Ao longo dos 25 anos do meu percurso profissional e empresarial tenho pensado muitas vezes que o espírito empreendedor que caracterizou a história portuguesa se perdeu.
É duro escrever assim e sei que serei alvo de críticas – algumas com razão – mas quando há notícias que dão conta das numerosas startups criadas por jovens de todas as áreas do conhecimento que não conseguem passar essas empresas de “protótipo”; que têm ideias, conceitos de negócio, mas não conseguem dar o “salto” e criar emprego, porque à primeira ou segunda necessidade de investimento mais avultado, são os famosos Business Angels ou fundos de investimento que as deixam cair.
Por vezes são os investidores que são de outra geração e têm dificuldade em perceber os negócios apresentados. Depois é todo o sistema fiscal e legal, com as suas elevadas cargas de impostos, que mudam a cada governo; e ainda uma justiça cara e que não funciona em tempo útil. Portanto, estão longe de estar reunidas as condições de um ecossistema que seja propício, não só ao aparecimento destas empresas, mas sobretudo ao seu desenvolvimento.
Lembro-me bem dos meus tempos de diretor da ANJE, onde colocámos no léxico português essa importante palavra “empreendedor”, mas será que conseguimos transmitir a verdadeira essência da mesma? Onde estão os novos “Américos Amorins” ou “Belmiros de Azevedo”? Onde estão os grupos empresariais modernos, liderados por jovens, que criam emprego e riqueza do mercado global? Assim de repente só me lembro de um: o fundador da Farfetch, José Neves, a única empresa-unicórnio com ADN português.
Portugal até evoluiu bem no que diz respeito aos apoios a startups, O problema é mantê-las
É muito pouco para um país com uma história como a de Portugal. A culpa não pode ser só da dimensão do mercado. Há falta de ambição, capital e know-how. Ambição, porque ficamos satisfeitos com pouco – a culpa aí é do Estado, dos media e da educação. Estamos habituados a viver com pouco e aceitamos todas as esmolas que nos dão, como se fossem milhões. Os media, corporativistas e altamente condicionados por interesses publicitários e não só, advogam o fim do mundo em cada telejornal. A educação continua a ensinar como há 30 anos em vez de formar.
Há muita coisa para mudar, desde logo os que dirigem o país e a Europa, que em média têm mais de 60 anos de idade e não entendem as novas gerações, como elas veem o mundo, o que as motiva, o que gostam e não gostam na sociedade atual. Depois há o ensino, que claramente castra o empreendedorismo. A escola treina para servir, não treina para criar.
Desistir à primeira e perder a motivação não é opção. Portugal até evoluiu bem no que diz respeito aos apoios a startups. O problema é mantê-las, porque os jovens empresários têm de perceber que tomar as decisões certas também vem com a experiência.
O que sobra? Sobram uns loucos que, contra tudo e contra todos, não desistem dos seus sonhos, são resilientes, conseguem criar uns negócios interessantes e têm sorte! Sim, porque não há negócios sem clientes, mas sem sorte não há negócio. É como estar na estação quando o comboio passa, apanhar o mesmo e disfrutar da viagem!