Construção mais sustentável exige mais do que certificações verdes

Relatório da ONU assinala progresso nas emissões do setor, mas especialistas defendem maior adoção de tecnologia inteligente

Foto de Jcomp em Freepik

O setor da construção registou, pela primeira vez desde 2020, uma estagnação nas suas emissões de CO2, de acordo com o mais recente relatório das Nações Unidas e da Global Alliance for Buildings and Construction. Intitulado Not Just Another Brick in The Wall: The Solutions Exist, o documento aponta para um potencial ponto de viragem rumo à descarbonização. Ainda assim, os especialistas alertam que este avanço poderá ser ilusório se não for acompanhado pela adoção real de tecnologias inteligentes que permitam monitorizar e otimizar o consumo energético em tempo real.

Donatas Karčiauskas, CEO da empresa de eficiência energética Exergio, sublinha que os atuais certificados ambientais “não sempre refletem reduções reais de emissões”. Para o responsável, as certificações baseiam-se, em grande parte, no design inicial dos edifícios, e não no seu desempenho energético contínuo. “Devemos perguntar se estamos realmente a avançar para edifícios neutros em carbono ou apenas a colecionar selos de eficiência sem impacto real”, questiona.

Embora o número de edifícios certificados continue a crescer em países da OCDE, a adoção de tecnologias de inteligência artificial, sistemas de controlo automatizado e sensores de dados permanece limitada a poucos mercados. Esta lacuna entre o potencial e a realidade levanta sérias dúvidas quanto à eficácia das atuais estratégias de descarbonização no setor.

Mercado da construção com crescimento moderado
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Segundo Karčiauskas, o centro comercial “Ozas”, em Vilnius, onde a Exergio conseguiu reduzir o consumo de eletricidade em quase um terço e o uso de energia para climatização em mais de 35% através de soluções baseadas em IA, é um exemplo da eficácia destas ferramentas. Para Karčiauskas, “o caminho para edifícios sustentáveis passa por sistemas que analisam continuamente dados de sensores, ocupação e meteorologia, ajustando automaticamente os consumos”.

O relatório defende também a atualização dos códigos de construção para incluir padrões mínimos de desempenho real e capacidades de interação com as redes energéticas. Contudo, o verdadeiro desafio está na implementação prática desses requisitos, onde a tecnologia terá de desempenhar um papel central.

A estagnação das emissões é um sinal positivo, mas insuficiente face à urgência da crise climática. A adoção de soluções tecnológicas em larga escala poderá ser o passo decisivo para que os edifícios deixem de ser apenas “certificados” como verdes e passem, efetivamente, a sê-lo.

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