Um novo estudo da Boston Consulting Group (BCG) e do World Economic Forum alerta para os riscos económicos das alterações climáticas, estimando que o Produto Interno Bruto (PIB) global possa cair entre 16% e 22% até 2100 se os riscos climáticos não forem mitigados.
O relatório, intitulado “The Cost of Inaction: A CEO Guide to Navigating Climate Risk”, sublinha que os desastres naturais já causaram perdas económicas superiores a 3,6 biliões de dólares desde 2000 e que a inação poderá levar a um colapso significativo em várias economias.
O impacto dos fenómenos climáticos extremos já se faz sentir nos setores agrícola, energético e industrial, ameaçando cadeias de abastecimento, produtividade e rentabilidade. Segundo Manuel Luiz, Managing Director e Partner da BCG em Lisboa, a urgência da ação climática deve ser encarada como uma questão de sobrevivência para as empresas.
“Os custos das alterações climáticas dispararam nas últimas duas décadas e os riscos continuam a crescer. A sustentabilidade já não é uma opção, mas uma exigência competitiva. Empresas que não integrem estratégias climáticas arriscam-se a perder mercado e enfrentar custos cada vez mais elevados”, salienta Manuel Luís.
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Empresas expostas a riscos físicos e de transição
De acordo com o estudo, as empresas enfrentam dois tipos principais de riscos associados às alterações climáticas:
- Riscos físicos: incluem fenómenos como inundações, incêndios florestais e secas, que danificam infraestruturas, perturbam operações e encarecem os custos de produção. Setores como a agricultura, energia e telecomunicações estão entre os mais vulneráveis, com previsões que apontam para perdas de até 25% nos lucros das empresas até 2050.
- Riscos de transição: decorrem das medidas regulatórias para reduzir as emissões de carbono, como o aumento dos impostos sobre o carbono e normas ambientais mais rígidas. Empresas que não invistam na descarbonização podem enfrentar custos elevados de conformidade e desvalorização de ativos, especialmente nos setores da energia, transportes e construção.
Segundo o estudo, investir na adaptação climática pode trazer retornos entre 2 a 19 dólares por cada dólar investido, tornando a sustentabilidade não apenas uma necessidade ambiental, mas uma oportunidade de negócio.
Economia verde pode atingir 14 biliões de dólares até 2030
Apesar dos riscos, o estudo identifica uma oportunidade significativa no crescimento da economia verde, prevendo que o setor passe de 5 biliões de dólares em 2024 para mais de 14 biliões de dólares em 2030. Entre os segmentos mais promissores, destacam-se as energias renováveis (49% do crescimento previsto); também os transportes sustentáveis (16%) e os bens de consumo sustentáveis (13%) são setores com potencial de crescimento.
Os setores que integrem estratégias de transição energética e inovação sustentável podem beneficiar de regulamentações favoráveis e ganhar vantagens competitivas num mercado em transformação.
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Ação climática como vantagem competitiva para as empresas
O relatório da BCG aponta ainda quatro estratégias essenciais para os líderes empresariais enfrentarem os riscos climáticos e aproveitarem as oportunidades da transição sustentável:
- Avaliar os riscos climáticos – As empresas devem medir e mapear os impactos do clima nos seus ativos, operações e cadeias de abastecimento.
- Gerir riscos ambientais no portfólio – A descarbonização dos processos e a eficiência energética serão cruciais para manter a competitividade e evitar custos regulatórios elevados.
- Dinamizar o negócio para oportunidades sustentáveis – Investir em inovação e realocar capital para áreas de crescimento sustentável pode impulsionar receitas e resiliência no longo prazo.
- Monitorizar riscos e comunicar progressos – Com regulamentações ambientais cada vez mais exigentes, as empresas devem garantir transparência na medição do impacto climático e adotar práticas de reporte contínuo.
Os especialistas alertam que o tempo para agir está a esgotar-se. A transição para uma economia de baixo carbono não só reduzirá os impactos das alterações climáticas, como também criará novas oportunidades de crescimento e inovação para as empresas que se anteciparem às mudanças.