Estamos a viver a era das Startups.
São empresas jovens – quase todas de jovens, e talentosos – que se tornaram no novo foco central dos investidores e da ambição. Mas também da ganância e do dinheiro fácil.
São o novo eixo global do desenvolvimento e da inovação e vieram tomar o lugar dos departamentos de investigação dos grandes conglomerados empresariais.
Hoje, quase todas as grandes marcas globais ou grupos de investidores (vulgo Business Angels), em vez de investirem em investigação, compram Startups como quem vai ao supermercado.
Há demasiadas afinidades com o crash bolsista de 1987 ou com o estoiro da bolha da internet em 2000
As Startups vieram para ficar e, reconheçamos, tornaram-se incontornáveis. Têm um potencial de percepção do futuro muito superior às tradicionais áreas de inovação dos grandes gigantes tecnológicos do Mundo. Estes, por sua vez, tornaram-se incapazes de acompanhar internamente a velocidade tecnológica, sem a absorção, integração e domínio das Startups.
Mas, sem dramatizarmos, há algo que nos diz que poderemos estar de novo de regresso a uma moda insuflada, que terá que sofrer os seus reajustamentos e sofrerá também grandes decepções, com o decorrer de todos os vícios habituais dos mercados e das pessoas.
Há demasiadas afinidades, por exemplo, com o crash bolsista de 1987, que começou em Wall Street ou com o estoiro da bolha da internet em 2000.
Exagero? Não me parece.
Todos nos lembramos – pelo menos os já não tão novos – da linguagem eufórica e descontrolada no pré crash bolsista de 1987.
Dizia-se assim: “Compra Porto Cavaleiros! Porquê? Não sei, dizem que é bom!”. Ou “Compra Isar Rakoll ou Caima! Mas Porquê? Nunca ouvi falar? Não faço ideia, mas deve ser bom, todos falam nisso!”
Foi assim que se chegou ao Crash de Outubro de 1987. Quem o viveu recorda-se muito facilmente.
Depois, em 2000, tivemos a crise das chamadas “dot com”. A narrativa, antes do estoiro, era algo parecida.
Dizia-se: “Não vais investir na Boo.com? Mas essa empresa dá prejuízos desde que nasceu e já absorveu milhões em investimento! Nada disso, tens que te focar nos lucros futuros, isso é que interessa!”.
“Podes também comprar acções da Pets.com! Mas o que é isso? Não te preocupes, não ouviste falar na “Felicidade Perpétua”? Então investe, a era dos prejuízos é do passado.
Assim, chegámos ao estoiro das empresas da Internet na bolsa em Março de 2000.
A revolução tecnológica tinha começado com o colapso de milhares de empresas por todo o mundo! Todas inovadoras, disruptivas, visionárias e potenciais excelentes negócios!
Estaremos perto do colapso?
Nesta fase da euforia “startupiana”, podemos questionar se estaremos próximo de um registo descontrolado, desregrado e ganancioso, replicado das crises anteriores, embora sem grande exposição bolsista?
Creio que sim.
A Bolsa oferece sempre uma dimensão, um tempo e uma dinâmica negativa a estas coisas, quando chegamos ao momento do crash.
A alma da euforia Startup ainda não está plasmada nem viciada nos mercados bolsistas. Têm, por enquanto, outros caminhos!
O impacto do nervosismo bolsista na moda das Startups pode acontecer apenas aos chamados Unicórnios, (vá-se habituando aos chavões nascidos da ganância!) que são empresas que de repente são “valorizadas” acima dos mil milhões de dólares e tendem a entrar também na Bolsa com os seus fulgurantes e mediáticos IPOs.
O clima envolvente, a postura e a ganância são iguais, vinte ou trinta anos depois…
Hoje, muitos dos investidores, sempre na corrida ao dinheiro fácil, não são muito diferentes. Já ouvi coisas muito parecidas com as pré-crises do passado e fiquei avisado.
Por exemplo: “No meu portfólio de investimentos já tenho quinze empresas. Mas sei que doze ou treze delas vão falir. Com as duas ou três que se vão salvar, tenho que pagar os prejuízos das falidas, recuperar o meu dinheiro e ganhar uma pipa!”.
O problema é exatamente este. O clima envolvente, a postura, a ganância, são sempre iguais, vinte ou trinta anos depois.
Num futuro próximo, de quinze ou vinte Startups, apenas duas ou três seguirão o seu caminho seguro. A diferença é que ninguém investirá nas outras dezasseis ou dezassete que, à partida, todos sabem que vão falir.
Agora ainda investem. Porquê?
Pois, essa é a equação que o tempo e o mercado irão resolver.