Empreender: Um casamento para toda a vida

Foto de Saeed Sarshar no Unsplash

“Eu, recebo-te por meu negócio e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida”.

Esta bem podia ser a promessa que qualquer empreendedor devia assinar quando decide começar o seu negócio. Evidentemente, não seria garantia que não houvesse um posterior divórcio ou até viuvez, mas certamente impediria muitas ideias extraordinárias de serem descartadas às primeiras dificuldades.

Nos dias que correm, “empreendedorismo” já se tornou praticamente um palavrão, odiado pelos verdadeiros empreendedores. Banalizou-se desde os tempos do Miguel Gonçalves, que no rescaldo da crise de 2008, incitava as pessoas a empreenderem, a “bater punho” para encontrarem o seu lugar no mercado.

Daí até agora, o mundo acelerou muitíssimo, as redes sociais, que parecem existir desde sempre, surgiram em Portugal e dominaram. Muitos empreendedores digitais nacionais e estrangeiros prometem resultados financeiros extraordinários em meses, faturação de 7 dígitos (100.000€ ou mais) em 6 dias!

Muitas pessoas acreditam, sem ver todo o trabalho, todo o conhecimento prévio dessas pessoas, todo o contexto. Esperam que empreender – nos meios digitais ou não – seja rápido. Querem começar a ganhar dinheiro antes mesmo de validarem se existe um mercado disposto a pagar um valor justo por aquilo que querem vender.

E quando percebem que, afinal, empreender não é o caminho mais rápido e certeiro para ficarem ricos amanhã, que vão ter mesmo de trabalhar horas incansáveis, de dar voltas à cabeça e à lista de contactos para ultrapassarem os obstáculos constantes, cansam-se, aborrecem-se e desistem.

Empreender demora mais do que ver um timelapse acelerado num reel ou no TikTok. Mas muitos não têm paciência para isso, procuram resultados rápidos. Esquecendo-se de que o que conta não é apenas o sucesso que vão ter daqui a 6 meses, mas a vida que construirão nos próximos 10, 20, 30 anos.

Não se dão conta que aquela ideia de negócio pode ser trabalhada e transformada com tempo, estudo, paciência e sobretudo, compromisso, para que se torne no sucesso que tanto procuram.

Foto de Ian Schneider no Unsplash

Um compromisso para o sucesso

Compromisso é a palavra-chave do sucesso, lado a lado com constância. O oposto de saltitar de ideia em ideia, deixando tudo por fazer.

Para ter mais hipóteses de sucesso, criar uma empresa devia ser considerado com o mesmo compromisso do que casar, às vezes até maior. Se não, vejamos:

Quando decidimos ser fiéis ao nosso negócio, estamos a comprometer-nos a permanecer com ele, mantendo o foco e renunciando a outras ideias brilhantes que se possam querer intrometer na nossa relação. Claro que, não temos de ser necessariamente monogâmicos a vida toda, mas para arrancar um negócio do papel, convém que haja uma dedicação exclusiva durante tempo suficiente.

Para sermos capazes de amar e respeitar o nosso negócio, precisamos também de ser capazes de nos amar e respeitar a nós mesmos. Como Arianna Huffington nos lembra, cuidar de nós mesmos não é tirar tempo ao trabalho: faz parte do trabalho! Porque sem estarmos bem, não conseguimos ser produtivos, nem tomar as melhores decisões para o nosso negócio.

Na alegria e na tristeza, que é como quem diz, com ou sem motivação; quando achamos que somos os maiores e vamos conquistar o mundo, e quando achamos que somos uma farsa e que ninguém devia confiar em nós. Quando achamos que o nosso negócio vai transformar a vida das pessoas, e quando o medo e a frustração gritam tão alto que nos esquecemos de porque é que nos metemos naquilo, que afinal, nem faz sentido nenhum.

Na saúde e na doença, sim, porque os negócios, especialmente os que estão a iniciar, são como as crianças: quando vão para a escola [da vida], entram em contacto com mais pessoas do que apenas aquelas que as criaram, e apanham todo o tipo de viroses. Passam a vida doentes e é preciso andar sempre a tratar deles, a perceber que tipo de remédios funcionam em cada situação.

É preciso melhorar a proposta de valor ou a divulgação, para vender mais? Para aumentar a rentabilidade, é possível reduzir os custos ou precisamos de mais clientes ou de aumentar o tempo de vida de cada cliente atual? É mesmo preciso contratar ou é melhor fazer uma revisão dos processos e gestão de tempo vigentes?

Todos os dias da nossa vida… Pois é, porque mais uma vez, ter um negócio é como ter um filho. Não importa se estamos a trabalhar, a dormir ou na praia a apanhar sol, há sempre um sentido de responsabilidade, uma preocupação latente, que umas vezes quase grita na nossa mente e outras vezes é como o ruído de um motor, que só notamos que está lá, se alguma vez ele se desligar.

Foto de Carl Heyerdahl no Unsplash

Lembro-me nitidamente de “ouvir” o silêncio na minha cabeça da última vez que fechei um negócio que tinha corrido francamente mal. A onda de alívio que me inundou nesse momento. E ainda assim, hoje vejo que, mesmo esse negócio que começou errado de todas as formas possíveis, poderia ter sido transformado e curado, tivéssemos – eu e o meu sócio – tido o conhecimento, a paciência, o dinheiro e a orientação para o fazer na altura.

Não quero com isto dizer que nenhuma ideia de negócio deva ser descartada, que nenhuma empresa deva ser fechada!

Há ideias que realmente após alguma validação, não têm futuro nenhum. Empresas que deixaram de fazer sentido pela mudança dos tempos… Porém, há também empreendedores que sabem virar o jogo e transformar o que não funciona, as vezes que forem precisas até terem uma empresa de sucesso.

Não fosse assim, não teríamos hoje Netflix, por exemplo. A empresa começou em 1997, como um serviço de envio de filmes em DVD pelo correio, uma Blockbuster mais chique, porque não era preciso sair de casa para alugar o filme. Quando o streaming começou a ganhar força, a Netflix podia ter tido o mesmo destino que a sua predecessora e fechado as portas, mas não o fez. Batalhou e reinventou-se e só teve lucro pela primeira vez, 6 anos depois, tendo atualmente um lucro de milhões.

Portanto, num mundo que peca pela procura do instantâneo, é preferível apelar ao duradouro e pecar pelo excesso de tentativas.

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Inês Petiz começou a empreender em 2005, com 19 anos, quando ainda nem sabia o que era o empreendedorismo. Juntamente com o seu sócio, Helder Vilares, criaram e faliram as primeiras empresas tão distintas como uma Loja de Informática, um Estúdio de Design de Comunicação e um Bar Lounge na praia. Após vários anos de aprendizagem e muito baterem com a cabeça na parede, sem encontrarem quem os orientasse na direção correta, em 2017, criaram o Synergy Porto - Escola de Empreendedorismo e cowork. No Synergy, ensinam e apoiam empreendedores no processo de começarem os seus negócios, para que o façam com método e consistência e aumentem as suas hipóteses de sucesso. Fazem-no através de mentorias, cursos online, ebooks e eventos dedicados a empreendedores, além de disponibilizarem um espaço de trabalho, no Porto.

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