É recorrente ouvirmos nos principais meios de comunicação internacionais as expressões ‘O Milagre de Lisboa’ ou ‘Lisboa é a nova Berlim’ quando se referem à dinâmica de empreendedorismo e inovação que tem acontecido em Lisboa ao longo dos últimos cinco anos.
O Milagre de Lisboa apenas pode existir para quem acredita em ‘milagres’. Acredito que muito do que está a acontecer em Lisboa é o resultado de uma grande ambição, de uma estratégia global e federadora de múltiplos actores que têm vindo a colocar a cidade numa trajectória de crescimento e inovação sem paralelo na sua história recente. Esta estratégia procura, por um lado, colocar Lisboa no palco internacional da atracção e retenção de investimento, empresas e talentos; e, por outro lado, oferecer soluções e iniciativas para que qualquer empreendedor possa criar e expandir a sua empresa a partir de Lisboa.
Se centrarmos a nossa atenção no Ecossistema Empreendedor de Lisboa, este é actualmente constituído por 15 Incubadoras de ‘startups’ (a Startup Lisboa, com três espaços de incubação na cidade e uma residência para empreendedores, é hoje uma referência em Portugal e na Europa); vários programas de aceleração de empresas, dois deles de âmbito internacional (o ‘Lisbon Challenge’ e o ‘Building Global Innovators’); 5 Fab Labs e espaços para Makers (entre eles o FabLab Lisboa); mais de 40 espaços de Coworking; e uma rede cada vez mais dinâmica de ‘business angels’ e capitais de risco.
Se seleccionarmos apenas os espaços de incubação e programas de aceleração existentes em Lisboa, chegamos a um conjunto de indicadores que nos ajudam a ter uma ideia aproximada da dimensão desta realidade. A partir de uma inquirição a estes espaços em Agosto de 2016, concluímos que existiam cerca de 475 startups alojadas em incubadoras e aceleradores, as quais representavam mais de 3.160 posto de trabalho directos.
Se fizermos o mesmo exercício para os últimos três anos, percebemos que estes números atingem mais de 1.340 ‘startups’ que representam cerca de 5.730 postos de trabalho directos, incluindo aqui as ‘startups’ que estão instaladas mas também as chamadas Alumni, ou seja, empresas que entretanto saíram destes espaços e que se têm expandido em Lisboa e/ou no estrangeiro.
Estas ‘startups’ e empreendedores conseguiram ao longo dos últimos três anos levantar mais de 180 milhões de euros. Este valor inclui o somatório dos investimentos obtidos por ‘startups’, cuja informação é pública, e ainda informação enviada por Incubadoras e Aceleradores, que conseguiram indicar os valores levantados pelas suas ‘startups’ (actuais e Alumni). Se olharmos para as estatísticas do INE, constatamos que em Lisboa o ritmo de constituição de empresas de 2008 até 2015 foi de 3,8%. Em 2015 foram constituídas mais de 4.700 empresas – com um saldo líquido positivo neste ano superior a 1300 empresas.
Se centramos a nossa atenção na dinâmica de criação de empresas em sectores intensivos em conhecimento e de elevada tecnologia, esta dinâmica é ainda mais favorável, com uma taxa de crescimento médio anual de 5,4% entre 2008 e 2015, contrariando uma tendência de diminuição do número de empresas sentida após a crise de 2008. Para se ter uma ideia, só em 2015 foram constituídas em Lisboa cerca de 310 empresas em Sectores Intensivos em Conhecimento e de Alta Tecnologia, os quais incluem Farmacêutica, TICs, programação informática e actividades de consultoria e outros serviços às empresas, Cinema, Vídeo e Audiovisual e as Actividades de I&D.
Sendo fundamental conhecer o retrato actual do Ecossistema Empreendedor de Lisboa, é igualmente importante perceber o seu papel na transformação do perfil de especialização da cidade e da região. Muitas destas ‘startups’ e empresas estão a trabalhar em sectores caracterizados por uma elevada aceleração, convergência e inovação tecnológica, onde a competição acontece a uma escala global e onde as taxas de crescimento, em valor e em empregos altamente qualificados) são muito elevadas (em muitas situações ultrapassando os dois dígitos. Algumas destas empresas estão efectivamente a trabalhar na vanguarda de novos sectores económicos e, neste sentido, poderão abrir novas avenidas de crescimento e criação de emprego em áreas emergentes na economia mundial.
Acredito que uma das principais razões para que Paddy Cosgrave, o CEO da Web Summit, tenha escolhido realizar o maior evento mundial de tecnologias digitais e Web em Lisboa, foi este fervilhar e esta dinâmica do ecossistema empreendedor. Penso inclusive que esta será uma das razões para que esta edição da Web Summit venha a ser a melhor de sempre. A razão principal não oferece dúvidas: Lisboa é uma das mais extraordinárias cidades da Europa e do Mundo!