Estudo da Deloitte revela que os jovens estão empenhados em impulsionar mudanças sociais positivas. A pesquisa incidiu junto de jovens Millennials e Geração Z e mostra que a maioria dos inquiridos acredita que o mundo atravessa um momento crítico no que diz respeito às principais questões sociais, incluindo as alterações climáticas, desigualdade e discriminação.
Aproximadamente 40% dos jovens não sentem que os empregadores fizeram o suficiente para acautelar o seu bem-estar mental durante a pandemia. Saúde e desemprego são temas particularmente preocupantes para os Millennials, ao contrário da Geração Z, que continua focada primordialmente nos problemas ambientais.
De acordo com o estudo Millennial and Gen Z Survey 2021 da Deloitte, que se realiza pelo décimo ano consecutivo, junto de mais de 22 mil jovens, os inquiridos estão focados em atuar, e motivar outros na abordagem dos temas mais cruciais para a sociedade atual. As gerações mais jovens têm vindo a demonstrar preocupações com as questões sociais, mas sentem que o mundo se encontra num momento determinante. Por isso, exigem uma maior responsabilização, que permita impulsionar mudanças rumo a um mundo mais justo e sustentável.
Os inquéritos, realizados a quase 15.000 Millennials e a aproximadamente 8.300 jovens da Geração Z em 45 países, permitem concluir que estas gerações esperam que empresas e governos sejam mais atuantes em questões práticas, enquanto os inquiridos estão dispostos a canalizar esforços para ações que possam marcar a diferença: aumentando o envolvimento político, alinhando gastos e percurso profissional de acordo com os seus valores e promovendo mudanças nas questões sociais que mais lhes dizem respeito.
“A pandemia da COVID-19 teve marcadamente um impacto na forma como os Millennials e a Geração Z olham para o mundo. Num momento em que este ainda se debate com importantes desafios, principalmente em termos económicos e sociais, os jovens, mais do que nunca, querem atuar e esperam que as empresas façam o mesmo”, sublinha Nuno Carvalho, partner da Deloitte.
“os jovens, mais do que nunca, querem atuar e esperam que as empresas façam o mesmo”
Questões ambientais no topo nas preocupações
As alterações climáticas e a proteção do meio ambiente eram, há um ano, a principal preocupação dos Millennials. Talvez, sem surpresa, este ano, os temas da saúde e do desemprego encabeçam a lista de preocupações pessoais desta geração. No entanto, o foco contínuo nas questões ambientais, sendo esta a terceira preocupação apontada, demonstra a importância da defesa do ambiente para as gerações mais jovens.
O tema ganha uma importância acrescida para a Geração Z, já que esta é indicada como a sua principal preocupação, mesmo durante uma pandemia global, quando outras ameaças à saúde, bem-estar familiar e carreiras profissionais são mais iminentes.
Muitos acreditam (37% dos Millennials e 40% da geração Z) que mais pessoas vão querer atuar na defesa do ambiente e do clima na pós-pandemia. Isso poderá incluir uma maior atividade na reciclagem; na preferência pela utilização de transportes públicos; ou até uma mudança de hábitos alimentares e de compras.
Como consumidores, os Millennials e a geração Z continuam a tomar decisões alinhadas com os seus valores. Mais de um quarto dos entrevistados confessaram que o impacto das empresas no meio ambiente, seja positivo ou negativo, teve influência direta nas suas decisões de compra.
No entanto, aproximadamente 60% dos Millennials e da Geração Z temem que o compromisso das empresas em ajudar a combater as alterações climáticas seja agora menos prioritário, por conta dos restantes desafios que os líderes empresariais enfrentam atualmente decorrentes da pandemia.
Combater o stress e a ansiedade nos locais de trabalho
A pandemia da COVID-19 trouxe o tema do stress para a linha da frente do debate social. Atualmente, e segundo as respostas dos entrevistados, 41% dos Millennials e 46% dos jovens pertencentes à Geração Z sentem stressados sempre ou a maior parte do tempo. Finanças, bem-estar familiar e perspetivas de emprego têm sido os principais fatores de preocupação.
Esse stress é também alargado ao local de trabalho. Cerca de um terço de todos os entrevistados (31% dos Millennials e 35% da Geração Z) admite já ter faltado ao trabalho por conta do stress e ansiedade causados pela pandemia.
Um terço já faltou ao trabalho por causa do stress e ansiedade
No entanto, quase metade desse grupo apontou ao empregador um motivo diferente para justificar a sua ausência, o que pode indicar a existência de um estigma em relação à saúde mental no local de trabalho. Na verdade, apenas 38% dos Millennials e 35% da Geração Z se sentiram confortáveis o suficiente para falar abertamente com os seus superiores sobre stress.
Aproximadamente 40% afirmam que a sua entidade empregadora não foi capaz de providenciar um apoio efetivo à saúde mental durante a pandemia.
Preocupações financeiras e com desigualdades na distribuição de riqueza
A incerteza dos Millennials e da Geração Z em relação ao seu futuro financeiro é hoje em dia uma das principais preocupações, muito por conta do clima de instabilidade económica que se vive. Dois terços de todos os inquiridos disseram que se preocupam frequentemente ou ficam stressados com a sua situação financeira. O mesmo número afirma que a pandemia os fez reavaliar e alterar as suas metas financeiras.
Olhando para o futuro, apenas 36% dos Millennials e 40% da Geração Z acreditam que a sua situação financeira pessoal vai melhorar até 2022.
Enquanto as preocupações financeiras pessoais estão cada vez mais na mente destas gerações, a desigualdade na distribuição da riqueza é também um outro motivo de preocupação. Dois terços dos Millennials (69%) e da Geração Z (66%) acham que a riqueza e os rendimentos são distribuídos de forma desigual na sociedade.
Muitos acreditam que poderá ser necessária uma intervenção do governo para impulsionar mudanças e quase um terço revelou ter votado ou apoiado políticos que desejam reduzir a desigualdade de rendimentos.
Aproximadamente 60% dos entrevistados revelaram que uma legislação que exija que as empresas paguem aos trabalhadores pelo menos o mínimo necessário para viver condignamente poderá fazer parte da solução. Mais da metade dos inquiridos afirmou ainda que gostaria de assistir à criação de um rendimento mínimo universal que permita atenuar estas discrepâncias.
Aumenta a tendência para mudar de trabalho
Seguindo a tendência de declínio constante verificada nos últimos anos, menos de metade dos Millennials (47%) e da geração Z (48%) acha que as empresas estão a ter um impacto positivo na sociedade. Esta é a primeira vez, desde que o estudo é conduzido, que este indicador cai para menos de 50%. De notar ainda que este valor caiu quase 30 pontos desde 2017.
O estudo conclui também que a lealdade aos empregadores decresceu, depois de se ter registado um valor record em 2020. Atualmente, mais jovens destas gerações, caso lhes seja dada essa oportunidade, consideram deixar as suas atuais empresas dentro de dois anos, 36% dos Millennials e 53 da Geração Z, em comparação com 31% e 50% respetivamente em 2020.
Em contracorrente, aproximadamente a mesma percentagem admite desejar permanecer, pelo menos cinco anos, na atual empresa (34% dos Millennials e 21% da Geração Z). Interessante notar que 44% dos Millennials e 49% da Geração Z confessam que nos últimos dois anos optaram pelo tipo de trabalho e organização com base em convicções éticas pessoais.
Maioria considera que as empresas têm pouco impacto positivo na sociedade
“Este estudo tem sido ao longo dos anos um barómetro das preocupações e comportamentos das gerações mais novas, sendo possível perceber em direção caminhamos. Para as empresas continuarem a ser atrativas para é necessário acompanharem essas mudanças e mostrar que podem ser catalisadores de mudança para uma sociedade mais verde e igualitária”, conclui Nuno Carvalho.
O estudo de 2021 reúne as opiniões de um total de 22.928 inquiridos (14.655 millennials e 8.273 jovens da Geração Z) de 45 países da América do Norte, América Latina, Europa Ocidental, Europa Oriental, Médio Oriente, África e Ásia-Pacífico. O estudo foi conduzido através de questionários individuais online, entre 8 de janeiro e 18 de fevereiro de 2021.
Os millennials incluídos no estudo nasceram entre janeiro de 1983 e dezembro de 1994. Os entrevistados da geração Z nasceram entre janeiro de 1995 e dezembro de 2003.
Pela primeira vez, o relatório inquiriu jovens Millennials e da Geração Z no mesmo número de países. Nos anos anteriores, apenas 20 países reuniram as opiniões dos jovens da Geração Z. As comparações ano a ano das respostas da Geração Z foram influenciadas pela adição de 25 novas geografias e devem ser consideradas em conformidade.