Um estudo da Boston Consulting Group (BCG), intitulado “To Understand Climate Mobility, Follow the Water”, revela que inundações, secas e tempestades poderão forçar a deslocação de até 43 milhões de pessoas por ano até 2050. Esta previsão inclui 32 milhões de deslocações internas e 11 milhões de deslocações transfronteiriças, com base num cenário de alterações climáticas sem medidas de mitigação eficazes.
O relatório da BCG destaca que, em 2022, 99% das deslocações forçadas relacionadas com desastres naturais foram provocadas por eventos hídricos extremos. A mobilidade climática, definida como o movimento voluntário ou forçado de populações devido aos impactos climáticos, é predominantemente causada pela escassez e qualidade deteriorada da água, que afetam a estabilidade económica e social. A BCG sublinha que a aceleração da transição energética e a implementação de políticas de resiliência são fundamentais para mitigar o impacto destas crises.
Três Cenários Climáticos até 2050
O relatório da BCG apresenta três cenários para prever a mobilidade climática em função da gravidade das crises hídricas:
- “Taking the Green Road” (“Seguir a Via Verde”, em português). Esta trajetória pressupõe esforços de atenuação contínuos para reduzir os gases com efeito de estufa, apostando em níveis elevados de inovação técnica. O cenário enfatiza o respeito pelos limites ambientais e uma melhor gestão dos bens comuns globais, nomeadamente da água. Nesta hipótese, apesar dos esforços de mitigação, ainda se prevê um aumento de cerca de 1% da mobilidade climática interna e de 2,5% da deslocação entre diferentes países (mobilidade climática externa).
- “Middle of the Road” (“Meio da Estrada”). Este cenário assenta na manutenção do status quo e pressupõe um pico de emissões em 2040, assumindo políticas climáticas globais e avanços tecnológicos moderados. O crescimento dos rendimentos globais será desigual e o ambiente continuará a degradar-se, apesar de ligeiras melhorias. Nesta conjuntura, é expectável um aumento da mobilidade climática interna de aproximadamente 14% e de quase 3% a nível externo.
- “Taking the Highway” (“Seguir a Autoestrada”). Esta projeção traduz-se no pior dos cenários. Pressupõe pouco ou nenhum esforço para a mitigação das emissões, uma elevada dependência dos combustíveis fósseis e avanços bastante limitados na adoção de tecnologias verdes. Haverá um desenvolvimento considerável do capital humano e da tecnologia, e a população deverá crescer. Neste cenário, o aumento da mobilidade climática poderá ascender aos 33% do ponto de vista interno e aos 3% no que respeita a deslocação além-fronteiras.
Regiões de Maior Risco e Estratégias de Mitigação
África, Austrália, Médio Oriente e Europa Central enfrentam o maior risco de inundações, especialmente em cenários climáticos mais severos, enquanto a Europa Central, América Latina e Sudeste Asiático são particularmente vulneráveis a secas. A BCG identifica três estratégias principais para mitigar o impacto das crises hídricas:
Por um lado, aproveitar a “Resiliência da Água”, desenvolvendo as infraestruturas de captação e recuperação de água, baseadas em soluções naturais e digitais. Outra estratégia passa pela “Resiliência Social”, mobilizando parcerias entre governos e comunidades para criar políticas de adaptabilidade da água. A “Colaboração Transversal” é outra estratégia proposta pela BCG para mitigar o impacto das crises hídricas, fomentando a cooperação e mecanismos de financiamento que beneficiem as populações deslocadas.
O estudo da BCG reforça a necessidade de ação urgente para reduzir as emissões e desenvolver estratégias de resiliência hídrica e social, visando proteger populações vulneráveis das consequências das alterações climáticas.