Vivemos numa sociedade que associa de forma enganosa conceitos como a “inovação” ou “agilidade” à juventude e isso supõe uma discriminação negativa pelo fator idade, todavia, a experiência de vida pode ser muito atraente para as empresas.
O crescente processo de digitalização empresarial fez com que começássemos a vincular competências com conceitos geracionais, mas a idade nunca determina o nível de desempenho num posto de trabalho. Lembre-se que Ronald Reagan e François Mitterrand foram chefes de estado setuagenários e ficaram nos livros de história, assim como tantos empresários, médicos, advogados e consultores de topo que exercem funções de elevada complexidade e abrangência até idades próximas dos 75 anos.
Segundo uma investigação científica, a correlação entre a idade e o desempenho laboral é praticamente zero, pelo que a idade nunca deveria ser um critério de discriminação. No entanto, um outro estudo evidencia que 30% dos profissionais com mais de 45 anos reconhecem já ter sido preteridos pelo fator idade.
Ao longo dos períodos críticos da pandemia, em que um vasto número de profissionais perdeu o emprego, cerca de 25% dos novos desempregados tinha mais de 50 anos. A taxa de desemprego dos profissionais com mais de 50 anos cresceu cerca de 15% durante essa altura, enquanto nos profissionais entre os 25 e os 49 anos aumentou apenas 2%.
Cerca de 70% dos cidadãos dos EUA que perderam o emprego durante a pandemia tinham mais de 55 anos. No Reino Unido a taxa de emprego dos profissionais com mais de 50 anos caiu o dobro dos profissionais com idades entre os 25 e os 49 anos ao longo da crise pandémica.
sobrevalorizamos o valor da juventude e desprezamos competências que nenhuma escola ensina
A geração de mais de 50 anos sente-se presentemente excluída pelo sistema instituído que não sabe aproveitar a sua experiência. Estes profissionais quando perdem o emprego têm bastante dificuldade em voltar ao mercado de trabalho porque a maioria dos empregadores consideram que são muito caros, que já não irão render tanto e que não estão atualizados, esquecendo-se da atitude dos mesmos perante o trabalho fruto da sua vasta experiência.
Há também a crença que os profissionais seniores são menos inovadores, o que não corresponde à verdade, dado que é facilmente demonstrável que os Empreendedores com mais de 45 anos têm três vezes mais probabilidades de criar empresas de êxito em virtude da sua natureza paciente e colaborativa.
Portugal e Espanha são dos países mais envelhecidos do mundo, detêm uma pirâmide demográfica invertida, já têm mais pessoas seniores do que jovens, e os maiores de 50 anos irão ser o grosso da força laboral nos próximos 10 anos.
Um trabalhador sénior com a experiência e capacidade de se atualizar em permanência tem o mix perfeito de qualidades basilares para o mundo empresarial – sem esquecer que a capacidade de compra deste target gera mais de 25% do PIB nos países do Sul da Europa.
Concluindo, sobrevalorizamos o valor da juventude e deixámos de valorizar algumas competências como a capacidade de resistência, a humildade, a adaptação à mudança, a aceitação da frustração, coisas que só a experiência proporciona e que nenhum master nem escola de negócios ensina.
Hoje, um profissional com 60 anos poderá estar na plenitude das suas capacidades e a exercer as funções mais complexas que alguma vez teve. Concorda?