O Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade para celebrar também as mulheres inovadoras e aumentar a consciência sobre a diferença de género na ciência. Mónika Tóth, Programme Manager da EIT Health, uma rede europeia de investigação cientifica na área da saúde alerta para as desigualdades de género na ciência e sublinha que o EIT Health está empenhado em afirmar a presença de mulheres e a diversidade de género no setor da inovação em saúde.
De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO), apenas 33% dos investigadores são mulheres. O Relatório Científico da organização afirma que, embora um terço dos investigadores sejam mulheres, estas representam 45% dos alunos no bacharelato, 55% dos alunos nos níveis de estudo de mestrado, e representam 44% dos doutorandos.
Estereótipos de género persistentes, a gravidez ou a maternidade, podem impedir as mulheres de prosseguir uma carreira na área da inovação e também no setor de saúde. O fato de 70% dos assistentes sociais e de saúde serem mulheres, e receberem 11% menos do que os homens, constitui um triste contraste. Essa tendência pode ser revertida, por exemplo, através de programas que promovam a diversidade e aumentem a participação das mulheres.
“Embora existam grandes exemplos de mulheres inovadoras, o quadro global ainda é bastante desolador. Alguns podem questionar se as ações voltadas para o empoderamento feminino são necessárias, ou se já eliminámos a lacuna da diversidade na ciência”, afirma Mónika Tóth, EIT Health RIS Programme Manager.
O EIT Health é uma rede europeia das principais empresas, universidades, centros de pesquisa e desenvolvimento, além de hospitais e institutos, cujo papel é construir um ecossistema que permita o desenvolvimento de cuidados de saúde para o futuro, para que os cidadãos europeus possam viver vidas mais longas e saudáveis. É uma das maiores iniciativas na área da saúde com financiamento público, apoiada pelo Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT), um órgão da União Europeia.
está muito claro que as mulheres ainda estão sub-representadas na inovação
“Para nós, que trabalhamos no centro das inovações, está muito claro que as mulheres ainda estão sub-representadas e, certamente é necessário trabalhar mais para apoiar as jovens mulheres inovadoras. Por exemplo, se observarmos o mundo das startups de saúde, é rapidamente notório que apenas uma pequena percentagem de candidatos que integram os programas de aceleração de saúde do EIT são mulheres”, sublinha Mónika Tóth.
“As inovações não têm género. Por detrás de cada solução que pode revolucionar o diagnóstico de cancro ou melhorar o tratamento dos pacientes estão, é claro, diversas equipas. No entanto, gostaria de estimular as mulheres a tentar aplicar e demonstrar como as suas ideias podem ajudar as pessoas a ter vidas mais longas e saudáveis”, acrescenta.
Em 2021, o EIT Health vai organizar o Women Entrepreneurship Bootcamp, com o objetivo de ajudar startups lideradas ou colideradas por mulheres a conectarem-se à rede de mentores e investidores. O programa de sete semanas oferece formação intensiva, aconselhamento e oportunidades de matchmaking em Coimbra, Barcelona, Galway e Londres. Os organizadores estão interessados principalmente em empresas recém-criadas, que são lideradas por mulheres ou cofundadas com uma mulher na equipa administrativa de nível C. As inscrições podem ser enviadas até 16 de março.
Inovação no feminino em Portugal
Joana Melo cofundou a NU-RISE em 2016, e é atualmente a sua COO. A NU-RISE é uma spin-off da Universidade de Aveiro que pretende impulsionar a próxima geração tecnológica de radioterapia, ao fornecer em tempo real a dose que o paciente recebe para uma radiação oncologia precisa, autónoma e mais segura.
Formada em engenharia física, Joana Melo tem um histórico na conceção e desenvolvimento de dispositivos médicos para melhorar o atendimento do paciente e o trabalho dos profissionais de saúde. Atualmente é responsável por acompanhar todas as etapas de desenvolvimento e de validação clínica do produto até à aprovação regulamentar.
Não por acaso, Joana integrou a lista do European Young Innovators Forum para os 30 principais empreendedores em Portugal, e foi igualmente uma das três finalistas do Women Entrepreneurship Award, organizado pela Universidade Católica de Lisboa.
Célia Cruz é outro excelente exemplo do trabalho desenvolvido pelo EIT Health no sentido de agregar os melhores talentos em torno de startups inovadoras, capazes de oferecer soluções aos maiores desafios na área da Saúde. Atualmente, é a representante do Sul da Europa (que inclui, claro, Portugal) para o EIT Health Alumni Board. Com um percurso feito de uma construção sólida de competências, abraçou recentemente um novo desafio, ao lançar a startup Complear, também com o apoio do EIT Health.
“Participei no primeiro programa de educação do EIT Health em 2015, e, desde então, participei em vários outros programas, incluindo o WE Health e Starship. Estas experiências ajudaram-me a ganhar confiança para avançar em desafios fora da minha zona de conforto, e juntei-me à PeekMed, uma startup apoiada pelo EIT Health, como responsável pelos Assuntos Regulatórios e de Qualidade. Recentemente, também fundei a Complear, uma startup para ajuda empresas de saúde digital por toda a Europa a otimizar a certificação e conformidade dos seus dispositivos médicos”, explica Célia Cruz.
Em Portugal, no que concerne à investigação, o sexo feminino aproxima-se dos valores masculinos
Atualmente, no nosso país, e de acordo com o relatório She Figures, publicado pela Comissão Europeia, as mulheres representam cerca de 55% da população doutorada, bem como quase 60% das contratações para atividades científicas. Já no que concerne à investigação, ainda que em menor número, o sexo feminino aproxima-se dos valores masculinos, dado que 43,9% dos investigadores são mulheres.
Estes números são bastante significativos em equipas de I&D do setor governamental/estatal (58,9%), mas também em instituições do ensino superior (48,6%). Já do ponto de vista financeiro, as investigadoras auferem, em média, menos 14,6% do que os seus pares do sexo feminino, o que não foge à tendência negativa do país, onde a diferença salarial ronda os 14,9%. Por fim, a generalidade destas investigadoras sofre com um problema estrutural, comum a todo o setor de investigação em Portugal, a precariedade laboral.
O Programa incorpora 13 centros de saúde do EIT localizados em 12 países da Europa Oriental, Central e do Sul. Esses centros servem como pontos de acesso a uma rede pan-europeia das melhores universidades, empresas e projetos. O Programa visa incubar as regiões onde opera, descobrindo ativos exclusivos de inovação, atraindo inovadores locais para participar de programas e competições pan-europeus. No caso de Portugal, os Hubs locais que participam na implementação deste Programa são a Universidade de Évora e a Universidade do Porto.