João Paulo Carvalho, Cofundador e CEO da Quidgest, é uma figura central na vanguarda da inovação tecnológica. Fundada em 10 de maio de 1988 por Cristina Marinhas, João Paulo Carvalho e Jorge Guerreiro, a Quidgest mantém-se na liderança da utilização da inteligência artificial generativa para impulsionar a inovação e a competitividade no mercado empresarial. Com mais de 120 colaboradores de onze nacionalidades, a empresa mantém um espírito de startup, mesmo após 36 anos de história.
O Genio, desenvolvido desde 1990, representa a essência dessa inovação. Oferecendo uma abordagem revolucionária baseada em modelos e inteligência artificial para o desenvolvimento de software de gestão a plataforma da Quidgest pode produzir sistemas facilmente evolutivos e independentes de frameworks de geração tornando-se a plataforma preferida para produtos complexos e projetos urgentes.
Numa entrevista exclusiva ao Empreendedor, João Paulo Carvalho partilhou a visão estratégica da empresa e os próximos passos na evolução do Genio. Destacou a importância da modelação e automação da geração de software como uma vantagem competitiva sustentável, que responde eficazmente à procura de soluções de qualidade na atual revolução digital.
Para João Paulo Carvalho, a inteligência artificial não é um desafio, mas sim uma fonte de imensas oportunidades. Ele enfatizou que a Quidgest tem “surfado” essa onda tecnológica há décadas e está bem posicionada para capitalizar as vantagens oferecidas pela rápida evolução da inteligência artificial.
Desafios e Oportunidades com a IA Generativa
“Descobrimos e desenvolvemos uma vantagem competitiva sustentável, que os restantes atores de mercado, de certa forma, menorizam e que resulta da conjunção da modelação e da automação da geração de software”, explica. “Não só é uma combinação poderosa como responde muito bem a uma exigência da atual revolução digital: a disponibilidade de boas soluções e de excelentes ‘programadores’”.
Uma das inovações que a Quidgest introduziu foi o conceito de ‘engenheiros do conhecimento’, em vez de programadores, salienta João Paulo Carvalho, destacando o papel criativo que estes profissionais têm no desenvolvimento de modelos, em vez de código.
“Todas as verdadeiras inovações precisam de criar os seus próprios conceitos. Como programar é geralmente entendido como escrever código, denominamos os criadores de soluções em Genio como engenheiros do conhecimento, porque não escrevem código, criam modelos. Traduzem o conhecimento que possuem da realidade para modelos.”
“Depois, é só carregar num botão e a inteligência artificial generativa do Genio infere todo o código a partir do modelo”, sublinha.
Assim, para João Paulo Carvalho, a Inteligência Artificial não é um desafio, mas o gerador de “imensas oportunidades”, com a vantagem de que a Quidgest “já surfa esta tecnologia há décadas”. “Se, antes da explosão do ChatGPT, em dezembro de 2022, éramos vistos como aves raras, hoje somos muitas vezes o centro das atenções. Por exemplo, de investidores.”
Mas o rápido desenvolvimento desta tecnologia permite, também que a Quidgest possa acrescentar novas funções e perfeiçoar a sua plataforma, reduzindo os custos do desenvolvimento e aumentando a eficácia do software. “O único verdadeiro desafio é sermos capazes de mostrar que já estamos a surfar esta onda há décadas e tudo o que aprendemos durante este longo percurso”, salienta.
Durante anos, a Quidgest esteve à frente do seu tempo. Modelos, geração de código, inteligência artificial ou ERP não monolíticos não eram mainstream. Pessoas conceituadas não percebiam esses conceitos ou não acreditavam que fosse possível usá-los para criar soluções complexas de software. Mas desde o início, a modelação e a IA sempre distinguiram o Genio das plataformas de low-code e no-code tradicionais.
O “Genio” da Quidgest: Revolucionando o Desenvolvimento de Software
O nome Genio está desde logo associado à nova inteligência artificial generativa (“Gen” AI) e tem o mesmo significado. O “I” é relativo a “Input”, a capacidade de recolher o conhecimento estruturado em modelos. E o “O” refere-se a “Output”, à facilidade de geração de milhões de páginas de código.
“O nosso Genio nasceu há 34 anos, em Portugal, já com esse nome, já sendo inteligência artificial e já com essa capacidade generativa. À frente do seu tempo, mas sempre atento ao que acontece nas áreas da engenharia do software, da modelação e da inteligência artificial, que continuamente incorpora nas suas capacidades.”
Com o recente boom em torno da IA generativa, impulsionado pelo sucesso do ChatGPT, a Quidgest está mais uma vez na vanguarda dessa inovação. Este avanço tecnológico promete revolucionar várias indústrias e profissões, impulsionando a democratização do conhecimento, a multiplicação da inovação e o aumento da produtividade.
O sucesso da plataforma impulsionou também a estratégia de expansão, centrada em nove linhas de utilização da IA generativa com Genio e no alargamento a novos mercados na América do Norte e no Médio Oriente e Norte de África (MENA).
“Esta estratégia inclui a difusão global do novo paradigma de desenvolvimento de software através de IA generativa e a oferta de soluções criadas com este paradigma para o desenvolvimento sustentável, para o governo e para as empresas mais competitivas de todos os setores de atividade, mas com destaque para a saúde, banca e seguros, serviços a empresas, consultoria, engenharia e ambiente”, explica João Paulo Carvalho.
“Algures no futuro, este processo vai transformar-se numa bola de neve e acelerar exponencialmente.”
Visão para o Futuro da Tecnologia e da Sociedade
Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia (actual ISEG) e Mestre em Ciências Empresariais (Sistemas de Informação para a Gestão) pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (actual ISCTE-IUL), João Paulo Carvalho destaca uma série de influências que marcaram a sua carreira, como os professores Mário Murteira, Simões Lopes, Augusto Mateus e Correia Jesuíno.
Entre os livros e autores a lista do CEO da Quidgest é mais ampla: “Essa é uma longa lista. Destacaria a ética e a honestidade intelectual de Bertrand Russel; a abstração do conceito de sistema de Von Bertalanffy, Russel Ackoff, Joel de Rosnay ou Alain Resnais (sim, o realizador); a beleza da modelação de Eduard Codd; as práticas da qualidade de Deming, Juran e Taiichi Ohno; a cultura organizacional de Mintzberg; o pensamento estratégico de Hamel e Prahalad, Kaplan e Norton; a revolução do software explicada por Watts S. Humphrey; o fascinante estudo do cérebro, da inteligência e dos comportamentos humanos de Carol S. Dweck (“Mindset”), de David Rock (“Your Brain at Work”) e de Uderzo e Goscinny (“Astérix, a Zaragata”); e o empreendedorismo de Eric Ries (“Lean Startup”), Marty Cagan (“Inspired”) e Gene Kim (“The Phoenix Project”).”
Aos jovens empreendedores, João Paulo Carvalho aconselha a identificar uma vantagem competitiva e, através da aprendizagem contínua, promover a autonomia na equipa e priorizar a ética e o respeito nos negócios.
“Faz o que gostas. Deixa para os outros perder tempo a distinguir se estás a trabalhar ou a divertir-te. Nunca deixes de aprender. Promove a autonomia e a iniciativa na tua equipa. Rodeia-te de facilitadores. Preocupa-te com o detalhe. Usa histórias para criar a cultura da tua empresa. Desde o princípio, tu és a garantia da ética, do respeito e da justiça na tua empresa.”
“É certo que dificilmente a tua empresa será a que tem mais meios ou mais recursos financeiros no mercado. Por isso, identifica barreiras à entrada de novos concorrentes. Às vezes esta barreira é tão simples quanto os outros não acreditarem que tu vais ter sucesso. Mas precisas dela”, recomenda.
Quanto ao futuro, João Paulo Carvalho tem uma visão otimista. Há riscos do aumento do autoritarismo e do nacionalismo, alerta, mas espera que estes acabem superados pela racionalidade, humanidade e preservação ambiental.
“Sou estruturalmente muito otimista. Por exemplo, não partilho o medo de que a inteligência dita artificial – mas que, na realidade, é sempre humana – venha a causar a extinção da espécie. Mas tenho de reconhecer que estamos num possível ponto de viragem. Daqui a uns anos, vamos identificar 2022 como o ano da invasão da Ucrânia ou do surgimento do ChatGPT?”, pergunta.
“Estamos num mundo abalado pelo anacronismo de tentações autoritárias, imperialistas, nacionalistas e fanaticamente religiosas. Julgávamos que tinham ficado esquecidas a meio do século passado, mas voltaram em força. A tecnologia e a IA não são alheias a esta situação. Os algoritmos criaram um cisma de opiniões em que as fações da sociedade só estão expostas a pessoas e conteúdos”, sublinha.
Porém João Paulo Carvalho salienta que “A resposta global à epidemia da Covid-19 foi um bom exemplo de articulação global. A humanidade foi capaz de questionar quase tudo sem entrar em colapso”. Tal como a resposta à crise climática, “a descoberta da chave da linguagem, com os LLM, é um salto civilizacional de que temos de nos considerar privilegiados em ser contemporâneos.”