A estratégia para a Indústria 4.0 é um conjunto de 60 medidas que deverão ter impacto sobre mais de 50 mil empresas a operar em Portugal, contribuindo para requalificação e formação de mais de 20 mil trabalhadores em competências digitais.
As medidas apresentadas pelo Governo para o programa Indústria 4.0, prevêem um investimento que pode alcançar os 4,5 mil milhões de euros nos próximos 4 anos. Parte desta verba é mobilizada através de fundos europeus, e o restante através de uma linha de crédito para apoiar as exportações e inovação.
A estratégia agora apresentada abrange diversos setores, como a agroindústria (produção, transformação, transporte e armazenamento), o retalho (distribuição, comércio eletrónico, têxtil, calçado, etc.), turismo e automóvel (moldes, plásticos, maquinaria, robótica, eletrónica, etc.) e, embora se destine sobretudo às PMEs, também abrange as startups ou mesmo as grandes empresas que representam multinacionais como a Altice-PT, a Bosch, a Deloitte, a Google, a Huawei, a Microsoft, a Siemens ou a Volkswagen.
A maioria das medidas que compõem a estratégia para a Indústria 4.0 visam a capacitação dos recursos humanos com uma forte aposta na formação ao longo da vida e que promovam a reconversão dos trabalhadores e a criação de novos empregos.
10 medidas emblemáticas
As 10 das medidas mais emblemáticas desta estratégia, tanto de iniciativa pública como de iniciativa privada, são:
1. Financiamento
Mobilização de Fundos Europeus estruturais e de investimento até 2,26 mil milhões de euros de incentivos, através do Portugal 2020, para a consciencialização, adoção e massificação de tecnologias associadas ao conceito de Indústria 4.0, nos próximos 4 anos. O objetivo é investir em recursos relevantes para a transformação digital da economia, através de financiamentos seguindo critérios específicos de elegibilidade.
Entre as medidas de financiamento destaca-se o Vale Indústria 4.0, destinado a apoiar a transformação digital através da adoção de tecnologias que permitem mudanças disruptivas nos modelos de negócio de PME (como, por exemplo, a contratação de sites de comércio eletrónico ou softwares de gestão fabril a prestadores certificados). Estes vales têm o valor unitário de 7500 euros e deverão apoiar mais de 1500 empresas e representam um investimento público de 12 milhões de euros.
Destaque-se ainda o lançamento de uma linha de crédito para o apoio às exportações das PME, através da PME Investimentos. Esta linha permite antecipar receitas da venda a taxas de juro bonificadas, mitigando assim o risco de empresas exportadoras de tecnologia inovadora de equipamentos que integram tecnologias 4.0
2. Programa de Competências Digitais
Promover o lançamento da iniciativa que permitirá capacitar, até 2020, mais 20 mil pessoas em tecnologias da informação e comunicações, face aos atuais níveis de formação. Em colaboração com o setor privado, esta medida destina-se a fazer face à carência de técnicos especializados nesta área e permite apoiar a reconversão profissional, criando novas oportunidades de inserção profissional através da obtenção de novas competências.
3. Cursos Técnicos Indústria 4.0
Revisão da carteira de cursos profissionais técnicos em linha com a procura de novas competências por parte das empresas no âmbito da digitalização da economia. Neste contexto, serão criados momentos de interface entre as escolas e a indústria e será promovido o recurso a trabalhadores qualificados, bem como a utilização de equipamentos de empresas para suportar as atividades letivas.
4. Learning Factories
Promoção e apoio na criação de infraestruturas físicas com equipamento tecnológico que recriem ambientes empresariais Indústria 4.0, com vista à capacitação do capital humano, promovendo e dando continuidade a iniciativas em curso como a Fabtec, Laboratório de Processos e Tecnologias para Sistemas Avançados de Produção, que consiste numa learning factory para demonstração de soluções inovadoras ao tecido empresarial, e a Introsys Training Academy, que integra um chão de fábrica simulado (SGF), e a Academy 360 Room com painéis interativos que controlam equipamentos no chão de fábrica.
5. Missões Internacionais
Apoio à promoção de empresas inovadoras, integrando-as nas comitivas nacionais, lideradas por representantes do Governo, com vista à partilha de produtos e serviços de âmbito Indústria 4.0 desenvolvidos em Portugal. Estas comitivas deverão estar presentes em eventos e feiras internacionais (ex.: Hannover Messe), ou em missões do Governo em cidades regiões e polos industriais (ex.: missões a Lombardia e País Basco) que possam constituir oportunidades para promover as empresas portuguesas.
6. Adira Industry 4.0
Visa a criação do primeiro laboratório integrado de fabrico aditivo através do qual se pretende desenvolver todo um novo ecossistema associado a esta tecnologia de nova geração que irá permitir novas formas de projeto e fabrico. Este laboratório é dinamizado pela empresa Adira em parceria com o CEiiA, a partir da máquina em desenvolvimento pela Adira, cujo protótipo foi desenvolvido em colaboração com a Fraunhofer, e está aberto às universidades e às empresas de todas as indústrias.
No âmbito desta iniciativa destaca-se também o desenvolvimento em consórcio com o Inegi e Inesc Tec de soluções de hardware e software para a implementação de serviços de dados e comunicação entre máquinas, o que irá permitir às empresas configurar produtos e serviços inovadores.
7. Footure 2020
Medida da Associação Portuguesa da Indústria de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos, que consiste num plano estratégico do cluster do calçado português para a implementação de um roteiro para a economia digital assente em diversas iniciativas. Com esta medida pretende-se, até ao final de 2020, conseguir um salto qualitativo no processo de afirmação internacional do calçado português, estabelecendo-o como uma referência da indústria a nível mundial.
8. Bosch Digital
O Done Lab da Bosch, consiste num laboratório único em Portugal para a manufatura aditiva avançada de protótipos e ferramentas, a funcionar na Escola de Engenharia da Universidade do Minho, resultante de uma parceria entre a Universidade do Minho e a Bosch Car Multimedia, e que é o maior projeto universidade-empresa do país, num investimento global de 54,7 milhões de euros até 2018.
Destaca-se também um protocolo entre a Bosch e a Universidade de Aveiro para o desenvolvimento de soluções para casas inteligentes e a digitalização de equipamentos da empresa alemã, num investimento de 19 milhões de euros, que deverá criar cerca de 150 postos de trabalho.
9. 4AC Industria 4.0 – Aceleradora, Incubadora, Prototipagem
Grandes multinacionais como a Mitsubishi (Daimler), a Siemens e a Volkswagen Autoeuropa integram a nova aceleradora, incubadora e espaço de produtização e prototipagem, para a Indústria 4.0. As startups portuguesas Bee Very Creative, Follow Inspiration, Mobi.Me e Prodsmart integram este projeto, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento dos seus produtos e otimizar o negócio.
A 4AC-Indústria 4.0 resulta de uma parceria entre o CEiiA e a Startup Portugal, que se destina a apoiar as startups tecnológicas produtoras de hardware de software, com aplicação na indústria, contribuindo não apenas para a transformação de ideias em produtos, mas ainda no desenvolvimento de produto e também na fase de scale-up.
A aceleradora e incubadora atuará como ponto central entre a indústria, universidades, centros tecnológicos e empreendedores, mas também os investidores e outros stakeholders do ecossistema de empreendedorismo.
10. Consórcio PSA Mangualde
Esta iniciativa, que tem um investimento estimado de 12 milhões de euros, será desenvolvida pela fábrica de automóveis PSA, de Mangualde, em consórcio com 3 universidades e 5 parceiros tecnológicos. Irá focar-se no desenvolvimento de sistemas robóticos inteligentes (robôs colaborativos), sistemas avançados de inspeção e rastreabilidade (visão artificial), sistemas autónomos de movimentação, fábrica digital e fábrica do futuro (baixa cadência e alta diversidade).
Estas são apenas algumas das 60 medidas que o Governo definiu com o objetivo de requalificar e modernizar o tecido produtivo português, para a Revolução Digital. A Cotec Portugal será a entidade responsável pela monitorização das medidas e também pela sua atualização, face à constante mudança que caracteriza os contextos digitais.