O que são e para que servem as comunidades de empreendedorismo?
Empreendedores têm sempre dificuldades, muitas! Portanto, qualquer ajuda é sempre bem-vinda.
Agora pense que, se alguém tem um problema, e outra pessoa já passou por isso ou algo semelhante, pode ser que os conselhos ou contatos dele sejam de grande valia e ajudem o outro a superar um pouco mais depressa essa adversidade. Imagine agora um grupo de pessoas com vários problemas, se conectando com outras que tem habilidades e conexões para auxiliar.
Justamente a ideia inicial das comunidades de empreendedorismo surgiram nesse viés de que as trocas de conhecimento e contatos auxiliariam seus membros a evoluir mais rápido.
Parece simples e funcional. Então por que nem todas as cidades do mundo têm isso? Pois então, não é tão simples! Mas falaremos disso mais tarde. Para já, o que você precisa entender é que a aspiração inicial foi essa, mas…
Com a evolução das formas de empreender, muitos locais começaram a dividir os estilos de empreendedores, desde o ramo gastronômico, tecnológico, calçado e outros, para que as trocas fossem mais específicas.
O ponto que culminou no fortalecimento das ideias dos grupos, foi quando começaram a surgir investidores na parada. Assim, as comunidades que tinham bons negócios e cresciam mais rápido – pois as pessoas se ajudavam – tinham mais empresas em fases iniciais e com alto potencial de retorno que estavam na trilha correta – exatamente o foco dos investidores. E quando há dinheiro, tem mais interesse.
Assim, mais pessoas começavam a querer fazer parte da comunidade para começarem a empreender. Entidades, empresas, profissionais autônomos e até o governo abriram os olhos – ‘aqui tem coisa boa’.
Se tudo funcionasse em sinergia seria ótimo, com vários players se ajudando mutuamente. Mas, na maioria das vezes isso acaba se tornando um desfile de problemas e conflitos de interesses.
O QUE É?
A ideia de uma comunidade empreendedora é justamente ter um grupo de pessoas interessadas no assunto que tenham por objetivo fortalecer o grupo com conexões e conhecimento. Em geral, busca-se que, com isso, o ambiente se desenvolva e fortaleça a economia, gerando potencial competitivo e atração de investidores, criando mais soluções para a comunidade, peso politico para defender interesses e captação de novos grandes profissionais para o local. De forma ilustrativa: é um imã gigante de coisas boas para empreender.
ISSO É INCRÍVEL! MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
Bom, como disse no início, tive a oportunidade de viajar pela América, conhecer vários ambientes, e no Brasil foram muitos mesmo, praticamente toda a cidade tem algum e, como fui em praticamente todos os estados, a amostragem é imensa.
Em resumo, a situação é que temos boas intenções de comunidade de empreendedorismo que rapidamente se misturam com interesses próprios, falta de senso do que é uma comunidade empreendedora e também baixo conhecimento para estimular o grupo.
É muito comum um ou outro empreendedor começar essa união de pessoas e usar suas expertises de negócio para juntar o grupo e gerar a famosa conexão. Nas primeiras vezes, tudo é muito animador e as coisas fluem bem, mas logo, duas coisas podem acontecer:
CRESCE
Mais pessoas surgem, mais interesses, alguns querem assumir uma liderança, outros querem manter tudo na horizontal, não se tem claro a razão principal e a partir daí muita coisa se perde.
TERMINA
As pessoas já se conhecem, buscam quem precisam por fora, para ajudar no que é específico, e quando chegam ao grupo não veem mais utilidade dele para seus fins profissionais. Afinal, não precisaram dele para chegar no ponto ou às pessoas que queriam, e as discussões passam a ser mais banais, não gerando valor, o que faz as pessoas acabem ficando apenas próximas de quem querem e não do grupo.
Sim, parece um tipo de filme que você olha e sabe que as coisas vão dar errado e fica triste, parece que não tem salvação. Estamos ainda aprendendo muito sobre isso. Apesar de termos entidades antigas de comércio, empresários e afins, precisamos de encontrar um novo jeito de pensar empreendedorismo, principalmente quando a Internet e startups geram uma necessidade de cooperação e agrupamento muito diferente do que já é habitual no país.
Aqui estão alguns pontos muito relevantes sobre as comunidades que você deveria saber:
GERE RELEVÂNCIA PARA A SUA SOBREVIVÊNCIA
As pessoas precisam extrair valor da sua comunidade para continuar lá.
NÃO É UM JOGO DE SOMA ZERO
Muitas pessoas pensam que para se darem bem, alguém precisa se dar mal.
O QUE AS COMUNIDADES EMPREENDEDORAS TÊM A VER COM PIQUINIQUES?
O problema do piquenique de apenas famintos é que se ninguém levar nada para comer, todos vão continuar com fome – as pessoas não vão apenas para receber coisas, elas precisam de oferecer também.
O que você agrega ao piquenique?
EGO
Escrevi uma crítica muito pesada sobre isso no meu livro ‘A Revolução das Startups’, pois quando voltei para o Brasil, depois de conhecer comunidades maravilhosas que geravam grande resultado para todos envolvidos, acabei notando aqui o maior problema: O EGO.
Quem é o dono?
Quem é a pessoa que criou e decide? quem vai dar a entrevista? quem será citado como o grande nome? Essas preocupações geram tanta disputa de quem quer, com quem não quer, que diversas outras coisas importantes são influenciadas por isso e MUITO se perde por causa desse cabo-de-guerra infinito. Esse fator torna impossível de criar uma comunidade de empreendedores. Na verdade ela acaba matando qualquer comunidade.
É muito difícil criar uma maturidade cultural em que as pessoas compreendam como lidar com isso, desde ter um ou mais porta-vozes da comunidade. Como até o uso de fazer parte disso, como um marketing que fortalece a comunidade, diferente daquele que apenas se aproveita para gerar retorno financeiro. Estes são pontos cruciais que têm dado problema nas comunidades brasileiras e que precisam ser debatidas de um jeito mais aberto, compreensivo e flexível.
E AGORA?
Eu seria um grande mentiroso se dissesse que sei consertar tudo isso. A ideia deste artigo era apenas contribuir para esta discussão, para que as pessoas interessadas no assunto reconheçam pontos de melhoria e tomem atitudes mais sensatas.
Acredito que dar sugestões sobre comunidades de Startups é muito mais difícil do que falar sobre as mesmas, visto que as variáveis são mais amplas, envolvem cultura e muita coisa. Portanto é uma discussão que precisamos ter mais vezes. O que fiz foi comparar muitas comunidades incríveis, com outras que estão entre ‘trancos e barrancos’ e apontar pontos a serem discutidos.
Acredito que se todas as pessoas lessem The RainForest, de Victor Hwang, o melhor livro sobre o assunto (o Startup Comunities de Brad Feld, também é um bom livro, mas o primeiro é obrigatório) entenderiam a importância das comunidades empreendedoras para dinamizar cidades e indústrias inteiras.
Veja o que uma das maiores sumidades mundiais em incubação e aceleração fala sobre o assunto:
Obs: como eu sei que tem poucos encrenqueiros chatos que não têm o que fazer e pensam: ‘quem é você para falar isso?’ Bom, eu conheci muito profundamente três comunidades das top 10 da América (Vancouver, Las Vegas e Santiago do Chile). Assim como no Brasil ajudei mais 10, conheci mais de 50, e já fui parte ativa de pelo menos três. Esses números, de forma alguma provam que sou o dono da verdade, mas que não sou uma pessoa que conhece apenas a sua realidade e a toma com veredito para o resto do mundo. Até porque aqui não tem vereditos, apenas observações que acredito poderem ajudar.