Quando o empreendedor não tem juízo, o corpo é que paga. Ser responsável por todos os aspectos do seu negócio pode fazer disparar os níveis de stress. Se está a senti-los, é tempo de parar, reflectir e pôr em prática uma nova estratégia.
Passavam 20 minutos da meia-noite e na minha cabeça continuavam a aparecer os telefonemas que tinha para fazer, os e-mails que tinha de responder, as actualizações imprescindíveis ao meu site, os vários assuntos que não devia esquecer-me de falar com A, B e C. O despertador estava programado para tocar 5 horas depois. Sabia que tinha de dormir mas, enquanto o corpo me pedia que descansasse, a cabeça parecia querer continuar a trabalhar.
Na manhã seguinte tive dificuldade em perceber o que estava pior: a minha energia, a minha paciência, ou a minha memória. Ao olhar para o espelho e constatar que ia ter de investir na maquilhagem se queria ter um aspecto minimamente decente, lembrei-me da dica que a minha colega Salomé Ribeiro, sempre a par das mais recentes tendências sobre empreendedorismo, me tinha dado, falando-me do conceito de stress do ‘solopreneur‘.
Quando o negócio começa a crescer mas ainda não deu ‘o salto’ necessário para se tornar sustentável, há uma tendência para tentarmos fazer tudo sozinhos, com o objectivo de poupar recursos. Mas a verdade é que tentar acumular o trabalho de um CEO com os de administrativo, gestor de redes sociais, vendedor e empregado de limpezas, entre outros, acaba, mais cedo ou mais tarde, por ser demais para uma pessoa só.
Sim, eu já tinha sido avisada. Desde o primeiro dia que me tinham dito que ‘isso de ser empreendedor é muito bonito’ mas que eu ia ver como era difícil. Confirma-se. É mesmo. Principalmente quando pensamos que podemos ser empreendedores ‘a solo’, e carregamos nos ombros todo o peso da responsabilidade, agravado por vezes pela auto-exigência e, inevitavelmente, pelo stress.
Felizmente o ser humano é uma máquina (quase) perfeita, com sistemas de alerta personalizados. No meu caso, é a dor de cabeça que funciona como sinal de stop. Nesse dia parei mesmo. Não apenas para tomar um comprimido, mas para pensar sobre como posso – e como podem todos os empreendedores em situações semelhantes – ‘dar o salto’ sem comprometer a sua saúde. Aqui ficam algumas sugestões a ter em conta se, como eu, está a sentir os efeitos do stress de um empreendedor ‘a solo’.
Fazer o que tinha planeado dentro do prazo é importante, mas há que dar-se a oportunidade de falhar.
Reduza a auto-exigência
Os empreendedores são pessoas apaixonadas pelo que fazem e com uma enorme sede de cumprir objectivos. É a ideia de avançar com o seu projecto que os faz saltar da cama de manhã. Mas se um dia acordar e os seus objectivos profissionais forem o mais importante para si, atenção, alguma coisa não está bem. Fazer o que tinha planeado dentro do prazo é importante, mas há que dar-se a oportunidade de falhar. Estender um prazo ou ficar ocasionalmente aquém da meta almejada não é o fim do mundo. Se chegou ao ponto de se sentir constantemente preocupado, pense que o sol continuará a nascer e a pôr-se se você falhar. E você continuará a ser a mesma pessoa, porque não é o sucesso que o define.
Negoceie com o patrão: você!
Tire partido do facto de que passou a ser o seu próprio patrão. Afinal, agora tem flexibilidade de horários, pode marcar férias quando lhe der mais jeito e optar pelo teletrabalho. Então, porque é que continua a trabalhar como antes? Se tem filhos, fixe horários que lhe permitam desfrutar da vida familiar. Não negligencie também a sua vida conjugal. E de vez em quando pegue no portátil e vá mesmo trabalhar para uma esplanada.
Reconsidere os seus compromissos
Compromisso é compromisso e quando se assume é para cumprir. No entanto, se estivermos doentes não vamos com certeza conseguir manter a nossa palavra. Mais vale prevenir e ver até que ponto é que uma pequena alteração num compromisso pode, sem afectar substancialmente outra pessoa, melhorar a nossa qualidade de vida.
Vire as costas
O segredo para o seu sucesso como empreendedor é encontrar o equilíbrio certo entre trabalho produtivo e descanso produtivo. Só você pode saber qual é a dose certa de ambos que melhor resulta. Quando sentir que não consegue manter a atenção focada no que está a fazer, que o seu coração está a bater demasiado depressa, que não consegue parar de preocupar-se com um determinado aspecto do seu negócio, experimente simplesmente virar as costas. Sim, vá-se embora. Saia, vá caminhar, correr, estar com um amigo, durante um bocado. Mude de mindset para que o seu cérebro tenha oportunidade de se ‘reprogramar’.
Quando sentir que não consegue manter a atenção focada no que está a fazer, experimente simplesmente virar as costas.
Concentre-se no agora
O Poder do Agora é um livro que me acompanha há uns anos. Felizmente, quando o li pela primeira vez tive a presença de espírito de sublinhar as passagens mais importantes. Para mim, ler umas linhas do Poder do Agora equivale a uma sessão de meditação. Entro imediatamente num estado de consciência diferente. Concentre-se no agora, em vez de no que fez ontem, no que devia ter feito hoje ou no que tem de fazer amanhã e os níveis de stress vão baixar.
Divirta-se
Se a sua vida já só inclui obrigações, sejam profissionais ou pessoais, está na altura de repensar tudo. Experimente passar algum tempo com uma criança para se lembrar de como é a sensação de encontrar algo divertido em cada situação. Quando o trabalho começa a abafar o sentido de humor, há que ver um filme cómico, ir ao circo, ou mesmo fazer alguma coisa realmente ridícula como rebolar na lama com o seu cão. Não se leve tão a sério e tudo parecerá mais fácil.
Arranje ajuda
O dinheiro escasseia e o seu projecto ainda não é suficientemente rentável. Como pode então ‘dar-se ao luxo’ de contratar uma empregada para limpezas ou um administrativo? Na verdade, a pergunta que devia estar a fazer é como pode deixar de o fazer. Lançar um negócio é investir financeiramente, não apenas em recursos como matérias-primas ou máquinas ou distribuição, mas também em si. Como fundador do projecto, o seu know-how é decerto o activo mais valioso e insubstituível da empresa. Pôr em causa esse activo é estrategicamente errado. Proteger-se é proteger o seu futuro sucesso. Logo, a decisão correcta é contratar a ajuda de que precisa.