Covidografia é o nome da plataforma de autoavaliação sintomática que constrói uma fotografia, anónima e confidencial, dos sintomas e da evolução do COVID-19 na população portuguesa. Através do rastreamento anónimo das redes de contágio em Portugal, esta plataforma tem o potencial de contribuir para uma saída mais eficaz da quarentena generalizada, e uma aceleração da retoma socioeconómica.
Plataformas semelhantes têm sido desenvolvidas em vários países – como Reino Unido, Israel e Estados Unidos da América. O objetivo é que esta informação possa ser utilizada pelas autoridades de saúde no sentido de ajudar a planear recursos e ações, bem como apoiar a comunidade médica e científica a compreender melhor a evolução do vírus.
No Reino Unido, por exemplo, foi realizado um estudo com inquéritos diários a 1,5 milhões de cidadãos, recolhidos através da aplicação de autoavaliação sintomática – COVID Symptom Tracker. De todas as pessoas testadas, 59% dos que revelaram resultado positivo, auto reportaram perda de olfato e/ou paladar, contra 18% das que testaram negativo. Segundo o estudo, este sintoma mostrou-se neste caso mais certeiro em prever a infeção do que a febre. Os investigadores conseguiram assim chegar a uma lista adicional de 50 mil pessoas com maior probabilidade de terem contraído a doença.
A Covidografia, permite a cada utilizador registar diariamente os seus sintomas, respeitando a sua privacidade e anonimato, ao mesmo tempo que permite visualizar, de forma agregada e em tempo real, o número de utilizadores com ou sem sintomas, que sejam casos suspeitos ou casos recuperados, infetados e quantos em isolamento, na sua área geográfica.
Apesar de estar em versão beta há apenas uma semana, já conta com mais de 50 mil portugueses inscritos. Esta forte adesão inicial é explicada em parte pela enorme facilidade de utilização, um dos focos centrais da equipa de voluntários do tech4COVID19 que criou a plataforma.
O professor Tim Spector do King’s College em Londres, explicou a importância deste tipo de plataformas num artigo recente no New York Times: “Gosto de comparar isto a um radar. Duas semanas antes das bombas caírem, nós podemos prever o que vai acontecer, não com base no que aconteceu na China, mas com base no que está a acontecer aqui. Isso é o que vai salvar vidas: o facto de que podemos planear antecipadamente onde colocar unidades de cuidados intensivos móveis.”
Quantos mais utilizarem a plataforma, mais útil será para todos
“Nesta fase inicial, o mais importante é a adesão em massa dos portugueses para que realmente este projeto possa ajudar a reduzir o impacto deste flagelo na sociedade portuguesa.”, refere Rui Costa, um dos voluntários que desenvolveu a Covidografia. “Foi já demonstrado noutros países que, utilizando aplicações móveis, é possível abandonar a quarenta generalizada de forma mais eficaz, acelerando a retoma social e económica. A nossa equipa estudou formas de rastrear redes de contágio que protegem a privacidade dos cidadãos, e estamos prontos a trabalhar com as autoridades para aumentar, de forma integrada, o alcance e as funcionalidades desta aplicação.”, explica Rui Costa.
De momento, a aplicação suporta registo através da conta Google ou Facebook. Contudo, de forma a garantir que nenhum cidadão fica impedido de utilizar a plataforma, está prevista a expansão gradual para outros métodos de autenticação. A utilização destas redes não compromete a privacidade dos dados dos utilizadores, conforme o Regime Geral de Proteção de Dados (RGPD).
O projeto insere-se no movimento tech4COVID19, que atualmente, tem em curso cerca de 30 projetos de apoio às mais diversas esferas da população, para ajuda no combate ao vírus.