Norte-americanos são quem mais investe nas startups portuguesas

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O investimento estrangeiro representa cerca de 67% do financiamento das startups nacionais e aos investidores dos Estados Unidos cabe metade dessa fatia. O número faz parte do relatório Portugal Startup Outlook 2019, que analisa o setor das startups tecnológicas e conclui que apesar do atraso em alguns indicadores, o ecossistema empreendedor português está pronto para desempenhar um papel significativo na Europa.

Portugal Startup Outlook é um estudo anual realizado pela BGI e a EIT Digital sobre as startups tecnológicas ou de capacitação tecnológica em Portugal. A pesquisa analisa os indicadores cruciais para o crescimento de uma startup, nomeadamente os fatores externos e internos e os recursos financeiros e de capital humano a que têm acesso.

A análise de 2019 mostra um aumento na maturidade do ecossistema português, no seu conjunto, com certas indústrias como as TI e Vendas & Retalho assumindo a liderança em investimentos, mas revela também uma elevada dependência de capital estrangeiro para impulsionar os novos negócios e as startups portuguesas. Embora esta dependência não seja considerada negativa, o relatório sublinha que “a criação de fontes nacionais de investimento seria bem-vinda”.

A maioria do financiamento de capital de risco em Portugal provém de fontes estrangeiras (66,84%), sendo que os Estados Unidos (33,99%) representam a maior fonte de financiamento das startups portuguesas, seguidos pelos investidores nacionais (27,86%). O Reino Unido (11,12%) e a França (3,30%) são os outros dois grandes investidores em Portugal.

No entanto, quando comparado com outros países europeus, Portugal não está sozinho na obtenção da maioria do seu financiamento de capital de risco a partir de fontes estrangeiras, também a Espanha (84%) e a Alemanha (78%), receberam grande parte de seu financiamento de fontes estrangeiras. Contudo, do ponto de vista do conjunto europeu, os três países ficam claramente abaixo da média.

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Lisboa – Os prós e contras de um hub tecnológico

Se os investidores portugueses perdem no financiamento de capital de risco, em comparação com os seus homólogos europeus, desempenhem no entanto um papel fundamental nos estágios iniciais do financiamento, contribuindo com 70% do financiamento de semente.

De acordo com o Global Entrepreneurship Index 2018, uma pesquisa realizada pelo Global Entrepreneurship and Development Institute junto de empresários de todo o mundo, e citada pelo Portugal Startup Outlook 2019, observamos que Portugal tem melhorado o desempenho em internacionalização e aceitação de riscos, e cidades como Lisboa são consideradas “um bom ambiente para as startups prosperarem”. Lisboa é particularmente bem vista como um ecossistema de alta qualidade, com alta disponibilidade de talentos e boa relação custo / benefício.

A capital Portuguesa é um dos destinos de inicialização mais populares da Europa nos últimos quatro anos. Em 2018, foi mencionado por 12% de todos os fundadores da Europa como um local que eles poderiam imaginar iniciar. A marca de Lisboa é semelhante a Tallinn, sendo percebida como uma “jóia escondida” ou “em ascensão”, ainda que um número significativo de entrevistados a tenha considerado um pouco “burocrática e lenta” e “atrasada”.

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Burocracia trava desenvolvimento

A burocracia é o “calcanhar de Aquiles” do ecossistema português, apontado pelo “Portugal Startup Outlook 2019”. O relatório reconhece o “apoio crescente do governo português a startups e empreendedores” mas recomenda uma redução significativa na burocracia relacionada às startups.

A política tributária e a burocracia em Portugal, relacionada com o empreendedorismo, colocam o país significativamente abaixo da média europeia. Também no que toca à disponibilidade de direitos de propriedade, serviços comerciais, contabilidade e outros serviços jurídicos e de avaliação, Portugal fica atrás dos seus congéneres europeus. Em contrapartida, os vários programas governamentais de apoio às startups portuguesas superam a media de incentivos na Europa ou América do Norte.

O relatório assinala ainda a necessidade de melhorar a infraestrutura em Portugal e a facilidade de acesso a instalações de apoio ao empreendedorismo, nomeadamente comunicações, transportes e serviços, que apesar de terem registado progressos significativos, ainda ficam aquém da média europeia.

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Mulheres em minoria nas startups tecnológicas

Embora exista uma perspetiva positiva em relação à geração de empregos, o relatório da EIT / BGI aponta uma lacuna significativa de gênero, com as mulheres a representar pouco mais de 20% no número de trabalhadores das startups portuguesas.

Lisboa, Porto e Coimbra são os principais centros de inovação em Portugal e também onde se concentra o maior número de trabalhadores, com a cidade do Porto a ocupar o primeiro lugar na oferta de emprego para a área tecnológica, significativamente acima de Lisboa.

Já no ambiente de emprego e competências, o estudo aponta para “uma falta significativa de correspondência entre o conhecimento necessário e o fornecido”, uma lacuna que é particularmente obvia quando se cruzam indicadores relacionados com o aumento da educação empresarial e as capacidades percebidas dos empresários em Portugal. Esta discrepância leva os autores do relatório a recomendar que “o programa de educação fornecido pelo setor público e privado deve ser reavaliado”.

Quanto às oportunidades e condições de mercado, o relatório sublinha que “devido ao tamanho relativamente pequeno do mercado doméstico de Portugal, existe uma oportunidade única para as startups portuguesas se concentrarem no mercado externo”. Essa, aliás, deve ser a estratégia para as startups com modelos de negócios B2B, “que podem ter uma chance maior de sucesso devido à relativa facilidade de fechar clientes comerciais”.

Este relatório elaborado pela BGI e a EIT Digital usa análise descritiva para explicar os dados consolidados entre 2000 e o terceiro trimestre de 2019. Para o estudo foi considerado um universo de 528 empreendimentos de tecnologia ativos. Os dados de Portugal foram utilizados em comparação com os dados da América do Norte (EUA e Canadá) e da União Europeia. Também foram utilizados como referência os conjuntos de dados de países específicos (Alemanha, Espanha, Itália, França e Reino Unido).

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