Esteve em exibição no Recine (Festival Internacional de Cinema de Arquivo), o documentário Mario Wallace Simonsen – Entre a memória e a história. O filme retrata a ascensão e queda do grande empresário brasileiro, que foi perseguido pelo regime militar, assim como o seu sócio, Celso da Rocha Miranda, na maior companhia aérea brasileira, a Panair do Brasil.
‘Um homem à frente do seu tempo’ é a frase que mais se repete nos depoimentos de ilustres personalidades que figuram no documentário. Mario Wallace Simonsen e Celso da Rocha Miranda eram homens visionários cujo propósito não era meramente obter lucros em seus negócios, mas antes de tudo, trazer desenvolvimento para o Brasil, o elevando ao status de grande player no mercado internacional.
Mario Wallace Simonsen criou grandes empreendimentos como a TV Excelsior, pioneira em criação de inovadores programas de televisão onde foram aplicadas as grandes tecnologias da época em termos de telecomunicações; a Wasim, trading company que era uma das maiores e mais importantes exportadoras de café, com escritórios em mais de 65 países; a Comal, maior empresa de processamento de café do Brasil; o Sirva-se, a primeira rede de supermercados do Brasil; a Panair do Brasil, lendária companhia aérea, uma das maiores e mais conhecidas do mundo; o Banco Noroeste de São Paulo, entre outros.
A genialidade dos empresários, Simonsen e Rocha Miranda, nos permitiu, em diversos segmentos, conhecer o Brasil como é hoje, desenvolvendo padrões de comportamento de consumo e de qualidade, como foi o caso da Panair do Brasil que obtinha o chamado ‘Padrão Panair’, referência ao extremo padrão de qualidade da grande empresa aérea. Enquanto nos dias de hoje, as empresas apenas possuem certificados de padronização emitidos por instituições criadas para este fim, a Panair do Brasil já obtinha a sua própria padronização, reconhecida mundialmente.
Infelizmente, toda essa grandiosidade foi eliminada pela ditadura militar. Por se posicionarem contra o regime, Simonsen e Rocha Miranda foram perseguidos, tendo seus empreendimentos sordidamente destruídos pela ignorância e brutalidade reinantes naquele período de nossa história.
Merecido destaque no filme, foi dado ao célebre caso da Panair do Brasil. A empresa prestava verdadeiro assistencialismo dentro e fora do Brasil, equipou nossos aeroportos, utilizava-se de tecnologias de ponta para a aeronavegabilidade, desenvolvidas por empresas do mesmo grupo o qual pertencia, entre outros grandes feitos.
No entanto, a companhia aérea que era conhecida como ‘embaixada’ do Brasil no exterior, foi brutalmente perseguida pela ditadura e levada à quebra de forma totalmente arbitrária, através de jogos políticos inescrupulosos, leis imorais e tiranas e por fraudes criadas pelo governo ditatorial com fim de dizima-la, pelo fato de seus sócios não coadunarem com o regime então vigente.
Mario Wallace Simonsen e Celso da Rocha Miranda tiveram seu patrimônio destruído pela ditadura e todas as consequências que uma perseguição política pode causar na vida de alguém nestas condições. Não houve tortura física, mas a tortura psicológica e moral, deixaram marcas que certamente contribuíram para a morte prematura dos empresários, pois ainda havia muito a realizar, o Brasil precisava de seus talentos.
Desde então, o empresário Rodolfo da Rocha Miranda, herdeiro de Celso da Rocha Miranda, vem lutando arduamente pelo reconhecimento da tragédia arquitetada contra os empresários que levou à queda da emblemática Panair do Brasil e pela reparação moral da empresa, de seus acionistas e de cerca de cinco mil ex – colaboradores. Os remanescentes, até os dias de hoje reúnem-se todos os anos, para comemorar o aniversário da empresa, formando a comunidade ‘Família Panair’, configurando talvez, o maior case de recursos humanos em prol de uma entidade empresarial.
O documentário ‘Mario Wallace Simonsen – Entre a memória e a história’, trata do resgate da memória empresarial brasileira, de uma brava luta pela verdade e pela justiça, que não pode ser ignorada pelo povo brasileiro.
Atualmente, a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro reconheceram em seus relatórios que Mario Wallace Simonsen e Celso da Rocha Miranda foram alvos de perseguição política assim como suas empresas, com destaque para a Panair do Brasil. Este é um fato histórico que não pode ser de desconhecimento do empresariado brasileiro, para que nunca se esqueça, para que nunca mais se repita.