Muitas pessoas que se entusiasmam com projectos de cariz social acabam por abandoná-los por estes não oferecerem uma fonte de rendimento suficientemente sólida para suprir as suas necessidades. A verdade é que uma pessoa que está distraída por preocupações financeiras não consegue dedicar-se a um projecto social. Quem é que pode passar 5 dias por semana a trabalhar para o bem dos mais desfavorecidos quando o seu objectivo imediato é pagar a renda ou alimentar os filhos?
Então, deve o empreendedorismo social ser deixado a cargo de instituições sem fins lucrativos e com os seus próprios meios de financiamento, ou de pessoas endinheiradas com propósitos filantrópicos? Não. O mundo precisa desesperadamente de mudança e quanto mais pessoas se envolverem nesse movimento mais hipóteses haverá de conseguirmos enfrentar os colossais desafios que se colocam.
Espécies em extinção, alterações climáticas, desigualdades, sexismo, racismo, pobreza, fome, guerra, poluição, ameaça nuclear, violência, corrupção, violação da privacidade, sistema educativo deficiente, toxicidade dos alimentos, privatização de recursos da comunidade, desrespeito pelos direitos dos animais, são apenas alguns entre um sem-número de problemas que requerem a nossa atenção urgente.
Face a estes desafios, a solução talvez esteja em encarar o empreendedorismo social com outros olhos. Cada pessoa é um potencial empreendedor e pode decidir dedicar o seu tempo e energia ao desenvolvimento de uma actividade lucrativa que contribua para a resolução de um ou mais destes problemas. Aqui, o foco está sobre a palavra ‘lucrativa’. Afinal, quem disse que ganhar dinheiro com o desenvolvimento de um negócio na área social tem de ser mal visto? Quem disse que não se pode ter um negócio que ajude a mudar o mundo e ganhar dinheiro pelo caminho? Na verdade, o dinheiro é apenas um meio de troca, e o que interessa é a qualidade, a inovação e a utilidade do serviço que prestamos para o ganhar.
Alguns autores estão a defender que as actividades que mais contribuem para o bem-estar da humanidade devem ser melhor recompensadas. Nesse caso, fará sentido pensar, como o sistema instituído nos ensina, que não devemos pedir nada em troca de fazer a paz, cuidar de alguém, ensinar, alimentar quem tem fome, lutar contra a injustiça, desenvolver a espiritualidade humana ou ajudar alguém a ter estabilidade emocional? Existe no mundo um enorme fluxo de capital a circular, o suficiente para resolver todos os problemas. O que temos de fazer é canalizar esse capital para o que mais importa.
‘Be the change you want to see in the world’
(Gandhi)
Seja um fazedor de mudança
O lucro no empreendedorismo social é de facto um tema interessante. Algumas pessoas defenderão que é legítimo desde que sirva tão só para garantir a sustentabilidade do projecto. Outras não vêem nada de mal em que uma pessoa seja extremamente bem paga desde seja um ‘fazedor de mudança’.
Ser um fazedor de mudança significa dar um propósito a tudo o que faz. Não precisa de fundar uma ONG, de se tornar um autor conhecido ou de inventar o melhor produto para combater os males do mundo. Pode ser um simples empregado numa loja ou num armazém, ou pode ser o fundador de uma micro-empresa. Desde que faça o que faz com um profundo propósito de serviço, já estará a contribuir para a mudança.
Esta atitude, de inquestionável dedicação ao bem dos outros, de serviço, é a questão fulcral. O empreendedor social é uma espécie de fazedor de mudança profissional, no sentido em que encontra a sua vocação e coloca-a ao serviço de um projecto que contribui para o bem da comunidade.
Se não tem grande simpatia pelas teorias mais ou menos esotéricas que defendem que estamos todos destinados a desempenhar um determinado papel no mundo, acredite, eu compreendo e concordo consigo. Mas a verdade é que muitos empreendedores sociais testemunham que ao desenvolverem os seus projectos encontram o propósito das suas vidas e o seu lugar na ‘ordem das coisas’.
Poder-se-á sugerir então que o que verdadeiramente distingue o empreendedorismo social é esta atitude de serviço que os fazedores de mudança adoptam, e não o facto de não ter fins lucrativos (ou tê-los apenas para garantir a sua sustentabilidade).
Cultivar o amor pelo próximo, a compaixão, o respeito e a integridade. Ser um membro responsável da comunidade, da família e do ecossistema em que está inserido. Acreditar que é possível criar um mundo melhor e identificar as oportunidades para fazê-lo. Estes, sim, devem ser os critérios que distinguem o empreendedor social.