Laurynas Almanis: “O empreendedorismo não se ensina”

Ainda em fase de pré-comercialização, a Cashout é uma startup tecnológica, com base na Lituânia. A ideia de negócio é simples: qualquer pessoa pode tirar fotografias aos produtos que encontra nas lojas e enviar para uma plataforma de crowdsourcing em troco de dinheiro. Deste modo, as empresas passam a poder controlar, de uma maneira rápida e barata, a forma como os seus produtos estão a ser comercializados pelo retalho, poupando nos habituais custos associados a este processo.

Estás em Lisboa há já alguns meses no âmbito do programa ‘Eramus for young Entrepreneurs’…

Fui o único lituano a ser escolhido para participar no programa, o que me faz sentir muito orgulhoso! Através do ‘Eramus for young entrepreneurs’, trabalhei na Beta-i, onde estive responsável pela seleção das startups para o ‘Lisbon Challenge’ – um dos mais ativos programas europeus de aceleração. Esta experiência deu-me a oportunidade de me relacionar com empreendedores muito experientes. Agora já tenho quem me aconselhe no meu negócio! Contudo, também aprendi que quando lanças uma startup o mais importante é manteres-te junto da tua equipa.

Quais são as principais características que um empreendedor deve ter?

Um verdadeiro empreendedor tem de ter as seguintes competências: primeiro, tem de saber como inspirar as pessoas; segundo, precisa de ser bom na comunicação e de manter relações fortes com os parceiros, cofundadores, clientes, etc.; terceiro, um grande empreendedor tem de ser honesto e ter autoconsciência. As pessoas só confiarão em ti se virem que tu és honesto e conheces as tuas fraquezas!

Antes de fundares a Cashout, trabalhaste na empresa dinamarquesa Drivr. Como foi a experiência?

A Drivr é uma plataforma tecnológica para taxistas. Nesta empresa, eu estava responsável pela expansão do negócio em outros países europeus. Durante o tempo em que trabalhei como business developer, pude perceber o quanto os setores tradicionais precisam da tecnologia mobile. Num dos maiores setores, refiro-me ao retalho, estava em falta uma tecnologia smart, os métodos eram bastantes envelhecidos. Ao mesmo tempo ouvia falar a toda a hora de tecnologias peer-to-peer e de crowdsourcing. Foi assim que surgiu a ideia de construir a minha startup, a Cashout!

As competências que adquiristes na Drivr estão a ser úteis na tua vida de empreendedor?

Na Drivr, eu tinha uma enorme responsabilidade porque a empresa, com um total de 25 empregados, estava em grande risco. O seu futuro dependia dos resultados que eu iria apresentar. Aprendi muito sobre vendas e desenvolvimento de negócio. Posso dizer que utilizo estas competências na Cashout.

Já conseguiste alavancar investimento para a Cashout?

Ainda não, contudo tenho alguns investidores da Lituânia e de Portugal interessados no negócio. Mas primeiro tenho de decidir qual é a melhor altura para captar esse investimento. Eu penso que seja quando inaugurarmos oficialmente a Cashout.

Consideras a tua ideia de negócio inovadora?

Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa ocidental, já existem negócios similares, o que me agrada porque quer dizer que há procura! Quando ouço algumas pessoas dizerem que não partilham a sua ideia de negócio porque têm medo que alguém a roube, não me faz sentido nenhum. A ideia vale muito pouco, o que importa é o quão paciente e lutador consegues ser para a executares! Tenho falado com vários peritos de mercado dos países bálticos e todos me dizem que a minha oferta é bastante inovadora, isto porque nestes países o setor do retalho ainda não está explorado a este nível. Depois de testar o negócio no meu país pretendo expandi-lo para os países da Europa central e de leste. Queremos ser os primeiros a oferecer às grandes empresas esta tecnologia nestes países. Se, por ventura, um competidor internacional entrar nestes mercados antes de nós, estamos completamente preparados para enfrentar a concorrência e para nos diferenciarmos dela do ponto de vista tecnológico.

Quem é o vosso target?

São empresas que necessitam de dados visuais para controlar a forma como o retalho e os merchandisers estão a distribuir os seus produtos. Por exemplo, a Coca-Cola precisa deste tipo de informação para evitar faltas de stock, para saber se o produto está a ser vendido ao preço correto ou se ou materiais promocionais estão bem expostos, entre outras coisas. Pretendemos conseguir estes dados em diferentes cidades através dos utilizadores da nossa app, que vão tirar fotografias aos produtos em troca de dinheiro. Nos dias de hoje, as empresas enfrentam uma luta muito difícil para conseguirem a melhor posição e, desta forma, levarem os clientes a comprar os seus produtos. Acredito que a Cashout vai ser importante nessa luta.

Estamos a viver no mundo do ‘Big Brother’, por isso a privacidade alcança hoje um enorme valor. Qual é a vossa política de privacidade?

Boa pergunta! Em primeiro lugar, gostaria de dizer que tirar fotografias em espaços públicos é totalmente legal e as lojas são espaços públicos. Em segundo lugar, os utilizadores da nossa app vão tirar fotografias apenas ao produto, às vezes ao preço e aos produtos em redor. Se alguém aparecer numa fotografia, a mesma deixará de ter valor para o nosso negócio.

Um negócio implica gestão, números, visão, liderança e mais o quê?

Esqueceste-te dos clientes… Costumo dizer que empreender é como ter um trabalho, a única diferença é que trabalhas para o cliente. O cliente é o teu patrão e, por vezes, tem necessidades diferentes daquelas que tu apresentas além de exigir sempre mais do que aquilo que tu prometeste entregar. O cliente é quem dita as regras.

Qual é a importância da cultura corporativa para o sucesso de um negócio?

Construir uma cultura empresarial é vital. Vi várias empresas, que passaram de startups a negócios sólidos de 50 empregados, a serem penalizadas nos resultados por não terem uma cultura empresarial forte.

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