Fundação INATEL cria oportunidades de negócio com franchising social

Qual é a diferença entre um franchising social e um franchising comercial?nO projeto de franchising social da Fundação INATEL tem em mente fazer com que desempregados de longa duração e jovens à procura do primeiro emprego possam vir a criar o seu próprio negócio com regras muito específicas que a própria Fundação estipula aquando da criação dos projetos. As diferenças entre este projeto e um franchising comercial têm muito a ver com, em primeiro lugar, os valores que nós não pedimos à cabeça a nenhum dos franchisados. Os franchisados não pagam valores de entrada. Suportam as obras e os materiais.

Em relação às instalações, os espaços são arranjados pela Fundação e normalmente são cedidos sem custos para o franchisados. Depois, não temos como é habitual nos outros franchisings, fees elevados. O nosso único fee é ao fim de dois anos e é muito baixo (só se existirem lucros no projeto e esperamos sempre que sim) para que a própria entidade possa dinamizar projetos sociais e para que quem nos cede o espaço possa ter alguma contrapartida.

Pode dizer qual é a percentagem desse fee?nEle varia de projeto para projeto mas normalmente são cerca de 2% sobre os lucros nalguns casos e depois em valor bruto relativamente à renda também 2% para quem nos cede o espaço. Portanto são valores claramente mais baixos. Nós damos – mas também isso acontece nos franchisings normais – formação aos franchisados, e temos uma marca forte por trás, que é a marca da Fundação INATEL.

kantina
nNa imagem: Kantina

E essa formação é uma formação tradicional ou tem alguma preocupação especial pelo facto de se tratar de um franchising social e ser direcionada para pessoas desempregadas de longa duração?nTem. É uma formação que não deve ser muito comum. Nunca participei em ações de formação de franchising normal mas, porque o projeto é social, conseguimos agregar várias entidades que colaboram connosco, nomeadamente o Instituto de Emprego e Formação Profissional, a Santa Casa da Misericórdia, a Câmara Municipal de Espinho, entidades bancárias… E todas estes organismos vão falar nesta formação. Vão falar relativamente a ajudas concretas que possamos dar aos franchisados. E estas instituições não podem naturalmente acorrer aos vários franchisings e às várias ações de formação que normalmente se realizam.

Têm alguma entidade ligada ao empreendedorismo entre essas instituições?nA CASES, Cooperativa António Sérgio, está ligada de facto ao empreendedorismo. Nós temos o caso da Santa Casa da Misericórdia e Banco de Inovação Social, que também está relacionado com o empreendedorismo, e depois temos nos nossos parceiros outras entidades que vão fazer com que os nossos franchisados vão pagar valores idênticos àqueles que a Fundação INATEL paga. Nós temos uma rede de 17 unidades hoteleiras e como tal compramos a preços mais baixos que os do mercado. E os nossos preços vão ser disponibilizados aos nossos franchisados. Este é um ponto importante para quem adere aos projetos de franchising, porque adquire o produto ao preço que uma cadeia grande está a adquirir.

n‘Todos os projetos da Fundação INATEL podem ser claramente replicados’

nPorque é que decidiram envolver-se nesta área do franchising social? De onde é que veio essa ideia? Sei que noutros países este conceito já é muito comum, mas em Portugal nem tanto…nEm primeiro lugar nós temos uma direção de inovação social que está a trabalhar não há muitos anos, o que significa que temos projetos provavelmente inovadores. Depois, dadas também algumas das dificuldades que as pessoas sentem nos dias de hoje, nomeadamente o desemprego, as instituições tendem a ajudar de outra forma. Se nós temos toda a gente empregada não precisamos de recorrer a mecanismos de fomento ao emprego; se não é assim, tentamos melhorar um pouco. Não é com a nossa ajuda que se vai melhorar tanto assim, mas se todos ajudarem da mesma forma…

Os nosso projetos podem ser claramente replicados, todos os projetos da Fundação INATEL. Se qualquer outra instituição nos pede elementos sobre como estamos a trabalhar nós temos muito gosto em entregar todos os elementos, de forma a que possam replicar o trabalho, fazer iniciativas idênticas, o que significa que podem replicar mais o número de postos de trabalho, que é o que se pretende.

nNa imagem: INATEL Viagens

Tinham na vossa equipa alguém com experiência nesta área do franchising social ou foram lá fora procurar experiência nesta área?nNão, não tínhamos nenhum elemento que trabalhasse em franchising social, mas o próprio presidente da Fundação, que já foi Secretário de Estado, é uma pessoa muito ligada às áreas sociais e foi um dos elementos que mais nos incentivou a que o projeto tenha uma expressão maior do que por vezes outros que fazemos. Claro que verificámos experiências internacionais, contactámos com instituições.

Ultimamente deu-se o percurso inverso, de uma instituição romena que está a fazer um projeto idêntico ao nosso e quis aprofundar, foi até ao nosso restaurante, percebeu, nós explicámos… mas muitos destes elementos são pioneiros. Verificámos como é que o franchising é executado nos vários países, e mesmo em Portugal o franchising mais tradicional, mas depois tentámos seguir claros traços de programa social.

Na área social a Fundação INATEL tem 80 anos e, se não tinha um projeto de franchising social, a nossa experiência social demonstra que trabalhamos com todos, mesmo na área do turismo sénior, não apenas com quem tem carência económica. Agora, quem mais ganha, mais paga. Se temos esta forma de pensar relativamente aos nossos projetos, ainda mais assim é no franchising social.

Mas então poder-se-ia dizer que, tal como o turismo sénior está aberto para todos, também o franchising social poderia ser aberto a pessoas com outro tipo de desvantagens que não apenas a questão do desemprego. Pessoas com recursos limitados, imigrantes, todos os grupos minoritários… Veem-se a alargar essa disponibilidade a outros grupos tão ou mais necessitados?nÉ verdade que a nossa área fundamental relativamente ao franchising foi mesmo as pessoas desempregadas. E é verdade que dentro dessas pessoas desempregadas nós não escolhemos se por exemplo é uma pessoa com deficiência e incapacidade permanente. É certo que não tivemos nenhum cidadão com deficiência e incapacidade a concorrer ao projeto, mas se tivéssemos teríamos integrado essa pessoa dentro das possibilidades, da mesma forma. Podem existir outros grupos mas em primeiro lugar estão as pessoas desempregadas porque são as que têm disponibilidade para estar em frente dos espaços. Agora, os grupos alvo mais vulneráveis e desempregados esses, claro que sim, aquando da seleção se tivessem aparecido teríamos tido muita atenção. Aliás incentivamos os nossos franchisados a acolher estas pessoas com mais dificuldades. É certo que por vezes em termos de colaboradores dos espaços eles têm nalguns casos pessoas com incapacidade.

Quais são os programas na área social da Fundação INATEL que estão ligados ao empreendedorismo?nLançámos o projeto de Franchising Social que tinha duas componentes. Uma relacionada com a restauração, da qual abrimos o primeiro espaço em Lisboa no Palácio da Independência, junto do Rossio, e que foi um projeto pioneiro e do qual vamos arrancar no Porto ainda neste Verão com o segundo projeto em instalações nossas na nossa agência na rua do Bonjardim.

Por outro lado temos em Espinho um projeto na área do turismo que se designa por INATEL Viagens e que é um projeto similar às nossas agências de viagens. Nós temos agências e lojas espalhadas por todo o país e portanto replicámos o modelo e lançámos este projeto-piloto com a colaboração da Câmara Municipal de Espinho, assim como o de Lisboa contou com a colaboração da Associação para a Independência Histórica de Portugal, que nos cedem os espaços.

Mas dentro do franchising social temos um outro projeto que já está com portas abertas, também em etapa piloto, que se designa por Mesa Portuguesa. É um projeto de catering, que nalguns espaços poderá acolher também restauração, poderá acolher quem queira usufruir das refeições no próprio espaço, e que está a trabalhar neste momento em Alvalade, no nosso restaurante do Parque de Jogos 1.º de Maio.

nNa imagem: Mesa Portuguesa

Em que fase estão todos estes projetos? Já estão a começar a replicar ou ainda estão na fase de avaliação?nEstamos na fase de avaliação. Queremos começar com o Porto, e depois do Porto… podemos ter já a experiência de Lisboa, que tem já um ano e diz-nos que o projeto tem pés para andar e pode ter continuidade porque a alimentação tem sido do agrado genérico das pessoas, trabalhamos com o Chefe Hélio Loureiro que cria pratos de gastronomia portuguesa de várias regiões do país. Em cada dia da semana temos uma região e se vamos à segunda apenas podemos consumir produtos de entre Douro e Minho, à terça da Estremadura, à quarta do Alentejo, e por aí fora porque atingimos também o Algarve, os Açores e a Madeira nesta ementa sazonal que vai rodando. E já tivemos outras duas regiões que foram retiradas.

O conceito do restaurante tem muito a ver com o pão. Os pratos são servidos, muitos deles, em pão, quer sejam sopas quer sejam pratos regionais. É assim que temos este mesmo projeto agora em Lisboa mas queremos analisar e entendemos que o ideal é abrir o Porto para vermos se num outro espaço também vai vingar e aí, se vingar, replicá-lo noutras regiões do país.

Como é que reage a algumas críticas que surgem hoje em dia relativamente à questão do empreendedorismo, de pessoas que dizem que o empreendedorismo está a ser sugerido como uma solução miraculosa para toda a gente, e que isso traz muitos perigos para as pessoas que se aventuram neste caminho em que o mais certo é o insucesso?nÉ verdade que ser empreendedor em Portugal, como noutros países, é sempre um risco. É mais fácil termos um emprego e recebermos um salário mensal e não arriscar. Ser empreendedor não é para toda a gente e por vezes podem estar a incentivar-se pessoas a aderir a projetos que porventura não tenham sucesso.nEu acho que todos os projetos de empreendedorismo que existem dão mais de si, e das instituições que os desenvolvem, do que apenas servem para divulgar as próprias instituições. Porque isso também pode acontecer. Os projetos de empreendedorismo, como estão muito em voga, também divulgam bem as instituições.

n‘Os projetos de empreendedorismo, como estão muito em voga, também divulgam bem as instituições.’

nDe facto, não é difícil dar conta do que se faz nas áreas do empreendedorismo, a comunicação social está ávida, porque também quer de alguma forma ajudar a que os seus leitores, ouvintes ou telespectadores possam ter soluções. E isso faz por certo com que os projetos que aparecem sejam bem escutados. Verificámos isso na área do franchising social. Fomos mais escutados neste projeto do que em muitos outros. Até porque era uma novidade e isso traz apetência porque a comunicação social procura projetos que não sejam mais do mesmo. E portanto, como dizia, é naturalmente as instituições pensem que são projetos que também as podem fazer entrar nos meios de comunicação. Agora, o que é uma realidade é que as instituições também trabalham muito para estes projetos.

Este projeto de franchising social provavelmente deu à Fundação INATEL em termos de ocupação de tempo das pessoas que temos na Direção de Inovação Social um tempo de trabalho maior, muitas vezes, do que grande parte dos nossos projetos. Porque não se pense que trabalhar com desempregados é fácil. É muito complicado. Porque são pessoas mais voláteis que num momento estão a trabalhar connosco mas se lhes surge uma outra perspetiva de trabalho rapidamente nos deixam. Mas é natural que seja assim, eu se estivesse desempregado provavelmente também agiria da mesma maneira. A situação é grave e a pessoa tem que acorrer onde rapidamente lhe acenam. Tivemos desempregados em formação que a dado momento saíram.

Agora, se me pergunta se estamos de alguma forma a iludir algumas pessoas porque os projetos podem vir a não ter sucesso, eu acho que depende muito das pessoas que entram no projeto. Não é tão só a entidade que os dinamiza mas sim quem entra no projeto, se é um verdadeiro empreendedor ou não é. E aí a pessoa tem de pensar duas vezes, não se pode deixar iludir. Eu estou em crer que as ajudas que se dão aos empreendedores que querem arriscar são maiores do que se eles agirem por conta e risco. Então, de onde vem o insucesso? É porque nas outras áreas, quando se faz empreendedorismo sem apoio, a taxa de insucesso também é muito forte. E portanto, se não há qualquer apoio, mais facilmente se cai.

Dir-se-á, então é um erro, fazer com que algumas ou muitas pessoas o seu projeto não seja um sucesso? Em primeira análise diríamos que sim. Mas por outro lado se estivermos parados nem os 10% teriam êxito. É melhor ter algumas pessoas com algum sucesso do que não conseguir nenhuma. É verdade que algumas não vão ter, mas algumas terão. E as entidades que gerem estes processos têm alguns cuidados relativamente aos projetos que pretendem lançar.

Estão neste momento abertas candidaturas tanto para a Kantina como para a Inatel Viagens, como para a Mesa Portuguesa?nEstamos a acolher propostas dos vários interessados, pelo que se alguém se quiser candidatar pode entrar em contacto com a Fundação INATEL através do e-mail inatelsocial@inatel.pt ou então pelo telefone (210 027 142).

Existem outras formas de a Fundação INATEL apoiar os empreendedores para além do franchising social?nNós temos uma academia que tem cursos muito virados para pessoas que querem elas próprias por um lado obter formação e por outro depois, se quiserem avançar para negócios na área do turismo, turismo sénior, etc. Indiretamente, pode conduzir ao empreendedorismo.

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