Segundo o relatório “Portugal Balanço Social” a pandemia afetou largamente o emprego em Portugal. A região do Algarve foi onde se registou o maior número de inscritos nos centro de emprego, segundo o estudo intercalar realizado pela Nova SBE, em parceria com a Fundação “la Caixa” e o BPI. Na pós-pandemia, a recuperação dos postos de trabalho foi mais significativa para os profissionais com ensino superior.
O estudo “A pandemia e o mercado de trabalho: O que sabemos um ano depois”, é um relatório intercalar ao Relatório de Balanço Social, um projeto integrado na Iniciativa para a Equidade Social em Portugal. O estudo agora divulgado foi elaborado por Susana Peralta, Bruno P. Carvalho e Mariana Esteves, do Nova SBE Economics for Policy Knowledge Center, e visa traçar um retrato de como a pandemia tem afetado o mercado de trabalho em Portugal, nomeadamente as empresas e população em idade ativa.
No relatório “A pandemia e o mercado de trabalho: O que sabemos um ano depois” os investigadores começam por constatar que as medidas de confinamento devidas à pandemia tiveram um impacto profundo nas condições laborais, com muitas empresas a reduzirem atividade ou a encerrarem, o aumento da prevalência do teletrabalho e a implementação de políticas como o regime de Layoff simplificado.
Segundo apontam os dados compilados neste relatório, em 2020, constituíram-se menos 10 mil empresas do que no ano anterior, mas o número de dissoluções foi semelhante. Em 2021, até abril, já tinham sido encerradas mais 4 mil empresas do que no mesmo período de 2019. Janeiro de 2021 foi o mês com mais dissoluções (mais de 5 mil), o dobro do observado em janeiro de 2019 e 2020.
Durante a pandemia, as taxas de desemprego e de subutilização de trabalho aumentaram, especialmente a partir de junho de 2020, sendo que em abril de 2021 estavam próximas de valores pré-pandemia (cerca de 7% e 13%, respetivamente).
Por outro lado, o relatório dá conta que o número de inscritos nos centros de emprego aumentou em 28% entre fevereiro e dezembro de 2020, principalmente devido ao aumento de 30% nos inscritos com educação secundária. Embora o número de inscritos com ensino superior também tenha aumentado, o relatório aponta que a recuperação foi mais expressiva para este grupo (redução de 12% entre janeiro e maio de 2021) do que para aqueles que tem no máximo o ensino secundário (6%) ou o básico completo (0.4%). O número de inscritos face a 2019 é especialmente significativo na região do Algarve.
O documento identifica ainda que entre o segundo trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021, o número médio de horas trabalhadas diminui para os agregados com salários mais baixos e aumentou para os agregados com salários mais elevados. Entre os primeiros, 46% afirmam querer trabalhar mais, mas não encontrar emprego que o permita, o que contrasta com apenas 14% para os segundos. As famílias com crianças, especialmente as monoparentais, e os jovens foram mais afetadas pela redução no número médio de horas trabalhadas.
O teletrabalho ganhou nova relevância neste contexto pandémico. A percentagem de pessoas em teletrabalho no segundo trimestre de 2020 era de 22,6%, diminuiu progressivamente nos trimestres seguintes e voltou a aumentar no primeiro trimestre de 2021, para 20,7%.
Entre as conclusões do relatório denota-se ainda que o salário médio aumentou de 929€ para 982€, entre o primeiro trimestre de 2020 e de 2021. Segundo os investigadores este facto sugere que a maior parte dos postos de trabalho destruídos são os de pessoas com salários mais baixos.
Para a elaboração do relatório “A pandemia e o mercado de trabalho: O que sabemos um ano depois” a equipa de investigadores combinou dados do Inquérito ao Emprego (IE) realizado pelo INE, do Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério do Trabalho e Segurança Social (GEP – MTSSS), do Instituto para o Emprego e Formação Profissional (IEFP) e da Google. Os dados do IE e do GEP são de periodicidade trimestral, enquanto os do IEFP e da Google são mensais; os primeiros cobrem o período até março e os segundos até maio de 2021. Sempre que possível, os números foram comparados com o ano pré-pandémico (2019) e foram decompostos os efeitos observados por diferentes grupos da população.