Relatório do EIT Health e da McKinsey & Company aponta para a necessidade urgente de formar profissionais de saúde com conhecimentos e competências digitais, no sentido de obter a plenitude do potencial de Inteligência Artificial (IA). A digitalização da economia global deverá gerar, até 2030, 40 milhões de postos de trabalho em todo o mundo, no entanto, o número de médicos e enfermeiros não ultrapassará os 10 milhões, de acordo com as previsões da Organização Mundial de Saúde.
De acordo com o relatório do EIT Health e da McKinsey & Company, a Inteligência Artificial pode revolucionar a assistência médica, através de melhores resultados neste acompanhamento, na experiência do paciente e no acesso a serviços de saúde, através da melhoria da produtividade e eficiência.
O estudo do EIT Health, em parceria com a McKinsey & Company, destaca a Agenda de Competências para a Europa, o documento que a Comissão Europeia apresentou a 1 de julho e que aponta para a digitalização como base para uma estratégia visando melhorar a competitividade e a resiliência da economia europeia. À medida que a Europa inicia o seu processo de recuperação, cresce a necessidade de melhorar e adaptar competências, incentivando a aplicação de soluções de Inteligência Artificial (IA).
De acordo com o estudo do EIT Health, em parceria com a McKinsey & Company, competências digitais básicas são essenciais na área da saúde, em resultado do crescimento de tecnologias como IA e o machine learning cujo crescimento será marcante no setor.
“Estas disciplinas raramente são ensinadas nas ciências clínicas tradicionais. E, portanto, sem culpa alguma, o mercado de trabalho na área da Saúde ainda não está preparado para a adoção da IA”, explica Jorge Fernández García, diretor de inovação do EIT Health e coautor do relatório. “Precisamos unificar todas as novas tecnologias que permitem aliviar parte da pressão sobre os serviços de saúde e integrá-las ao nível da prestação de cuidados. É hora de colmatarmos estas lacunas, para que a Europa não fique para trás”, sublinha.
Atualmente a Inteligência Artificial, na área da saúde, é aplicada nos processos de diagnóstico, no entanto, nos próximos 5 a 10 anos os profissionais de saúde esperam que a tomada de decisões clínicas passe a ser a aplicação digital mais relevante, de acordo com o estudo do EIT Health e da McKinsey & Company – que inclui uma pesquisa com 175 técnicos da linha de frente nos cuidados de saúde, e entrevistas junto de 62 decisores do setor.
Os autores do relatório destacam que é necessário, não apenas atrair, treinar e reter mais profissionais de saúde, mas também garantir que exercem funções em tarefas onde podem agregar mais valor aos pacientes.
Com base na automação, a Inteligência Artificial tem condições para revolucionar a assistência médica: desde apoiar a melhorar a vida quotidiana dos profissionais, e com isso permitir que estes concentrem a sua energia nos pacientes, até gastar menos tempo em tarefas administrativas em detrimento da prestação direta de cuidados de saúde.
A IA também pode potenciar a velocidade de diagnósticos e, inclusivamente, a sua precisão. Como exemplo, em 2015 os algoritmos ultrapassaram os seres humanos no reconhecimento visual, isto no Concurso de Reconhecimento Visual em Larga Escala do ImageNet Challenge, ao melhorarem de uma taxa de erro de 28% em 2010 para 2,2% em 2017, quando comparados com a típica taxa de erro humana, que ronda os 5%.
Juntar startups e profissionais de saúde
“As nossas experiências ao trabalhar com startups em regiões emergentes mostram que há uma enorme necessidade de profissionais com qualificação superior, bem como da otimização da alfabetização digital em saúde. O curso online de verão que desenvolvemos com os nossos parceiros demonstra bem a importância da IA para o futuro. E tal verificou-se na elevada procura pelos candidatos, bem acima das nossas expectativas”, refere Monika Toth, Gestora de Programas do EIT Health InnoStars RIS.
Em Portugal, a iLoF, a Abtrace e a Libra são alguns exemplos de startups que desenvolvem projetos com recurso à IA.
A iLof, vencedora do programa EIT Health Jumpstarter 2019 e Wild Card 2019, criou uma base de dados em Cloud de impressões digitais óticas, alimentada por fotónica e IA, que fornece um rastreio não invasivo, triagem e estratificação para descoberta de medicamentos, com total adaptação às necessidades de cada ensaio clínico.
Já a Abtrace usa técnicas de inteligência artificial para fornecer aos médicos as informações necessárias que lhes permitam escolher o antibiótico e a dosagem correta para cada paciente e cada prescrição. A inovação promete melhorar o tratamento para os pacientes, diminuir os custos financeiros e reduzir o consumo de antibióticos errados.
Quanto à Libra, é uma plataforma digital que pretende promover e manter comportamentos saudáveis junto de pacientes propensos à obesidade. Esta solução oferece um contacto digital personalizado, coaching, recolhe dados dos pacientes e permite uma comunicação remota com profissionais de saúde.
A nível internacional, existem outros bons exemplos. A Brainscan é uma startup da Polónia que usa Inteligência Artificial para melhorar a eficiência das interpretações de tomografias computadorizadas do cérebro, com a integração de ferramentas para classificar, localizar e comparar mudanças de patologia cerebral no fluxo de trabalho radiológico.
Outro exemplo bem-sucedido do uso da IA é a PatchAi, uma startup italiana acelerada pelo EIT Health, a primeira plataforma cognitiva para a recolha e análise preditiva de dados relatados por pacientes em ensaios clínicos, com a incorporação de um assistente virtual com inteligência artificial capaz de imitar conversas empáticas humanas. O seu objetivo é motivar os pacientes a aderir ao protocolo.
Na Hungria, o InSimu desenvolveu uma solução onde médicos e estudantes de medicina praticam em pacientes virtuais, através do diagnóstico numa situação quase real. Já o também húngaro Sineko pretende revolucionar a telerradiologia internacional com o seu software GRAID, que traduz relatórios radiológicos.
Potencial da Inteligência Artificial na Saúde
“A IA tem um enorme potencial para melhorar a produtividade e a eficiência dos sistemas de saúde e torná-los mais sustentáveis. Mais importante tem potencial para proporcionar melhores resultados de saúde junto dos pacientes. Isso pode ser feito de várias maneiras: desde permitir melhores cuidados preventivos, até possibilitar que os profissionais de saúde passem mais tempo no atendimento direto ao paciente. Este relatório fornece um conjunto de orientações aos decisores do setor, é uma oportunidade destes definirem o seu nível de ambição em relação à IA, bem como para desenvolver e implementar a abordagem correta para a sua organização ou para o sistema de saúde”, assegura a Dra. Angela Spatharou, partner da McKinsey & Company e coautora do relatório.
No decorrer das entrevistas com responsáveis na área da saúde, reconheceu-se a urgência no desenvolvimento e incremento de formação, assim como a sugestão de que os sistemas nacionais de saúde devem trabalhar em conjunto com os profissionais da área, a academia e a indústria, no sentido de apoiar os prestadores de cuidados de saúde, em particular aqueles que não têm dimensão para integrar individualmente esses programas.
“A inteligência artificial tem um papel importante no futuro da saúde. Na Universidade do Porto, juntamente com o EIT Health, estamos constantemente a trabalhar no sentido de apoiar projetos que se encontrem a desenvolver soluções inovadoras na área da saúde, incluindo na área digital. Acreditamos verdadeiramente que o tratamento e o diagnóstico podem ser mais precisos e eficientes com a ajuda da IA. É também uma questão de sustentabilidade dos sistemas de saúde”, diz Elísio Costa, Coordenador do EIT Health Hub Universidade do Porto.