que lhe retiram capacidade competitiva e que podem comprometer o futuro da empresa. Acresce, que em Portugal, aos impostos há a acrescentar uma burocracia devoradora e cara, além de leis e de políticas públicas em permanente mudança, que é a combinação ideal para que os empresários, nacionais e estrangeiros, não invistam ou invistam pouco.

Recentemente, a situação piorou com o fundamentalismo do Ministério das Finanças, autentica perseguição às empresas e aos cidadãos. O facto de os governos desconfiarem dos empresários é uma das razões para a estagnação económica, porque não leva em conta a necessidade de haver um dialogo permanente entre o poder político e os empresários, particularmente os exportadores.

A burocracia é uma necessidade das grandes organizações, como os Estados modernos fornecedores de serviços, onde existe uma burocracia eficiente, no nosso tempo baseada em sistemas de informação acessíveis e amigos dos utilizadores. Infelizmente, a nossa é uma burocracia baseada no poder, que é a extensão do poder dos políticos exercido sobre a sociedade. É esta burocracia que corrói a sociedade portuguesa, que estimula a corrupção e provoca custos insustentáveis.

No caso português a burocracia é também o resultado de uma deficiente organização da administração pública, que é desnecessariamente complexa e cara, feita para servir os empregos dos agentes políticos e originando uma concorrência de competências entre os gabinetes ministeriais e a administração. Pessoalmente, defendo uma administração pública hierarquizada de directores gerais de carreira e a eliminação de todos os serviços paralelos.

A economia paralela, que é um fenómeno relevante entre nós, resulta da já referida desconfiança do Estado relativamente aos cidadãos, os quais encontram formas alternativas de vencer a voracidade do Estado.

Até que ponto é que a sua experiência enquanto empresário se pode aplicar à política e em concreto à posição de Presidente da República?nH.N.:Penso que a experiência empresarial, nacional e internacional, é o factor que melhor pode mudar as práticas políticas e os erros da governação, quer antecipando o conhecimento dos problemas, quer instituindo uma certa pedagogia organizativa, isto é, haver alguém na Presidência da República com ideias claras e convicções fortes, permitirá ultrapassar o problema da excessiva juventude dos governos.

Como é que se ‘pensa Portugal’ no que diz respeito ao empreendedorismo e à vida dos pequenos empresários?nH.N.:Em Portugal o progresso da economia e a criação de empregos passa por uma definição estratégica, como defendi no meu livro ‘Uma Estratégia para Portugal,’ sem o que a navegação à vista, a que temos assistido, não cria as melhores condições de estabilidade aos pequenos e grandes empresários. Também são precisas ideias concretas como, por exemplo, a realização de uma grande exposição de todos os produtos adquiridos pelo Estado no estrangeiro, com as quantidade anuais e o preço médio de compra, com o objectivo de desenvolver a produção nacional e a substituição das importações.

Já apresentei esta proposta, por mais de uma vez, ao Ministério da Economia e nada, aparentemente não compreendem que há empreendedores que podem interessar-se por produzir esses produtos em Portugal.

Se pudesse falar com cada um dos empreendedores portugueses, o que lhes diria?nH.N.:Que o País e os portugueses precisam de mais e melhores empresários, grandes e pequenos, que a crise que atravessamos nunca será vencida por um sistema político que permite favores, corrupção e a ausência da transparência. Como Presidente da República não permitirei, aconteça o que acontecer, a continuação do saque dos recursos nacionais. Acresce, que não será com os outros candidatos conhecidos, oriundos do meio académico e dos partidos do sistema, que provocaremos o crescimento económico, a criação de empregos e o necessário aumento das exportações, se assim fosse já o teriam feito, ou, no mínimo, indicado. Precisamos, por isso, de um Presidente da República que escreveu sobre o assunto, que combateu os erros dos últimos vinte anos e que sabe como dividir melhor os custos da crise e a forma de a superar.

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