Empreendedorismo na Era da Quarta Revolução Industrial

Preparar o tecido industrial para os desafios da globalização.

A globalização tem colocado uma enorme pressão junto das equipas de desenvolvimento da indústria para desenvolverem mais depressa produtos mais competitivos, de forma a garantir que as suas empresas pelo menos mantêm a cota de mercado, a qual tem vindo a ser ameaçada pela entrada de novas empresas nomeadamente da Ásia (China e Índia).

De tal forma que esta pressão de desenvolver mais e mais depressa se tem vindo a intensificar sobre a indústria, que recentemente se assistiu a um movimento dentro da indústria para se aceitarem e promoverem as empresas tecnológicas do mesmo modo que o setor dos serviços o tem feito há décadas. A este movimento chama-se Indústria 4.0

A indústria 4.0 – ou quarta revolução industrial – centra-se na digitalização completa de todos os processos industriais, desde o design, fabrico, serviço pós-venda, até aos inquéritos de satisfação do cliente. Para compreender a indústria 4.0 é necessário primeiro compreender as três revoluções industriais que a precederam.

A primeira revolução industrial acontece por volta de 1784 com a introdução do motor a vapor para mecanizar os processos de fabrico mais pesados. Em 1870 surge a segunda revolução industrial com a introdução das passadeiras transportadoras alimentadas a eletricidade e a divisão da produção em postos de trabalho. Já em 1969 surge a terceira revolução industrial motivada pela introdução dos autómatos em linhas de produção, automatizando muitas das tarefas repetitivas que até aí eram executadas por operários.

A indústria 4.0 assinala o abrir de braços formal da indústria às empresas tecnológicas, constituindo um oportunidade dourada visto que o mercado tecnológico na indústria está na sua infância, ao passo que nos serviços já começa a se notar alguma saturação do setor. As oportunidades para as empresas tecnológicas dividem-se em quatro grupos:

  • Engenharia: utilização de tecnologias cloud, simulação e realidade virtual para desenhar e testar no computador todo o produto, desde cada peça até ao conjunto completo. A vantagem é que deixam de ser necessários dispendiosos e demorados testes físicos para terminar o desenvolvimento de um produto, visto que com as tecnologias de simulação em cloud se pode agora passar diretamente do virtual para a linha de produção;
  • Produção: a personalização dos produtos garantindo ao mesmo tempo as eficiências de fabrico em linhas produtiva implica um grande aumento da utilização de tecnologias de fabrico aditivas (impressão 3D) relativamente às tecnologias subtrativas (fresagem, torneamento, etc.). A vantagem da impressão 3D é que numa única operação fabrica-se a peça completa de forma muito mais controlada que no caso das tecnologias subtrativas onde são necessários vários passos;
  • Gestão da Produção: equipamentos industriais com inteligência artificial ligados à cloud de engenharia conseguem medir em tempo real os defeitos da matéria-prima e a variabilidade das condições de fabrico para fazerem ajustes em tempo real nos parâmetros de processo, garantindo produções com zero defeitos de fabrico. A vantagem é se eliminar o desperdício. Caso aconteça um problema numa linha produtiva, todo o sistema produtivo está ligado em rede permitindo redirecionar a produção de forma inteligente para outras linhas espalhadas pelo mundo, minimizando-se roturas de stock. Nas linhas produtivas apenas haverá operadores de supervisão que circulam na linha de produção unicamente para reparar algum problema que aconteceu em linha, sendo guiados no processo de reparação pelo computador de controlo através de óculos de realidade aumentada;
  • Pós-venda: as ferramentas de análise big data permitem obter um feedback detalhado e em tempo real da recetividade dos clientes a um novo produto bem como fazer anúncios personalizados de acordo com o perfil de cada cliente. As ferramentas de big data são mais precisas e eficazes que as ferramentas atuais de marketing onde existe bastante intervenção humana e que no final tratam todos os clientes por igual.As oportunidades na indústria 4.0 são vastas e permitirão às empresas tecnológicas abrir uma área de negócio paralela ao setor dos serviços com potencial de ser altamente rentável. Mas urge em Portugal se organizar um ecossistema de investimento específico para a indústria 4.0 conhecedor das particularidades do setor da indústria. Por exemplo, na indústria tem-se poucos clientes e um grande volume de faturação por cliente, ao contrário dos serviços que se têm muitos clientes com um baixo volume de faturação por cliente. Estas diferenças implicam que apesar de tecnologicamente as necessidades da indústria e serviços serem bastante semelhantes, do ponto de vista comercial e de gestão estes dois setores obrigam a estratégias totalmente diferentes.

Portugal tem uma longa tradição de uma forte indústria nacional capaz de produzir produtos de excelente qualidade mundial. A indústria 4.0 constitui a oportunidade para enfrentar os desafios da globalização com uma indústria forte, geradora de emprego e riqueza. Temos de nos organizar e desenvolver um sistema de empreendedorismo específico para a indústria 4.0

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