A União Europeia tem desempenhado um papel central no financiamento e desenvolvimento de startups tecnológicas, e os números agora divulgados pelo relatório Accelerating European Innovation demonstram o impacto desse apoio. De acordo com o estudo, conduzido pela Dealroom, Dealflow.eu, Europe Startup Nations Alliance (ESNA) e EU-Startups, as startups beneficiadas pelos programas de financiamento da UE já geraram um valor empresarial de 520 mil milhões de euros.
Os dados recolhidos analisam 13.600 startups europeias, financiadas ao longo de três programas-quadro da UE, incluindo o Horizonte Europa. Estas empresas receberam 12 mil milhões de euros de fundos comunitários, conseguindo alavancar 70 mil milhões de euros em financiamento privado. O relatório revela ainda que as startups apoiadas pela UE apresentam taxas de sucesso superiores às suas concorrentes no ecossistema europeu de capital de risco.
Para Thijs Povel, Managing Partner da Dealflow.eu, os números são expressivos, mas levantam questões sobre a distribuição dos fundos comunitários. “Ficámos chocados ao perceber que apenas 5% dos 225 mil milhões de euros de financiamento público foram direcionados para startups. Esperamos que essa alocação mude nos futuros programas-quadro”, afirma.
Startups deep tech impulsionam inovação europeia
O relatório destaca a predominância de startups ligadas a tecnologias de ponta (deep tech), com 74% das empresas financiadas pela UE focadas na produção de bens físicos – um contraste significativo com o ecossistema europeu geral, onde apenas 25% das startups seguem essa abordagem. Setores como inteligência artificial, robótica, tecnologia climática, semicondutores e tecnologia espacial estão entre os que mais beneficiaram dos fundos europeus.
Casos de sucesso como a BioNTech, responsável pelo desenvolvimento de uma das vacinas contra a Covid-19, ilustram o impacto do apoio comunitário. Empresas como a ARM, líder na tecnologia de chips móveis, também receberam financiamento da UE em fases iniciais, embora a sua trajetória de crescimento tenha começado nos anos 90.
O papel do financiamento público no crescimento das startups
Os responsáveis pelo estudo defendem que o financiamento público funciona como um catalisador para o investimento privado, reduzindo riscos e acelerando a inovação. “Este relatório prova que o financiamento público pode reduzir o risco da inovação inicial e abrir caminho ao capital privado, com resultados extremamente positivos”, destaca Yoram Wijngaarde, fundador e CEO da Dealroom.
Além do impacto económico direto, o relatório sublinha a importância estratégica do investimento em startups para a Europa, numa altura em que o continente enfrenta uma forte concorrência dos Estados Unidos e da China na área da inovação tecnológica.
“Estas empresas não só geram valor financeiro significativo, mas também fortalecem a posição da Europa em setores tecnológicos críticos. Há razões claras para aumentar o financiamento às startups nos próximos programas-quadro”, reforça Wijngaarde.
Desafios e recomendações para o futuro
Apesar do impacto positivo dos investimentos, o relatório identifica desafios significativos para as startups no acesso aos fundos da UE. A burocracia e a fragmentação dos programas são apontadas como barreiras, dificultando a obtenção de apoios.
Entre as recomendações sugeridas para a Comissão Europeia, destacam-se o aumento do financiamento para startups no sucessor do Horizonte Europa, capitalizando o seu impacto económico.
A simplificação dos mecanismos de apoio, consolidando subvenções, investimentos de capital e programas de mentoria numa estrutura única é outra recomendação, tal como a promoção de maior visibilidade das startups europeias, conectando-as a investidores privados e empresas globais através de eventos e iniciativas como pitch days e summits.
Os resultados do relatório serão apresentados no VentureBridge, a 7 de março, em Barcelona, dando continuidade ao debate sobre o papel da União Europeia na inovação e no fortalecimento das startups tecnológicas.