Nuno Brito Jorge: “Precisamos de alinhar Financiamento com Valores”

Nuno Brito Jorge
Na foto: Nuno Brito Jorge, CEO da GoParity

Nuno Brito Jorge é o CEO da GoParity e um dos fundadores da primeira plataforma portuguesa de investimento em projetos de impacto social e ambiental. O conceito inspira-se nos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e o seu objetivo é criar um “Banco Verde” através do qual pessoas que queiram investir em negócios que promovam a sustentabilidade podem apoiar financeiramente projetos de impacto, recebendo juros por isso.

“Em 2009, quando voltei a Portugal depois de ter vivido uns anos fora, comecei por procurar uma alternativa bancária ética, como já acontece noutros países, mas percebi que essa opção não existia. Pouco tempo depois, quis instalar um painel solar num telhado de uma casa de um familiar, mas juntar o dinheiro estava a ser mais difícil do que o esperado. Foi quando pensei, imaginei e organizei uma forma de encontrar quem emprestasse o dinheiro (investidores) em troca de receber juros pelo seu empréstimo”, recorda Nuno Brito Jorge.

Dessa ideia nasceu a Boa Energia, uma empresa da área da energia solar e que acabaria por dar origem à Coopérnico, a cooperativa de energias renováveis. “Só em 2017, quando saiu o regulamento português para o financiamento colaborativo, é que deixei a Boa Energia e convidei o Luís Couto e o Manuel Nina para criarem comigo a GoParity” acrescenta.

Com efeito, a GoParity é uma plataforma que cruza investidores com iniciativas de impacto social e ambiental, financiado pessoas ou empresas que queiram investir em negócios que promovam a sustentabilidade. A atividade está autorizada e supervisionada pela CMVM, e todas as transações estão asseguradas por uma instituição de pagamentos eletrónicos do Luxemburgo.

No entanto, apesar de o financiamento atuar como um empréstimo, o investimento comporta sempre o risco do sucesso de cada projeto investido. A plataforma recomenda a consulta atenta de cada proposta de financiamento e, para minimizar os riscos para os investidores menos experientes, é possível apoiar uma proposta de impacto social ou ambiental a partir de apenas 5 euros.

Assim, a GoParity acabou o ano de 2021 com mais de 10 milhões de euros investidos em sustentabilidade e com uma comunidade de 18 mil pessoas e empresas. “Duplicámos os investidores e triplicámos o valor investido em projetos de impacto. No que diz respeito ao número de projetos apoiados, já foram financiados mais de 180 projetos, e só em 2021 foram financiados mais projetos do que desde o início da plataforma, o que indica a tendência crescente dos investimentos em sustentabilidade”, sustenta Nuno Brito Jorge.

“A ideia é que a GoParity traga as finanças de impacto para o dia-a-dia das pessoas, oferecendo cada vez mais funcionalidades que se aproximam das que um banco oferece. No fundo, queremos que a Goparty dê resposta àquilo que não consegui encontrar quando precisava – uma solução que alinhe o meu dinheiro com os meus valores.”

Alinhamento entre a missão da empresa e os propósitos pessoais é fundamental

 “O que me levou a empreender diria que foi a vontade de responder pelas minhas próprias mãos a um problema que senti e que era muito maior que eu: o facto de não controlarmos onde o nosso dinheiro é alocado (quando está no banco) e ao mesmo tempo haver tantos projetos que gostaríamos que apoiar e que «não saem da gaveta» por falta de financiamento”, explica Nuno Brito Jorge.

“O que me move é a utilização do dinheiro para fins que beneficiem a sociedade e o planeta. No fundo a dispersão do poder, que como sabemos se encontra concentrado na mão de poucos privilegiados.”

Todavia não foi fácil começar a empreender, como – mais difícil ainda – empreender vários projetos em simultâneo. “Diria que talvez o aspeto mais difícil do que fiz até hoje foi a combinação de iniciar mais que um projeto e começar a ter filhos ao mesmo tempo. Tudo isto enquanto somos jovens e continuamos a querer ser o amigo divertido, o desportista com rendimento, etc. etc. É muito difícil (senão impossível) estar ao nosso melhor nível em todos os planos. É uma lição dura de aprender sozinho e da pior maneira. Mas acho que também faz parte de crescer”.

Crescer e aprender. Iniciar um projeto, quase sempre, implica conhecimento em áreas que não fizeram parte da formação académica e que, de um momento para o outro, se tornam em desafios. “Sim. Na verdade estamos sempre a aprender, a maior parte das vezes com os erros que cometemos. Áreas como liderança e gestão de pessoas são claramente áreas com as quais é fundamental ter muito cuidado e nas quais temos que estar sempre atualizados. Mas em muitas outras também, eu tinha a sorte de além de ser engenheiro ter feito um master em gestão de projeto, com uma grande vertente de negócio, pouco tempo antes de empreender. O resto é um constante “learning by doing”, sublinha Nuno Brito Jorge.

“Um dos maiores desafios do empreendedor prende-se com a atração de talento, sobretudo no início, quando não temos capacidade para oferecer salários de mercado. Escolher bem os cofundadores é fundamental, mas também que o negócio proposto seja justo e que todas as condições fiquem claras e por escrito. Poupam-se muitos problemas à frente”, frisa.

“Quando já se pode contratar – no nosso caso, ao ser uma empresa de impacto – uma das principais aprendizagens foi a importância no alinhamento entre a missão da empresa e os propósitos pessoais da pessoa a contratar. Falhei muitas contratações, mas hoje temos uma equipa fenomenal e isso, para um empreendedor, é extremamente libertador.”

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