Empresas precisam preparar-se para o aumento da instabilidade social

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A crise energética e a inflação poderão provocar um aumento dos incidentes de instabilidade social, com ondas de distúrbios, greves e motins. Segundo a seguradora Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS), as empresas devem preparar-se para situações que podem resultar em danos materiais custosos ou interrupções das operações comerciais.

Com a crescente influência das redes sociais na ativação de distúrbios civis, a par de um acentuado declínio na confiança dos meios de comunicação social tradicionais, greves, motins e protestos violentos representam riscos acrescidos para as empresas porque, além de edifícios ou bens sofrerem danos materiais avultados, as operações comerciais também podem ser severamente interrompidas por bloqueios, resultando em perdas financeiras.

De acordo com as Projeções do Índice de Inquietação Civil da agência de classificação de seguros Verisk, 75 países provavelmente verão um aumento da instabilidade social até o final de 2022, resultando numa maior frequência de protestos que poderão transformar-se em tumultos e danos à infraestrutura e edificações.

As perspetivas são mais sombrias para os 34 países que enfrentam uma deterioração significativa da sua economia até agosto de 2022. Destes, mais de um terço estão na Europa (12), seguidos pelas Américas (10), África (6), Oriente Médio e Norte da África (3) e Ásia (3).

Instabilidade social em barricadas de rua
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“A agitação civil representa uma exposição mais crítica para muitas empresas do que o terrorismo”, diz Srdjan Todorovic, Diretor de Gestão de Crises, Reino Unido e Países Nórdicos, da AGCS. “É pouco provável que as incidências da inquietação social diminuam em breve, dadas as consequências da Covid-19, a crise do custo de vida e as mudanças ideológicas que continuam a dividir as sociedades ao redor do mundo. As empresas precisam estar atentas a quaisquer indicadores suspeitos e ter planos de resposta claros, que antecipem e evitem potenciais danos a pessoas ou bens. ”

Recentemente as Nações Unidas alertaram para o potencial desestabilizador das cadeias de abastecimento interrompidas e dos preços crescentes de alimentos, combustíveis e fertilizantes, particularmente no contexto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que representam cerca de 30% do abastecimento mundial de trigo. “Tudo isto é plantar a semente da instabilidade política e da agitação em todo o mundo”, disse o Secretário-geral da ONU, António Guterres, em março de 2022.

Em consequência, a empresa de consultoria de risco Verisk Maplecroft vê o aumento da agitação civil como inevitável, nos países de renda média, que foram capazes de oferecer proteção social durante a pandemia, mas agora terão dificuldade de manter esse nível de gastos à medida que o custo de vida aumenta.

Policia de choque para combater instabilidade social
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Instabilidade social: Uma sociedade em ruptura

As perdas económicas e seguradas em protestos anteriores têm sido significativas, gerando sinistros importantes para as empresas e suas seguradoras. Em 2018, o movimento dos Coletes Amarelos na França que se mobilizou para protestar contra os preços dos combustíveis e a desigualdade económica, levou os comerciantes franceses a perder 1,1 milhões de dólares em receitas em apenas algumas semanas.

Por seu turno, no Chile, as manifestações de 2019 desencadeadas pelo aumento nas tarifas de metropolitano, levou a perdas seguradas em 3 mil milhões de dólares. Nos Estados Unidos, os protestos de 2020 pela morte de George Floyd, sob custódia da polícia, foram estimados em mais de 2 mil milhões de dólares, em valores cobertos pelas seguradoras.

Já os motins sul-africanos de julho de 2021, que se seguiram à prisão do ex-presidente, Jacob Zuma, e alimentados por uma onda de despedimentos e desigualdade económica, causaram danos no valor de 1,7 mil milhões de dólares. No início deste ano, protestos no Canadá, França e Nova Zelândia, contra as restrições do Covid-19 incluíram bloqueios de camionistas que criaram interrupções nas principais cidades.

A influência das redes sociais desempenha um papel crescente na mobilização dos manifestantes e na intensificação da instabilidade social. “O efeito unificador e galvanizador das redes sociais em tais protestos não é um fenómeno particularmente recente, mas durante a crise da Covid combinou com outros fatores potencialmente inflamatórios, como a polarização política, movimento anti vacina e uma crescente desconfiança no governo para criar uma tempestade perfeita de descontentamento”, diz Todorovic.

“A geografia também deixou de ser uma barreira. Aqueles que tinham opiniões semelhantes eram capazes de partilhar opiniões mais facilmente e de mobilizar-se em maior número, de maneira rápida e efetiva”, acrescenta. “Num mundo onde a confiança, tanto no governo quanto nos media, caiu bruscamente, a desinformação poderia apossar-se de informações falsas e as divergências partidárias poderiam ser intensificadas e exploradas”.

Instabilidade social: carro em chamas durante protestos de rua
Foto de Florian Olivo em Unsplash

Como as empresas podem preparar-se para o pior

Segundo o estudo da Allianz Global, os alvos da agitação civil, ou danos colaterais dela decorrente, poderiam incluir edifícios governamentais, infraestrutura de transporte, cadeias de abastecimento, instalações comerciais, empresas de propriedade estrangeira, postos de gasolina, centros de distribuição de bens críticos e empresas de turismo ou hospitalidade.

A seguradora recomenda que as empresas revejam e atualizem os seus planos de contingência de negócios, avaliando, se necessário, quaisquer vulnerabilidades na cadeia de abastecimento. Também devem rever as suas apólices de seguro, em caso do aumento da atividade de inquietação social local, cobrindo sinistros de violência política ou uma cobertura especializada para mitigar o impacto de greves, motins e comoção civil.

“A natureza das ameaças de violência política está a evoluir, à medida que algumas democracias se tornam instáveis, e certas autocracias reprimem fortemente os dissidentes. A agitação pode ocorrer simultaneamente em vários locais, já que as redes sociais facilitam a rápida mobilização dos manifestantes. Isto significa que grandes redes comerciais, por exemplo, podem sofrer perdas múltiplas num evento em vários locais de um país”, diz Todorovic.

Os riscos para este tipo de incidentes dependem de muitos fatores, incluindo a natureza do evento que está na origem dos acontecimentos, a proximidade do local e o tipo de negócio. Porém, em qualquer circunstância, os consultores da Allianz recomendam que os responsáveis das empresas avaliem as ameaças ao seu negócio face a uma crescente instabilidade social.

Para ajudar a mitigar os riscos de situações deste tipo a Allianz Risk Consulting desenvolveu uma lista de recomendações técnicas para empresas e indivíduos avaliarem essas variáveis e os caminhos associados para a desescalada, comunicação e resposta.

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