Projeto Exchange: Histórias que mudaram vidas

O exchange teve o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e resultou de uma parceria entre a Plataforma para a Educação do Empreendedorismo em Portugal (PEEP) e a Bagabaga Studios e o resultado desse projeto é agora exposto online num conjunto de testemunhos de mulheres que conseguiram ‘dar a volta’ tornando-se empresárias.

Apesar dos enormes progressos que as mulheres fizeram no campo profissional, o empreendedorismo feminino, e particularmente o empreendedorismo imigrante feminino, é uma área onde ainda há necessidade de mais desenvolvimento e apoio. O potencial empreendedor feminino permanece em grande parte inexplorado, com as mulheres confrontadas com obstáculos e perceções sociais desatualizadas que muitas vezes as impedem de alcançar uma vida profissional adequada.

Com isto em mente, a PEEP criou um projeto orientado para o desenvolvimento e capacitação do potencial empreendedor inexplorado das mulheres. O principal objetivo do projeto é promover a igualdade de género e da inclusão das mulheres, nomeadamente desempregadas e de origem imigrante, no mercado de emprego e na sociedade. Para esse efeito, foi criada uma rede que fomenta a colaboração e a partilha entre mulheres empreendedoras e os técnicos dos diferentes setores do empreendedorismo feminino; e pela capacitação de ONG’s e organismos públicos para a concretização de projetos que promovam o empreendedorismo, a igualdade de género e a luta contra a discriminação.

Parte desse trabalho fica revelado nos testemunhos de nove projetos realizados por mulheres empreendedoras.

Alexandra Pardal

Portuguesa, 40 anos, proprietária de uma loja de calçado.

Quando ficou desempregada, Alexandra descobriu que em Portugal não existia nenhuma loja que só vendesse calçado sem pele. Encontrou no nicho de negócio o caminho que procurava e aliou-o a uma preocupação antiga: a proteção da natureza. Como não tinha dinheiro para abrir a loja, recorreu ao microcrédito, ‘a única solução’ que encontrou.

Dedica mais horas ao trabalho hoje do que quando tinha um chefe, mas a liberdade de poder ser dona das suas rotinas é incomparável. Tomar o pequeno-almoço com as filhas e poder levá-las à escola são duas das atividades de que não abdica na sua nova vida.

 

Caroline Prüfer

Brasileira, em Portugal desde 2008, 35 anos, empresária.

Para arrancar com uma empresa de serviços, Caroline reconhece que, mais do que dinheiro, o tempo é o principal investimento. A dedicação, a vontade e o empenho pessoal dos profissionais são o que fazem a diferença.

Para se ter sucesso, defende, é preciso conhecer o mercado e direcionar o rumo da empresa em função das necessidades e não apenas de uma paixão.

 

Cuka Linck

Brasileira, em Portugal desde 2013, 28 anos, cozinheira.

Cuka começou a cozinhar no dia em que se tornou vegetariana. Depois disso, desistiu da universidade, criou um coletivo e fez das panelas o seu instrumento de trabalho. Sempre quis saber mais, experimentar mais e quando imigrou para Portugal percebeu que poderia viver com o dinheiro que ganhava como cozinheira.

Ter um plano, atitude e insistir são os seus segredos para o sucesso que, garante, não surge, constrói-se. Faz parte do grupo Ecosol – uma moeda social baseada em trocas que se integra no movimento das Finanças Sociais e Solidárias – e sempre que pode compra os alimentos diretamente ao produtor.

 

Filomena Djassi

Bissau-guineense, em Portugal desde 1987, 30 anos, assistente social.

Para Filomena ser empreendedor é criar algo, que não tem necessariamente de ser um negócio gerador de rendimento. Considera-se empreendedora porque não consegue ficar parada, gosta de estar sempre a estudar, o seu vício é saber mais.

Ao trabalho na Fundação AgaKhan, soma um doutoramento e lidera vários projetos de ação social. Trabalha sobretudo com comunidades imigrantes a quem quer dar voz, fazendo-as apoderar-se dos contextos onde vivem e orgulhar-se das suas raízes. Dar palco aos outros e deixá-los tomar as rédeas do que criou é o seu grande desafio enquanto líder.

 

Irina Barannik

Estoniana, em Portugal desde 2007, 41 anos, esteticista.

Para poder pagar o curso de esteticista, trabalhou numa loja de telemóveis e na limpeza de obras. Quando chegou a Portugal ligava muitas vezes à mãe a dizer que queria voltar.

No início de 2015, depois de cinco anos a trabalhar num cabeleireiro, juntou-se a uma amiga e montou o seu próprio gabinete de estética. Sempre quis construir algo ‘diferente’ e ‘maior’. As clientes ofereceram-lhe um frigorífico, uma televisão e até rebuçados. Lá para o final do ano, espera já ter tudo ao seu gosto.

 

Kessy e Zurire Unzeta

Peruanas, em Portugal desde 2001, 28 e 31 anos, proprietárias de loja de bijuteria.

Na loja de Kessy e Zurire tudo é feito à mão. Além de uma paixão da adolescência, as duas irmãs encontraram na bijutaria artesanal uma alternativa ao que já existia no mercado. Com a ajuda da mãe, as poupanças que tinham e o recurso ao microcrédito abriram a primeira loja da Missangas & Companhia, no Chiado, em Lisboa.

Hoje contam já com quatro estabelecimentos mas garantem que o início não foi fácil: trabalhavam dia e noite só para pagar as despesas, sem poderem tirar um ordenado para si. A idade fez com que muitos não as levassem a sério ou as tentassem enganar, mas, quando olham para trás, garantem sentir-se orgulhosas.

 

Maria del Carmen Mellado

Espanhola, em Portugal desde 1998, 45 anos, formadora de tricô.

Aos 40 anos uma gravidez inesperada mudou a vida de Carmen. A vontade de ter tempo para a filha, de a ver crescer de perto, fê-la apostar num projeto de tricô livre de horários. Começou por vender peças em mercados de rua e hoje tem um sonho: criar a sua própria escola de costura.

Força de vontade e persistência estão impressas no seu discurso. Os irmãos ofereceram-lhe uma ‘máquina de costura de brincar’, como lhe chama, e os vizinhos levam-lhe tecidos e linhas para poder trabalhar. Sabe que o que deseja constrói-se por etapas e, às vezes, também se sente desmotivada. Apesar disso, ‘não vou desistir’ é a frase que mais repete.

 

Nicole Souto

Portuguesa, 33 anos, designer.

A crise fez Nicole desistir da empresa de web design que geria com o marido e obrigou-a a procurar novos desafios. Como não arranjou trabalho, decidiu dedicar-se a uma ideia antiga: desenhar bijuteria com materiais antialérgicos. Confessa que se tivesse uma veia mais comercial, a Beija-Flor já poderia ser uma empresa maior.

Para compor o orçamento familiar, também trabalha como fotógrafa e dá uma ajuda na imobiliária do cunhado. É uma mulher cheia de ofícios e esse é o seu grande desafio: conciliar as muitas horas de trabalho e as tarefas pendentes com a gestão da vida familiar.

 

Orlanda Barbosa

Moçambicana, em Portugal desde 1980, 49 anos, proprietária de restaurante.

Há muitos anos que Orlanda sonhava montar um restaurante onde pudesse, ao mesmo tempo, cozinhar e divulgar a cultura do seu país, Moçambique. Quando decidiu largar o emprego na função pública, não esperava que os bancos lhe negassem um empréstimo.

As instituições não acreditaram no seu projeto mas as pessoas sim: aceitaram que o aluguer e as obras do restaurante só fossem pagas quando este começasse a faturar. Hoje quase nunca sobram mesas vazias, mas os desafios continuam a ser muitos: tratar da burocracia, das contas para pagar, são processos que Orlanda desconhecia e com os quais ainda tem dificuldade em lidar.

 

A PEEP e Bagabaga Studios

O projeto exchange resultou da parceria de duas entidades: A PEEP – Plataforma para a Educação do Empreendedorismo em Portugal é uma Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD), que tem como missão promover o desenvolvimento e a implementação de programas de apoio à educação e formação para o empreendedorismo, através de projetos de investigação e capacitação, e do acompanhamento do processo de desenvolvimento de políticas públicas.

Já a Bagabaga Studios, uma produtora especializada em conteúdos para medias digitais e à formação e investigação nas áreas da cooperação e desenvolvimento. A Bagabaga Studios inspirou-se nas torres erguidas pelas térmitas (de onde resulta o seu nome em crioulo guineense) para dar significado ao trabalho de equipa que se reflete nas suas produções. Através de narrativas plurais e aprofundadas, procuram desafiar ‘as fronteiras convencionais do jornalismo e do cinema documental’, remisturando conceitos para ligar comunidades e ‘revelar’ informação.

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O Empreendedor é um projecto de empreendedorismo colaborativo que pretende desenvolver e testar novas formas de cooperação entre indivíduos e organizações ligadas ao empreendedorismo.

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