Com o início do ano letivo e a persistente escassez de professores no ensino público, muitos educadores em Portugal estão a optar por dar explicações privadas, encontrando uma fonte de rendimento mais atrativa. De acordo com a plataforma de serviços Fixando, um professor que se dedique a dar explicações 10 horas por semana, em grupos de 2 a 3 alunos, pode ganhar até 1.680€ ilíquidos por mês, ultrapassando o rendimento extra oferecido pelo governo para quem realizar horas extra nas escolas públicas.
A análise da Fixando revela que o preço médio de uma sessão de explicações em setembro de 2024 é de 14€, um aumento em relação aos 13,65€ registados no ano anterior. No entanto, os valores podem variar consoante a disciplina, com explicações de Cálculo a atingirem os 31€ por aula e as de Inglês até 28€, refletindo a elevada procura por estas aulas.
O número de profissionais registados na Fixando para oferecer explicações já aumentou 14% em relação ao ano passado. Segundo a plataforma, muitos docentes preferem dar explicações privadas em vez de realizar horas extra no ensino público, devido à maior flexibilidade, menor burocracia e melhor relação custo-benefício.
Alice Nunes, diretora de Novos Negócios da Fixando, explica que “um professor no primeiro escalão pode ganhar cerca de 1.000€ ilíquidos por mês ao realizar 10 horas extra semanais no ensino público. No entanto, esse valor exige um esforço adicional, que inclui preparação das aulas, correção de trabalhos e outras responsabilidades.” Comparativamente, dar explicações privadas oferece uma maior compensação financeira e menos carga burocrática.
Em setembro de 2024, a procura por explicações cresceu 54% face ao mês anterior, embora ainda esteja 25% abaixo do registado no mesmo período de 2023. As razões principais para a procura incluem a necessidade de melhorar as notas escolares, a preparação para testes e a aprendizagem de novos temas.
Entretanto, o inquérito da Fixando revela que 31% dos professores consideram que o nível de preparação dos alunos para o novo ano letivo é “mau”, e 51% apontam a falta de professores como um dos principais problemas. A desmotivação entre os profissionais de ensino é evidente, com muitos a criticarem a desvalorização da carreira e as condições de trabalho oferecidas pelo governo.
Alice Nunes acrescenta que há uma necessidade urgente de modernização dos métodos de ensino, formação contínua e maior apoio financeiro aos professores, refletindo a insatisfação generalizada com as atuais medidas governamentais para combater a falta de docentes.