Um estudo recente do ManpowerGroup, líder mundial em soluções de gestão de talento, revela as sete principais tendências que estão a impactar o setor de Bens de Consumo em Portugal. O relatório destaca as mudanças no comportamento dos consumidores, as estratégias de relacionamento com o cliente e as implicações dessas tendências na gestão de talento pelas organizações.
A indústria de Bens de Consumo está a passar por uma evolução significativa, procurando oferecer aos consumidores mais valor, personalização, conectividade e uma melhor experiência. No entanto, este setor também enfrenta desafios decorrentes das expectativas crescentes dos clientes, além de incertezas económicas, instabilidades geopolíticas, desequilíbrios nas cadeias de abastecimento e escassez de talento. Esta situação é agravada pela procura de novas competências nas empresas, muitas das quais são difíceis de encontrar no mercado.
O estudo Global Insights do ManpowerGroup revela que as expectativas dos consumidores em relação às marcas estão em constante mudança. Temáticas como responsabilidade social corporativa, sustentabilidade, conveniência e transparência são consideradas cada vez mais inegociáveis. Além disso, os consumidores esperam uma experiência de consumo digital, personalizada e em constante melhoria. Neste contexto, o comércio eletrónico está a ganhar cada vez mais quota no mercado retalhista.
“A indústria de Bens de Consumo tem vindo a sofrer grandes transformações nos últimos anos, em grande parte associadas à maior automatização e digitalização dos negócios. As prioridades mudaram e, agora mais do que nunca, é essencial colocar o consumidor, as suas necessidades e expectativas, no centro da estratégia. Para tal, é fundamental que se consiga gerir, reter e captar o talento mais qualificado nas empresas do setor, já que as pessoas são o motor para a sua evolução. Acreditamos que esse se deve constituir o seu principal foco e prioridade”, explica Rui Teixeira, Country Manager do ManpowerGroup.
A experiência e o atendimento ao cliente tornaram-se aspetos centrais na estratégia das empresas, mas dados da Qualtrics mostram que 36% dos consumidores estão insatisfeitos com as suas experiências recentes de atendimento ao cliente. Este cenário tem impulsionado as empresas do setor a procurar talento ou parceiros externos adequados para melhorarem continuamente o contacto com o cliente, especialmente no ambiente digital. Ao mesmo tempo, a pressão sobre os preços tem aumentado a necessidade de otimizar os custos de trabalho.
Digital cria novas experiências de consumo
As empresas de Bens de Consumo estão a aproximar-se dos consumidores e a concentrar-se nas necessidades que ainda não estão satisfeitas. Estão a desenvolver modelos de negócio omnicanal e diretos ao consumidor, além de inovar na utilização de dados dos consumidores e novos canais de relacionamento.
No setor do retalho, a inovação vai além do digital, procurando oferecer experiências de consumo sem atritos e novos formatos de retalho para satisfazer a crescente procura de experiências únicas por parte dos consumidores. Grandes líderes do setor estão a introduzir ferramentas como carrinhos inteligentes, sensores avançados, câmaras e pagamentos móveis, proporcionando aos clientes uma experiência de compra sem necessidade de contacto. O comércio eletrónico também está a expandir-se, e estima-se que representará entre 18% e 30% das vendas de produtos alimentares até 2030, de acordo com dados da McKinsey.
Estas mudanças exigem a implementação de programas de capacitação e reciclagem de competências para ajudar os trabalhadores do retalho a adaptarem-se aos novos modelos de negócio. Além disso, a transferência da procura por profissionais está a ocorrer de funções de atendimento ao cliente para áreas como logística, distribuição e serviço ao cliente. A análise da localização e o planeamento da força de trabalho tornam-se cada vez mais essenciais para aproximar a distribuição do comércio eletrónico do consumidor.
A sustentabilidade é outra tendência importante na indústria de Bens de Consumo. Novos intervenientes e modelos de negócio estão a entrar no mercado com alternativas mais sustentáveis aos produtos tradicionais. Os modelos de venda baseados em subscrições (“as-a-service”) estão a crescer e a oferecer o valor procurado pelos consumidores. Com isso, aumenta a procura por ‘empregos verdes’, como logística reversa ou recondicionamento, e é necessário investir em programas de reciclagem e recolocação para profissionais em funções tradicionais afetadas pela inovação.
A Indústria 4.0 está a impulsionar a busca por maior produtividade na fabricação de Bens de Consumo. A automação, inteligência artificial, fabricação aditiva, análise de big data, conectividade e robótica estão a ser amplamente utilizadas. A automação de armazéns, por exemplo, pode melhorar os níveis de serviço em até 50%, segundo a BCG, e a fabricação aditiva, como a impressão 3D e 4D, está a substituir os processos de fabrico anteriores. Esta transformação requer talentos técnicos qualificados e o desenvolvimento de novas competências para desempenhar funções criadas pela automação.
Descentralizar cadeias de abastecimento
O estudo também destaca a descentralização das cadeias de abastecimento como uma tendência em resposta à necessidade de maior resiliência. Mais de metade dos fabricantes relata ter realizado operações de nearshore (investimento em países próximos) ou reshore (retorno da produção para o país de origem) nos últimos 24 meses, de acordo com a EY. Isso aumenta a procura por talentos na indústria local, próxima aos principais mercados de consumo da Europa e América do Norte. Estratégias de localização da força de trabalho tornam-se essenciais para garantir o acesso aos profissionais mais qualificados.
Embora a procura global por talento permaneça elevada, o mercado enfrenta desafios como a inflação global e a escassez de talento, com 86% dos empregadores de bens e serviços de consumo em Portugal a afirmarem ter dificuldade em encontrar os profissionais desejados, segundo o Talent Shortage Survey 2023.
O estudo do ManpowerGroup destaca a importância de as empresas de Bens de Consumo se reinventarem dentro dos seus modelos de negócio, desenvolverem resiliência nas suas cadeias de abastecimento, controlarem custos e agirem de forma significativa em relação aos seus objetivos de ESG. No entanto, o principal desafio é atrair e reter talento qualificado, o que se torna uma prioridade para o setor.