As empresas estão a investir na implementação de ferramentas e tecnologias inovadoras para aumentar a sua produtividade, num mundo digital acelerado. Porém, os líderes estão frequentemente mais focados em tecnologias e metodologias do que na aprendizagem e desenvolvimento das suas equipas.
Segundo o relatório “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal 2022”, desenvolvido pela Fundação José Neves, os níveis de produtividade em Portugal continuam muito abaixo da média europeia, revelando que os processos tecnológicos não são, por si só, a solução ideal para o sucesso.
Para Margarida Carvalho, da Emergn, “a produtividade surge quando os colaboradores se sentem comprometidos com a organização”. A responsável em Portugal pela empresa de consultoria e serviços de tecnologia, “quando se investe na transformação digital de uma empresa, as equipas não podem ser esquecidas – pelo contrário, devem ser incluídas em todo o processo.”
A integração das equipas é essencial para “que se alinhem valores e objetivos, através de conversas abertas e transparentes, para que o local de trabalho seja um espaço de produtividade e de alto desempenho, mas também de bem-estar e respeito”, acrescenta.
Aos leitores do Empreendedor, Margarida Carvalho, apresenta três estratégias que os líderes podem adotar para aumentar a confiança, respeito e performance com impacto, no local de trabalho.
1 | Criar um ambiente de trabalho focado no colaborador
O ambiente de trabalho deve ser centrado nos colaboradores, não centrado na tecnologia. De acordo com o relatório “Realizing the Human-Machine Relationship”, desenvolvido pela Emergn, em 2021, 64% dos líderes tecnológicos afirmou que os seus processos de trabalho eram “inteligentes”, mas apenas 32% se descreveu enquanto “especialista” na área da tecnologia, o que revela que mais do que aplicar tecnologia de ponta, as empresas devem educar as suas equipas para que consigam lidar com a transformação digital.
“Para potenciar o desempenho e aumentar a produtividade, os líderes devem garantir que as suas equipas estão preparadas para perceber como utilizar a tecnologia a implementar. Ouvir e compreender o feedback das equipas é essencial para garantir eficiência no trabalho, bem como educar os colaboradores sobre o processo de tomada de decisão por detrás de novos softwares ou operações que estão a ser implementados e aumentar o seu compromisso.”
Um ambiente focado nos colaboradores requer sobretudo transparência e abertura acerca da estratégia e objetivos da empresa, assim como a sua visão para o futuro, e uma mentalidade de abertura para novas ideias que as equipas possam propor para melhorar os processos.
2 | Apoiar o crescimento e progressão de carreira dos colaboradores
Após meses ou mesmo anos de trabalho remoto, muitos colaboradores preferem continuar a trabalhar de casa. A flexibilidade e acessibilidade permitiram aos profissionais ter horários mais flexíveis, maior conforto e muitas vezes, uma maior qualidade de vida.
Estas vantagens levaram muitos a acreditar que o regresso ao escritório – de forma parcial ou total – beneficiava apenas as empresas. Porém, voltar ao escritório tem várias vantagens, especialmente no que diz respeito ao bem-estar do colaborador e ao seu crescimento profissional.
“Ainda que as ferramentas de videochamada tenham permitido reunir pessoas fisicamente distantes, os colaboradores continuam a precisar de interações presenciais para combater a solidão e melhorar características sociais com os seus colegas. Além disso, estes momentos mais sociais fomentam o crescimento e a motivação dos profissionais, bem como a sua produtividade.”
Ao estarem juntos de forma regular, os colaboradores sentir-se-ão mais colaborativos e prontos para, em equipa, criar impacto nos seus projetos.
3 | Repensar o papel do líder e cultivar a autonomia dos colaboradores
As técnicas mais antiquadas de gestão de “topo-para-baixo” não vão sobreviver num mercado de trabalho de ritmo intenso e interligado. Os líderes precisam que os seus colaboradores consigam pensar e reagir de forma rápida perante situações únicas e potencialmente críticas.
“Hoje, as empresas devem redefinir os papéis de liderança, onde os líderes são mais comprometidos e práticos com as suas equipas – este tipo de liderança é conhecido como servant leadership, ou seja, liderança servidora. O servant leadership é um modelo alternativo à liderança tradicional que pressupõe que o líder esteja presente no negócio de forma ativa, prática e colaborativa, colocando as necessidades e interesses dos colaboradores no centro do negócio.”
“O objetivo da servant leadership é partilhar o poder, trabalhar em conjunto e comunicar e liderar pelo exemplo. Os colaboradores sentem-se comprometidos e motivados para aumentar a sua performance quando observam que também os seus líderes o fazem. Ao sentirem-se ouvidos, os colaboradores irão confiar mais nas suas empresas e líderes e atingir níveis de desempenho de excelência, passando a atuar ainda como “embaixadores” da marca. Ao readaptarem o seu papel, os líderes conseguem fortalecer a inclusão e relações de confiança, levando a que os colaboradores se sintam mais conectados à empresa e negócio.”
Esta sensação de conexão é potenciada quando se oferece liberdade de escolha – ou autonomia – às equipas e direções claras sobre o caminho a seguir. Ao confiarem nas suas equipas e permitirem flexibilidade nas suas decisões, os líderes conseguem criar um local de trabalho saudável, onde o bem-estar e as escolhas feitas com convicção são prioridade – e realidade.
“Com estas estratégias, o líder irá permitir desbloquear o caminho rumo a uma performance de excelência, em empresas onde os colaboradores se sentem respeitados, ouvidos e compreendidos, num ambiente de confiança, motivação e produtividade.”