Relatório “SEM FILTRO”: 50% das mensagens no X sobre feminismo são negativas

Metade das publicações sobre feminismo no X são negativas, refletindo uma crescente polarização e estagnação do debate sobre igualdade.

Foto de LLYC/Relatório "SEM FILTRO"

A conversa sobre feminismo nas redes sociais não só estagnou, como se tornou cada vez mais polarizada. Um estudo da LLYC, que analisou 8,5 milhões de mensagens no X em 12 países, revela que metade das publicações sobre feminismo têm um tom negativo, desmistificando a perceção de que há uma sobre-exposição do debate sobre igualdade.

Os dados evidenciam que as comunidades contra-feministas são mais radicais e fechadas, com 98% dos perfis anti-igualdade altamente polarizados e menos recetivos ao diálogo. Além disso, essas comunidades utilizam insultos três vezes mais do que os defensores mais extremistas do feminismo.

O feminismo está a ser injustamente estigmatizado

Para Luisa García, CEO Global de Assuntos Corporativos da LLYC e coordenadora do estudo, o debate digital não está a evoluir de forma construtiva: “O relatório conclui que os campos feminista e contra-feminista estão a afastar-se cada vez mais, em grande parte devido à radicalização do próprio discurso, às correntes políticas e à crise de identidade de alguns grupos. “

No entanto, salienta Luisa García, “os números mostram claramente que o feminismo tem sido injustamente estigmatizado e que a ideia de que se fala demasiado de igualdade é falsa. A conversa estagnou e existe o risco de se inverterem os progressos registados. O ruído e um ecossistema digital que amplifica o confronto não nos devem fazer perder o centro do debate.”

A pesquisa também indica que as buscas sobre “igualdade” e “feminismo” diminuíram 40% e 50%, respetivamente, nos últimos três anos. Essa tendência reflete um desinteresse crescente e uma menor abertura ao debate.

Foto de GPointStudio em Freepik

O cenário em Portugal: uma conversa menos radicalizada, mas ainda polarizada

O relatório identificou tendências específicas para Portugal, destacando-se:

  1. As comunidades anti-feministas em Portugal geram menos 5% de conversação do que a média dos 12 países analisados, enquanto os grupos feministas e pró-igualdade são 6% mais ativos do que a média.
  2. O feminismo português é um dos mais isolados do mundo, com uma conversação 48% menos dispersa do que a média.
  3. O campo anti-feminista é 39% mais disperso do que a média, tornando Portugal o segundo país com o discurso anti-igualdade mais diversificado e aberto.
  4. O interesse e as pesquisas sobre igualdade e feminismo no Google caíram 54% nos últimos três anos.
  5. 36% das mensagens anti-feministas associam o feminismo à radicalização e 31% à ideologização e ao partidarismo.
Foto de Antoni Shkraba em Pexels

A polarização digital e os perigos para o futuro do debate

A nível global, o estudo destaca que nos países onde o feminismo tem maior presença na agenda pública, a conversa tende a ser mais moderada e diversificada. Já em locais onde o debate sobre igualdade é menos recorrente, o discurso anti-feminista é mais agressivo e homogéneo.

Além disso, os cépticos do feminismo têm 1,6 vezes mais probabilidades de adotar um discurso extremista do que de se abrirem ao debate. Esta tendência é preocupante, pois indica um risco crescente de radicalização dos jovens, especialmente os homens, afastando-os da defesa da igualdade.

Outro dado alarmante é a utilização das redes sociais como ferramenta de ataque. O estudo revelou que 1 em cada 3 publicações contra-feministas no X utiliza termos ofensivos ou desqualificadores, sem apresentar argumentos ou propostas concretas.

Foto de Krakenimages em Freepik

O futuro do debate sobre igualdade

O estudo “SEM FILTRO” da LLYC alerta para um momento crítico no debate sobre igualdade de género. A estagnação da conversa, combinada com a crescente polarização digital, pode comprometer avanços conquistados nas últimas décadas.

Os autores do relatório consideram que, para evitar retrocessos, é essencial promover uma comunicação baseada em factos e diálogo aberto, combatendo a desinformação e incentivando uma conversa mais construtiva e diversa sobre o feminismo e a igualdade de género.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor escreva o seu comentário!
Por favor coloque o seu nome aqui

1 × 2 =