Inteligência Artificial e Automação no Recrutamento: “Um Aliado Poderoso, Não um Inimigo”

Apesar de receios comuns sobre a substituição dos humanos por máquinas, neste artigo de opinião, Adriana Silva, Talent Acquisition and Operations Associate na Ivy Tech, defende que estas tecnologias são "um aliado poderoso, não um inimigo".

Na foto: Adriana Silva, Talent Acquisition and Operations Associate na Ivy Tech, Portugal

Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) e a automação têm sido frequentemente retratadas como ameaças aos empregos tradicionais, com manchetes a alertar para a possibilidade de os robôs tomarem conta do nosso trabalho.

No recrutamento, em particular, tem havido receios de que estas tecnologias possam substituir os recrutadores humanos, transformando o processo de contratação numa experiência fria e impessoal. No entanto, da minha perspetiva como Talent Acquisition and Operations Associate na Ivy Tech, a IA e a automação não são inimigas. Pelo contrário, são aliados poderosos que melhoram o processo de recrutamento, permitindo aos recrutadores concentrarem-se no que realmente importa: a ligação humana.

Uma das ferramentas alimentadas por IA mais valiosas que utilizamos na Ivy Tech é o Fireflies, uma aplicação de IA que grava e transcreve entrevistas em tempo real. Numa entrevista típica, os recrutadores têm de gerir várias tarefas em simultâneo — ouvir o candidato, fazer perguntas, tirar notas, avaliar respostas e, muitas vezes, lidar com problemas técnicos, especialmente em ambientes virtuais. Esta multitarefa pode prejudicar a nossa capacidade de nos envolvermos profundamente com o candidato.

Foto de Drazen Zigic em Freepik

Com o Fireflies, já não preciso de me preocupar em perder pontos-chave ou em documentar a conversa com precisão. A transcrição é gerada automaticamente, permitindo-me estar completamente presente e focar-me inteiramente no candidato—ouvir atentamente, ler a linguagem corporal e construir uma relação.

Pesquisas mostram que 62% das empresas já estão a utilizar IA para melhorar os seus processos de contratação (Relatório Global de Tendências de Talento da LinkedIn, 2020). O aspeto humano do recrutamento — insubstituível na sua importância — é, na verdade, melhorado pela IA. O Fireflies liberta-me de distrações administrativas, proporcionando uma experiência de entrevista melhor e mais pessoal tanto para mim como para o candidato.

Outro exemplo da eficiência impulsionada pela IA no nosso processo de recrutamento é o Calendly, uma ferramenta automatizada de agendamento. No passado, agendar entrevistas exigia uma comunicação interminável entre candidatos e recrutadores. Encontrar uma janela de 30 minutos adequada podia demorar dias, resultando em atrasos e frustrações para ambas as partes.

O Calendly elimina este inconveniente ao permitir que os candidatos agendem as suas entrevistas numa hora que lhes seja conveniente, diretamente através da plataforma. Isto acelera o processo e dá mais flexibilidade e controlo aos candidatos sobre os seus horários. Para os recrutadores, elimina o trabalho administrativo desnecessário e garante que possamos focar-nos na preparação para as entrevistas e na avaliação dos candidatos.

Foto de Drazen Zigic em Freepik

Na verdade, 70% dos candidatos preferem ter mais controlo sobre o processo de agendamento de entrevistas (Yello Candidate Experience Survey, 2019). Ao automatizar o agendamento, podemos concentrar-nos no que realmente importa — garantir a melhor adequação ao cargo.

A IA e a automação, portanto, não se destinam a substituir a interação humana, mas sim a reduzir ineficiências e a melhorar o toque pessoal. Ao automatizar tarefas repetitivas e demoradas, a IA permite que os recrutadores dediquem mais tempo a compreender os candidatos a um nível mais profundo, assegurando uma experiência de contratação mais significativa e personalizada.

É importante reconhecer que o papel da IA no recrutamento é apoiar os recrutadores humanos, não substituí-los. A tecnologia é uma ferramenta — poderosa — que pode agilizar os processos, mas continua a ser responsabilidade dos recrutadores tomar decisões centradas no ser humano. A empatia, a intuição e as competências interpessoais que definem um excelente recrutador nunca poderão ser automatizadas.

Num mundo onde 67% dos candidatos afirmam ter tido pelo menos uma experiência negativa durante um processo de recrutamento (CareerBuilder Candidate Experience Study, 2019), ferramentas que melhoram a eficiência enquanto melhoram a experiência dos candidatos são mais valiosas do que nunca.

O papel da IA no recrutamento está a crescer, e não apenas através de ferramentas como o Fireflies ou o Calendly. Relatórios recentes sugerem que 38% das empresas planeiam aumentar o uso de IA nos próximos anos, particularmente para tarefas como triagem de candidatos, ordenação de currículos e até mesmo avaliação de compatibilidade cultural (Deloitte Global Human Capital Trends, 2020). Estas tarefas, embora essenciais, podem ser demoradas e sujeitas a preconceitos humanos quando feitas manualmente. Ao automatizá-las, os recrutadores podem concentrar-se mais na construção de relações e na tomada de decisões mais informadas e baseadas em dados.

Imagem de wayhomestudio no Freepik

Na Ivy Tech, acreditamos que o futuro do recrutamento reside numa parceria harmoniosa entre a tecnologia e a intuição humana. A IA e a automação ajudam-nos a trabalhar de forma mais inteligente, não mais árdua, permitindo-nos priorizar o elemento mais importante do processo de contratação: as pessoas.

Em conclusão, em vez de temer a IA como uma substituta dos recrutadores humanos, devemos abraçá-la como um facilitador de práticas de recrutamento melhores, mais eficientes e mais centradas no ser humano. A IA é um aliado que nos capacita a fazer o que fazemos melhor — conectar-nos com pessoas — e, em última análise, ajuda-nos a encontrar o talento certo de uma forma mais ponderada e eficaz.

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