Fazer ou não fazer networking – eis a questão!

Recordo com saudade aquela tarde de Junho de 2008, na qual participei, pela primeira vez, num evento de networking, num prestigiado hotel da zona nobre de Lisboa. Algo inovador em Portugal, um conceito importado dos Estados Unidos – o After Work Business Party!

Uma experiência que ficou, em jeito de marcador somático, fazendo a ponte com as neurociências! Um conjunto de pessoas que se encontraram, ao final do dia, para partilharem e trocarem informações e contactos. De uma forma mais ou menos organizada, com um discurso mais um menos estudado. Algumas pessoas até com cartões de visita – que se afixavam à entrada num placard de cortiça, para anúncio dos participantes. Outros, sem qualquer identificação…

Volvidos estes anos, registaram-se mudanças. No próprio conceito de networking, utilizado com um evidente desgaste (e já não como buzzword) e na organização de (excessivos) eventos, que teimam em fazer sobreposição na nossa agenda, mas que de networking têm apenas o nome. E muitos profissionais a continuarem a frequentar eventos sem cartões de visita… Importa profissionalizar o networking!

A vontade de dominar esta problemática do networking, de o fazer de uma forma estruturada e pensada, levou-me a investigar cientificamente o tema. E surge uma dissertação de mestrado em Marketing subordinada à análise qualitativa sobre a relação existente entre os conceitos de networking e de Marketing pessoal. E findava o ano de 2011.

De volta a 2016. Na sociedade de conhecimento em que vivemos, networking e Marketing Pessoal são conceitos muito atuais, a julgar pelo crescente número de iniciativas que têm surgido a nível global. Verifica-se que os portugueses são early adopters, não só pela utilização e adaptação no mercado português de conceitos e plataformas já testados internacionalmente, como também no desenvolvimento de iniciativas próprias (empreendedorismo 100% português), tanto a nível presencial (na organização e participação em workshops e eventos, por exemplo), como online (nas designadas redes sociais e plataformas de colaboração).

Tem-se registado um crescente número de iniciativas subordinadas ao tema do networking e também de utilizadores, a nível internacional e nacional, em iniciativas de carácter presencial (Ignite Portugal, Toastmasters Portugal, TEDx Lisboa, Professional Women´s Network – PWN – Lisbon, por exemplo) e em plataformas eletrónicas (Linkedin, Facebook, The Star Tracker, Opprtunity.com, Meetups, por exemplo), que potenciam a obtenção dessa visibilidade e reconhecimento pessoal.

Falar de networking implica falar de Marketing Pessoal, na perspetiva de que este é um marketing de referências, de word of mouth e de partilha, resultante das relações que se criam e que são fortalecidas social e profissionalmente, tendo em vista a ‘qualidade dos relacionamentos’. Cada indivíduo deve definir se quer ser encarado como líder ou como participante nos círculos de influência nos quais se insere.

Por isso, defendo que para se ser um networker é preciso ‘estudar’; há um processo, uma aprendizagem que pode conduzir a uma boa performance. Para Naisbitt (1988), networking é um verbo, pois é um processo dinâmico, através do qual as pessoas comunicam, partilham ideias, informação e recursos – obtendo empowerment. Misner (2000) refere-se a este processo como givers gain, que tem subjacente a lei da reciprocidade que sustenta as relações mutuamente benéficas: saber dar, saber receber e saber agradecer.

Torna-se necessário, em termos de Marketing Pessoal, estar presente (visível para os outros) e preparado para este desafio – tendo uma marca pessoal estruturada e que seja valorizada, permitindo a obtenção de benefícios de caráter pessoal e/ou profissional. Ser networker dá trabalho mas também visibilidade, entre outros benefícios.

Em jeito de resumo, as questões de investigação que coloquei evidenciaram que:n(1) o networking é utilizado, consciente e objectivamente, como ferramenta de marketing pessoal; (2) os indivíduos têm uma clara noção da importância da sua marca pessoal (Personal Brand); (3) existem motivações subjacentes ao desenvolvimento das actividades de networking; (4) há características, competências e valores pessoais associados ao perfil pessoal de um networker; (5) os indivíduos criam, mantêm e actualizam as suas redes pessoais para atingirem determinados objectivos (pessoais e/ou profissionais); (6) existem benefícios reais que os networkers têm retirado das suas actividades; (7) existem várias ferramentas de networking (presenciais e online) utilizadas por networkers portugueses.

Como partilha final deixo a frase ‘It’s not who you know, but who knows you!’ de Jeffrey Gitomer, um prestigiado autor que recomendo a todos aqueles que investiram alguns minutos do seu tempo a ler estas reflexões.

KEEP CALM & DO NETWORK

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Curiosa e de espírito empreendedor, Rita é Chief Energy Officer & Founder da ONYOU – Empowering & Learning Experiences, desenhando e implementando projetos de facilitação, formação e mentoring, com ênfase no desenvolvimento de soft skills (principalmente liderança, comunicação e empreendedorismo). É também professora no ensino superior (Universidade Católica de Lisboa) e no ensino profissional, na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril.

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