Definitivamente, tinha de escrever um artigo sobre Estratégia. É absolutamente inacreditável como a grande maioria dos chavões sobre estratégia que ouvimos todos os dias, são ditos por pessoas que não têm qualquer ideia do que realmente é estratégia.
- Este é o nosso objetivo estratégico!
- Eu gosto de pensar estrategicamente!
- Este lançamento de dados foi estratégico!
- Esta é a nossa estratégia de preços!
Mas o que é verdadeiramente estratégia, e porque é ela é assim tão importante? Porque é que uma pessoa como eu perde (ou, do meu ponto de vista, investe) tantos anos a estudar estratégia e acaba por ser um aficionado, súbdito, da mesma?
Talvez valha a pena começar por uma breve introdução – assim mais para o teórico – sobre o que é estratégia.
Estratégia é o coração, a espinha dorsal (esta expressão em Português delicia-me sempre), a linha de partida de qualquer empresa.
O que é que empresas como a Nike, Apple, EasyJet, Starbucks, Red Bull, Airbnb, Coca-Cola, ou IKEA têm em comum?
Exatamente. Todas elas respiram e compreendem estratégia.
Vamos lá entender finalmente o que é estratégia, e como esta se aplica no nosso dia-a-dia
Em primeiro lugar, estratégia significa apenas uma, e uma só palavra:
FOCO
Agora, os meus caros leitores não conseguirão imaginar a quantidade de vezes que eu já vi o conceito de estratégia ser mal aplicado.
Quando ainda estava a trabalhar no meu primeiro emprego no mundo corporate, tinha por hábito gostar de ajudar os meus colegas de gestão de produto, dado que muitos deles – e por força do tipo de produtos tecnológicos que a empresa fornece – tinham uma educação puramente técnica em áreas de engenharia. Ora, sendo eu um oriundo de gestão e um apaixonado por melgar os outros com questões ‘estratégicas’, nunca perdia uma oportunidade de demonstrar toda a minha sapiência.
Era frequente partilharmos ideias e noções sobre como melhorar a performance dos nossos produtos e serviços. E eis então um exemplo do tipo de diálogo que por vezes tínhamos:
‘Mas, Joaquim, conta-me lá, afinal este produto é para grandes ou pequenas empresas?’
E, mesmo neste exemplo de uma simplicidade atroz, poderão rapidamente deduzir o tipo de resposta que costumava obter:
‘É para ambos os tipos!’ – Excecional!
É com base nesta típica falta de noção da importância de pensamento estratégico, que eu gostaria de recomendar alguns padrões basilares que visam melhorar a vida do meu caro leitor, em todas as suas dimensões, desde o seu sucesso a nível profissional, mas também, e naturalmente, pessoal.
Daqui para a frente, saberá realmente o que é pensar estrategicamente – se é que não o sabe já, estou a partir do princípio que o que vou dizer é uma novidade, mas ficarei satisfeito por saber que para si é apenas uma constatação de algo mais que óbvio e pertinente.
Vamos lá, então.
O primeiro apontamento é, de facto, sublinhar que estratégia significa FOCO, acima de qualquer outra definição. Permitam-me os autores dos celebrados livros de microeconomia defender que todas as definições híper académicas às quais temos acesso nestes belos livros, não passam de uma floresta amazónica a tapar um brilhante e vívido oásis no meio – é o chamado engodo.
No exemplo que referi acima do meu diálogo com um colega meu, cabe-me constatar que este meu colega achava convictamente que a única forma de um produto ser verdadeiramente bem-sucedido era ‘não deixar dinheiro em cima da mesa’.
Certamente já terá ouvido falar desta expressão. Portanto, o produto tinha de agradar aos interesses das pequenas empresas, mas também das grandes empresas. Este meu colega – por quem tenho franco apreço – não estava a entender que, para conseguirmos criar um produto verdadeiramente fantástico e que aporte o valor desejado, não podemos andar a dispersar a nossa atenção e recursos em todas as direções.
Não. Temos de ter FOCO!
É naturalmente dificílimo – para não dizer, impossível – desenvolver um produto que combina o que as pequenas empresas dão valor, com o que as grandes empresas precisam.
Sejamos sinceros, este é o primeiro sinal de uma expressão da qual gosto bastante: ‘Stuck in the middle’ – Preso no meio, em Português? Não está fácil de arranjar uma tradução.
E esta realidade de estar ‘preso no meio’ (talvez ‘encalhado’ seja melhor) é extremamente comum quer nós estejamos a falar sobre negócios ou sobre a nossa própria vida pessoal. A grande maioria dos cidadãos e cidadãs deste belo país jamais irá entender que, desde os negócios das empresas mais pequenas até às mais ‘graúdas’ – grandes organizações -, todos eles estão stuck in the middle. Verdadeiramente encalhados, e essa é a razão que origina fraco crescimento, já para não dizer falência, pois as empresas acabam por nunca ter propostas de valor únicas e diferenciadoras.
É até interessante como este fenómeno também se tende a passar na vida política do país, nos media, e mesmo na nossa vida pessoal, como já tinha referido. Passamos tanto tempo preocupados com o que as outras pessoas pensam de nós que esquecemos o que nos torna únicos e ‘estranhos’. Ignorando nós que no dia em que deixarmos de ser diferentes, vamos todos cair na poça da normalidade, onde nada acontece, onde ninguém se destaca, mas ao menos vivemos todos confortáveis porque ninguém nos critica.
Naturalmente que esta noção de entender e abraçar a importância de ter FOCO nos leva a um segundo ponto que gostaria de partilhar consigo. Saber dizer ‘NÃO, nós não fazemos isso.’
Se tiver curiosidade em saber uma das melhores regras de estratégia, aproveite agora esta oportunidade única: Defina EXATAMENTE quais são as coisas que NÃO faz. E depois, tenha a capacidade de ser coerente e manter a sua decisão, pois a consistência é o que realmente vai gerar grandes resultados a longo prazo.
Pense e selecione concretamente aquilo no qual o seu negócio é melhor. Reflita sobre as suas forças e aquilo que torna o seu negócio – ou mesmo a si, a nível pessoal – único.
Depois, prego a fundo nessas forças, foque-se no que pode ser mesmo muito bom e prepare-se para dizer NÃO a tudo o resto que aparecer no seu caminho enquanto possível distração.
Esteja preparado para dizer NÃO a clientes que lhe pedem para ir numa direção contrária àquela que pensa ser a melhor para o seu negócio.
Isso é francamente difícil, eu compreendo perfeitamente. É pelo facto de que dizer NÃO é tão difícil que a maior parte das pessoas acaba por nunca o fazer. Imagine que a sua empresa está a passar dificuldades financeiras e há um cliente a pedir-lhe para fazer um trabalho que não está alinhado com o seu vetor estratégico. O primeiro pensamento será quase sempre: ‘Bom, eu preciso do dinheiro, é melhor aceitar.’
É incrivelmente tentador, sem dúvida. Mas é por isso que ter uma estratégia é absolutamente crucial. Porque se tiver um plano para o seu negócio ou para a sua vida pessoal bem traçado e estiver verdadeiramente dedicado a ser bem-sucedido, sinceramente, da próxima vez que lhe aparecer algo a distrair à frente, será desproporcionalmente mais simples encontrar as forças para dizer:
‘NÃO, eu não faço isso.’
Faz sentido?
O meu caro leitor pode encontrar este tipo de questões e dúvidas em praticamente todas as categorias da nossa vida. Deixe-me dar-lhe um exemplo em particular: Imaginemos que tem um emprego em full-time, mas gostaria imenso de poder criar o seu próprio negócio; mudar de vida, fazer algo que verdadeiramente goste, etc. Imaginemos que este trabalho lhe ocupa cerca de 8 a 12 horas por dia, ainda não incluindo as belas horinhas de trânsito que apanha todos os dias.
Se me perguntar se eu acho que deve e consegue criar um negócio em paralelo, naturalmente que lhe vou dizer ‘sim, claro que sim, e eu teria todo o gosto em ajudá-lo!’, mas sejamos sinceros, uma pessoa que despende a sua energia num emprego não poderá nunca ter o mesmo potencial de eficácia e de rapidez que uma outra pessoa apenas alocada a criar o seu próprio negócio.
Preferências de lado, o facto inegável é que aquele completamente focado irá ter um potencial desproporcionalmente maior de lançar e crescer um negócio, do que aquele que está a trabalhar em regime de ‘best-effort‘, que infelizmente acaba por levar até a um desgaste imenso com as preocupações e responsabilidades diárias em paralelo com tudo isto.
É a esta ineficiência que tem inequivocamente impacto a um nível exponencial que me refiro quando falo sobre ‘being stuck in the middle‘.
E caso ainda não acredite em mim ou nem todos os pontos estejam a fazer muito sentido, gostaria agora de finalizar com uma história interessante sobre o Sir Richard Branson.
Alguns anos atrás estava a ser criado um daqueles tão comuns eventos / conferências com oradores, para o qual o organizador queria convidar Sir Richard Branson. Tendo por base essa vontade, o organizador decidiu contactar Richard Branson.
Primeiro, começou por um simples convite formal, sem associar qualquer tipo de compensação. Só que, alguns dias depois, recebe uma notificação de rejeição por parte da secretária do Richard Branson – e aqui, por favor, perdoe a minha falta de memória, eu não sei ao certo se era a secretária, mas também não importa para o âmbito da história.
A carta de rejeição dizia algo como ‘O Sir Richard Branson lamenta mas não pode aceitar o simpático convite… etc., etc.,’.
Então, demonstrando uma inabalável determinação, o organizador do evento decide associar uma compensação pela presença de Richard Branson, pensando ele que talvez fosse uma questão de dinheiro. Contudo, esta oferta também foi recusada.
E ainda assim, o homem não desistiu! Foi fazendo constantes evoluções à sua proposta, até chegar ao valor de 500 mil dólares para uma simples apresentação de 30 minutos no evento. E as propostas continuaram a ser rejeitas, umas atrás das outras. Até que, a certa altura, o organizador deita a toalha ao chão e pergunta à secretária:
‘Ok, diga lá: o que é que é preciso para ter o Sir Richard Branson como orador?‘
E esta foi a resposta que recebeu da secretária: ‘Tenho instruções explícitas para não importunar o Sir Richard Branson com nenhum outro tema que não esteja relacionado com a sua principal prioridade.‘
E sabe que mais? A triste verdade é que a maior parte das pessoas vai ler esta história e pensar: ‘Ah, cá está! O Richard Branson tem tanto dinheiro que até se dá ao luxo de rejeitar propostas de 500 mil dólares! Deve ser bom ser rico!’
Mas a franca realidade é totalmente diferente. Ei-la: É precisamente porque o Sir Richard Branson desde sempre entendeu a importância de ter FOCO que ele hoje se encontra nesta posição. Esta é a verdade, e NUNCA o contrário.
O que provavelmente o meu caro leitor não sabe é que este senhor está desde o início da sua viagem a exercer e a demonstrar tremendos níveis de foco. Já muito antes de ter propostas para ser orador em eventos, ele já recusava tudo aquilo que não fosse de acordo com a sua prioridade.
Entende? É que nós, seres humanos, gostamos muito de arranjar desculpas e justificações para o sucesso dos outros, pois não queremos VER a realidade. E, curiosamente, esta verdade é francamente simples de entender, mas porque achamos que ela é demasiado óbvia, acabamos por nunca a levar a sério, o que naturalmente faz com que nunca a executemos, o que por fim leva a que não tenhamos os resultados que gostaríamos de ter.
Esta é a verdade sobre o que significa pensamento estratégico.
Tudo aquilo que atingirá na sua vida vai depender inteiramente da sua determinação e capacidade de ter consistência em fazer APENAS aquela que é a sua principal prioridade, num determinado momento. Isto é o que significa estratégia.
E o que o Sir Richard Branson está a fazer ao indicar à secretária que não quer ser incomodado é apenas ser ‘estratégico’. Ele está a dizer NÃO para tudo o resto que possa aparecer e que certamente não será tão importante como a sua prioridade. Naturalmente que é preciso entender que há exceções e que nem tudo é preto ou branco, mas sim, esta é uma das grandes regras da vida.
E ter esta capacidade de dizer convictamente ‘NÃO, eu não vou fazer isso!‘ é o fator distintivo das pessoas e dos negócios incrivelmente bem-sucedidos. Em última instância, é o que permite a certas empresas continuarem a crescer e a manter-se saudáveis durante tantos e tantos anos, num ecossistema que está em constante mutação.
Nunca aceite ficar ‘encalhado’. Relembre-se do stuck in the middle. As empresas que não têm uma proposta de valor única e diferenciadora, assente naquilo que elas são melhores a fazer, nunca serão verdadeiramente líderes em nada, pois haverá sempre uma ou outra exceção que, dado o seu nível de foco, ultrapassam em larga escala todas as outras.
A não ser que tenha alguma forma de gerar uma vantagem competitiva – há várias possibilidades, mas nem sempre acessíveis a todas as empresas – não estou sinceramente a ver como é que pode esperar criar um negócio duradouro e próspero. Não estou a ver como é que um corredor aos ziguezagues pode ser mais rápido que um outro em linha reta.
Espero então que esteja agora claro o que é pensar estrategicamente e qual é o ponto no qual tantas empresas falham, mas acima de tudo, espero que tenha conseguido transmitir-lhe a importância destas noções para a sua própria vida, de forma a que encontre o nível de preenchimento que procura.
Se quiser saber mais, visite o meu site através do qual procuro apoiar empreendedores de todo o mundo.