Um estudo de âmbito europeu revelou que mais de metade dos cidadãos da União Europeia (UE) participam ativamente na transição energética, mas existem significativas diferenças entre países e diversos obstáculos impedem um impacto mais expressivo. Portugal é destacado como o país com mais entusiastas pela transição energética, representando cerca de 50% da população.
O inquérito, parte do projeto de pesquisa GRETA (Green Energy Transition Actions) do programa Horizonte 2020, indica que aproximadamente 60% dos cidadãos europeus participam ativamente na transição energética, envolvendo-se em ações como poupança de energia, investimento em tecnologias verdes e apoio a soluções sustentáveis. Por outro lado, cerca de 40% dos cidadãos europeus são categorizados como indiferentes, céticos, condicionados ou imaturos, representando uma parcela que necessita de maior apoio e sensibilização.
A pesquisa analisou a atitude de aproximadamente 10.000 participantes em 16 países da UE, identificando o comportamento dos cidadãos em relação à transição energética. Entre estes, os portugueses destacam-se como os mais entusiasmados pela adoção de práticas sustentáveis e pela participação ativa em iniciativas de energia verde.
O estudo identificou oito perfis distintos entre os cidadãos europeus, variando na forma como participam ativamente na transição energética, nas atitudes, motivações e recursos relacionados com iniciativas sustentáveis. Os perfis vão desde indiferentes até conhecedores e decididos. A análise mostra que 58% dos cidadãos da UE, agrupados nos últimos quatro perfis, são considerados “ativos” ou “empenhados” na transição energética.
Ajesh Kumar, Investigador Júnior na Universidade LUT, na Finlândia, destaca a necessidade de abordagens não convencionais para envolver tanto os já sensibilizados quanto os negligenciados, enfatizando a importância de políticas que promovam, apoiem e criem condições financeiras para a transição energética.
O estudo sublinha a importância da criação de legislação adequada, citando o exemplo de Portugal, que implementou alterações ao regime de autoconsumo de eletricidade renovável em 2019. Essas mudanças facilitaram a formação de comunidades de energia renovável e o desenvolvimento de práticas individuais e coletivas de autoconsumo de energia.
“O governo português introduziu em 2019 modificações ao regime de autoconsumo de eletricidade renovável. Conseguiu, desta forma, apoiar a criação de comunidades de energia renovável, autoconsumo de energia individual e coletiva, bem como a troca direta. Trata-se de um bom exemplo de implementação por parte de um Estado Membro de um quadro regulamentar derivado da Diretiva de Energia Renovável da UE de 2018”, afirma a professora assistente na Universidade LUT, Annika Wolff.
O estudo também revela que mais de 60% dos cidadãos da UE concordam que a transição energética é uma responsabilidade conjunta, mas as oportunidades de participação não são uniformes. A falta de conhecimento, restrições financeiras e uma atitude individualista são apontadas como os principais obstáculos.
Os autores reforçam a necessidade de estratégias inclusivas, envolvendo soluções digitais e programas que promovam a participação de comunidades digitais na transição energética. Portugal, como líder neste cenário, destaca-se como um exemplo positivo de engajamento e adesão às iniciativas sustentáveis na UE.