Nuno Fonseca: “As maiores barreiras somos nós que as criamos”

Nuno Fonseca
Nuno Fonseca, Founder e CEO da Sound Particles

Que têm em comum filmes como Dune, Game of Thrones, Frozen 2 ou Starwars 9? Para além de serem grandes produções cinematográficas produzidas pelos gigantes de Hollywood, todas utilizam um software de áudio produzido por uma startup de Leiria.

Sound Particles desenvolveu um software de áudio 3D, que aplica computação gráfica ao som. Com esta tecnologia é possível criar ambientes épicos, como é o caso do filme Dune. Com quase cinco anos de existência, a startup foi fundada em 2016, por Nuno Fonseca, e hoje conta já com uma equipa de mais de 20 pessoas no desenvolvimento do produto utilizado por estúdios de cinema, de criação de jogos e mais recentemente também na produção de música.

“A ideia da Sound Particles surge muito antes da fundação da empresa – quase 10 anos antes – quando me apercebi que os efeitos visuais mais interessantes que via no cinema – como o fogo, fumo ou tempestades de areia – utilizavam ‘sistemas de partículas’, uma técnica de computação gráfica que constrói estes efeitos visuais, através da criação de milhares ou até milhões de pontos. Foi aí que considerei que seria interessante desenvolver uma lógica parecida para o som, ou seja, ter a possibilidade de gerar efeitos sonoros fantásticos, através da junção de milhares de pequenos sons”, explica Nuno Fonseca Fundador e CEO da Sound Particles.

Imagem de um programa de edição de áudio (fotograma de video da Sound Particles)

Doutorado em áudio do computador, e ex-professor universitário (informática, multimídia, tecnologia musical), Nuno Fonseca é autor do livro “Introdução à Engenharia de Som” e co-autor do livro “Desenvolvimento em iOS”, além de mais de 20 artigos sobre temas de investigação em áudio. Foi também o criador de vários softwares de áudio, entre os quais aquele que é atualmente utilizado em todos os principais estúdios de cinema.

“Depois de acabar o meu doutoramento em Computer Audio e, como ninguém estava a utilizar os sistemas de partículas para áudio, resolvi criar o meu próprio simulador, que utiliza estes conceitos da computação gráfica e dos efeitos visuais, mas aplicados ao som”, recorda.

Na altura, em 2012, Nuno era professor no departamento de Engenharia Informática, no Instituto Politécnico de Leiria, e acumulava também a função de professor convidado na Escola Superior de Música de Lisboa. Essa ligação entre as áreas tecnológica e musical levou-o a aprofundar e aperfeiçoar a sua ideia, embora tivesse consciência da improbabilidade de conseguir alcançar os mercados a que a sua solução se destinava.

“Eu sabia que seria um projeto interessante para grandes estúdios de Hollywood, mas é daquelas ideias que – qual é a probabilidade de alguém de Leiria criar um software para ser utilizado em grandes estúdios de Hollywood, em grandes produções?”

“Qual é a probabilidade de alguém de Leiria criar um software para ser utilizado nos estúdios de Hollywood?”

“Em 2014, quando me preparava para ir a Los Angeles, no âmbito de uma conferência científica, aproveitei para iniciar alguns contactos com estúdios no sentido de apresentar o meu projeto. A primeira resposta positiva chegou da SkyWalker Sound (o estúdio criado por George Lucas aquando da produção da Guerra das Estrelas) e que me convidou a ir ao SkyWalker Ranch, para fazer uma apresentação do primeiro protótipo.”

No espaço de seis meses, Nuno Fonseca apresentava a primeira versão do Sound Particles nos maiores estúdios de Hollywood: Universal, Warner Brothers, Fox, Sony, Paramount, entre outros. Mais tarde foi a vez da Disney, Pixar, Apple, Universidade de Stanford e Google, entre outras, lhe abrirem as portas.

Nuno Fonseca Founder e CEO da Sound Particles.

“A primeira questão que surgiu foi – ‘quando é que podemos brincar com isto?’”, lembra Nuno Fonseca. Dois meses depois, o protótipo já estava numa versão beta e, em 2015, estreava-se o primeiro filme onde tinha sido utilizado o software da Sound Particles: o remake do filme Poltergeist, produzido pela Fox, com o software a criar os sons dos fantasmas e do imaginário.

“As principais barreiras são as que nós criamos, ou que imaginamos que existem”

Hoje, a Sound Particles continua em Leiria mas, em quase cinco de existência, mudou o paradigma do software de áudio, ao aplicar computação gráfica ao som, criando um efeito de áudio 3D. Com uma taxa média de crescimento anual de 70%, a empresa conta com mais de 2.500 clientes em todo o mundo.

Olhando para trás, Nuno Fonseca destaca: “O maior desafio foi pessoal: tomar a decisão de avançar com a criação da empresa. Acho que as principais barreiras são aquelas que nós criamos a nós próprios, ou que imaginamos que existem.”

Para os outros empreendedores, Nuno recomenta: “Apostem em abordagens top-down. Comecem pelo topo do mercado, e depois vão descendo. Esta abordagem tem várias vantagens: é mais fácil (não é preciso a luta constante de subir degrau a degrau), usem a traction em vosso favor (os clientes de topo dão validação e credibilidade ao vosso projeto – “se é bom para eles (topo), também é bom para mim”), e tem muito mais piada!”

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