Nesta primeira fase, Bruno, de 29 anos, e a sua equipa estão focados no desenvolvimento do primeiro produto, a Agroop Operacional. Trata-se de uma aplicaçãomultidevice
Com a ideia a ganhar forma e uma campanha de financiamento a decorrer na Seedrs, Bruno Fonseca partilhou com o Empreendedor.com um pouco da experiência empreendedora.
O que o levou a empreender?nSempre tive um enorme fascínio por todas as pessoas, que do nada, ou com muito pouco, conseguiram criar projetos verdadeiramente grandiosos e genuínos. Acho que fazer crescer um projeto é realmente fantástico; temos de percorrer um percurso exigente e riquíssimo, dar tudo de nós e empenharmo-nos por ‘inteiro’.nSempre senti que nós, enquanto seres humanos, temos a capacidade de fazer escolhas. Eu limitei-me a fazer a minha. Estou a amar esta aventura. Mesmo que o projeto falhe, já ganhei muito mais do que aquilo que eventualmente possa vir a perder. Pior do que falhar, é sentir que não tentei. Não me quero arrepender por algo que não fiz.
Como surgiu a ideia para este projeto?nA ideia surgiu quando o eu estava a fazer um trabalho de branding para um jovem agricultor de Idanha a Nova. Entre várias conversas, o agricultor referiu que precisava de uma ferramenta digital que o apoiasse na gestão operacional do seu dia a dia, contudo, segundo ele, as ferramentas existentes, que ele conhecia, aportavam um custo elevado, não podiam ser usadas num smartphone ou tablet e eram muito pouco intuitivas.
Sendo, designer, acreditei ter a capacidade para materializar algo que respondesse exatamente às necessidades daquele e muitos outros empresários agrícolas. O próximo passo, foi construir, com o apoio do Passaporte para o Empreendedorismo, uma equipa muito competente, focada e resiliente, capaz de tornar a visão em realidade.
Para além de si, quem faz parte da sua equipa?nAlém de mim a equipa a full time é constituída por Bruno Rodrigues (UI/UX designer), Rogério Ribeiro (Adjunct brand e designer), João Aires (Front-end developer) e Marco Abílio (Back-end developer). Constamos também com o apoio permanente do nosso painel de consultores multidisciplinar (João Preto, João Caldeano, João Fonseca, João Horta, Nuno Silva, Daniel Raposo, Manuel Fernandes e Ricardo Machado). Além disso, temos também parceiros internacionais em regime de voluntariado que nos representação na Suécia (Tomás Rocha), Noruega (André Alves) e Brasil (Diego Ribeiro).
Teve de fazer um investimento avultado? Se sim, como conseguiu disponibilizar esse capital? nAté agora a Agroop representou um investimento de aproximadamente 60.000EUR. O programa ‘Passaporte para o Empreendedorismo’ sob a forma de bolsa, contribuiu com aproximadamente 25.000EUR. Os restantes 35.000EUR surgiram com o apoio de familiares, mas principalmente de outros investidores que conhecemos por via pessoal ou através do Seedrs é também neste momento uma prioridade, pois sem o investimento que procuramos, será muito mais difícil concretizar o principal objetivo.
O que é para si ‘ter sucesso’?nPara mim ter sucesso é fazermos aquilo que amamos. Por definição passamos grande parte da nossa vida a trabalhar e portanto é importante que o façamos com a maior alegria e prazer possível. Ter sucesso, é sentir que tenho liberdade para definir o meu próprio destino, é criar impacto positivo, é saber mover as pessoas em prol de um objetivo comum, é encarar cada problema como uma oportunidade para aprender, é estar rodeado de pessoas fantásticas que nos ensinam imenso com as suas experiências e histórias de vida. Ter sucesso é conseguir ‘criar’ algo que torne o Mundo um sítio melhor e as pessoas mais felizes.
Ser empreendedor é também ter maus momentos. Pode partilhar connosco um aspeto negativo, uma dificuldade do seu projeto?nEssa é para mim uma verdade absoluta. Independentemente do projeto ou da fase em que o mesmo esteja, os problemas irão aparecer sempre. Para mim o principal aspeto que caracteriza um verdadeiro empreendedor é sem dúvida a sua capacidade de resiliência. A resiliência permitiu-nos, até agora, adaptar sempre as necessidades do projeto às inevitabilidades da vida. Para falar de um caso em particular, ao iniciarmos o projeto, cometemos o erro de não arrancar à partida com as principais competências que precisámos. Faltavam-nos uma ou duas pessoas com capacidades técnicas, nomeadamente programação e nesse sentido os prazos para o lançamento do produto foram sistematicamente afetados. Sei, que se não tivéssemos arranjado investidores, seria algo que teria posto o projeto em risco e portanto aconselho qualquer potencial empreendedor a ter isso em atenção. É muito importante o projeto reunir logo desde início as principais competências que vai necessitar. Se for um projeto com base tecnológica, ter um fundador com know-how técnico é determinante.
Que aprendizagens retira da sua experiência que possam ser inspiradoras para outros empreendedores?nEstou e espero vir a estar sempre em processo de aprendizagem. Sinto que ainda não posso servir de inspiração para ninguém, contudo, tendo em conta a minha curta experiência apenas posso dizer; ‘Não tenhas medo’. Se tens uma projeto em mente e desejas desenvolve-lo; avança. n’Não tenhas medo’ de falhar, ‘Não tenhas medo’ daquilo que os outros possam dizer e pensar caso falhes, ‘Não tenhas medo’ de perder a estabilidade e de fazer sacríficos, ‘Não tenhas medo’ de te expores, ‘Não tenhas medo’ de ouvir um não, ‘Não tenhas medo’ de te afirmares, ‘Não tenhas medo’ de sair da tua zona de conforto, ‘Não tenhas medo’ de ser português. Não tenhas medo’ das pessoas que te criticam por teres tido a coragem para fazer aquilo que elas não tiveram. ‘Não tenhas medo’ de confiar. ‘Não tenhas medo’ de ‘fazer acontecer’.
Tem um mentor? Quem?nNão tenho um mentor em concreto, tenho sim, uma enorme admiração por muitas pessoas fantásticas. Umas com quem tive e tenho o privilégio de me relacionar, outras que me transmitem imenso de si, cada vez que folheio um livro, leio um blogue, vejo um filme, etc…
Inspirou-se num projeto ou empreendedor?nTal como na resposta anterior não há um projeto em específico que me tenha inspirado. admiro vários projetos/empreendedores por aspetos diferentes.nAdmiro a forma com a Apple criou um comunidade de admiradores e evangelistas da sua marca. A forma como a Coca-Cola sempre conseguiu ‘construir’ uma marca emocionalmente forte. Admiro Hugo Veiga, o criativo português, que idealizou uma das melhores campanhas publicitárias de sempre ‘Retratos da Beleza Real’ da Dove. Timothy Ferriss pela sua capacidade de ver ‘fora da caixa’. Richard Branson, porque me ajudou a entender que podemos divertir-nos à brava enquanto trabalhamos. Elon Musk, que me demonstrou o verdadeiro significado da palavra ‘resiliência’. Sir Ken Robinson pela sua eloquência e capacidade para palestrar. Mark Cuban, porque me ensinou que é possível perseguir os nossos sonhos. Admiro o Miguel Gonçalves pela capacidade que tem em não passar indiferente a ninguém. Inspiro-me com pessoas como o Nelson Mandela, que me ensinou a perceber que o perdão é muito mais forte que o ódio.
Como é que ser empreender modificou a sua vida?nÉ curioso que agora trabalho mais de 12 horas por dia, muitas vezes aos sábados e até aos domingos, tenho um ordenado que mal paga as contas, muitas preocupações semanais por resolver, noites mal dormidas, contudo, nunca me senti tão feliz. Sinto-me também mais confiante, desenvolto, comunicativo, livre e completo. Sinto que me encontrei.
Em que áreas precisa de colaboração e que tipo de pessoas/entidades gostaria de ter a colaborar consigo?nRelativamente ao projeto, prevemos ter a necessidade de colaboração com agências de comunicação e marketing, pois teremos de conseguir criar um forte buzz à volta da marca Agroop. Além disso iremos também desenvolver parcerias com instituições de ensino no setor agrícola e com empresas de consultoria tecnológica e agrícola. nTentaremos colaborar com entidades sofisticadas, que entendam os novos desafios contemporâneos e a importância de construir parcerias de cooperação aberta (open innovation), onde o segredo já não é a alma do negócio, mas sim a troca de ideias e experiências.
Em que áreas se vê (ou ao seu projeto) a colaborar com outras pessoas e empresas?nOptámos pelo investimento da Seedrs, porque quisemos apostar num modelo de financiamento aberto à sociedade, que permitisse à Agroop, por um lado ganhar visibilidade e por outra credibilidade. Credibilidade, pois a Seedrs preocupa-se imenso com o processo de validação de qualquer tipo da informação que as start-ups coloquem na plataforma e isso é um elemento que dá segurança a quem queira investir por este canal.
Além disso, acreditamos que desta forma poderão eventualmente aparecer pessoas que possam contribuir de forma mais direta para o potencial de sucesso da Agroop. Pela nossa experiência, as pessoas são o nosso ativo mais importante.
Por outro lado e com pena nossa, sentimos que em Portugal, alguns mecanismos de financiamento ainda não estão muito sensibilizados para apoiar startups em fase de prototipagem, muito menos num setor que ainda julgam conservador, como é o caso da agricultura. Contudo, não é essa a nossa perceção deste mercado. Existem atualmente fortes indicadores nacionais e internacionais que sustentam claramente que a agricultura é um setor com imenso potencial e futuro.
Que indicadores são esses?n Nos EUA, por exemplo, estão a aparecer outras soluções tecnológicas de gestão operacional que contam já com um universo de mais de 80.000 utilizadores. Existem também várias soluções exclusivamente destinadas ao setor agrícola, nomeadamente, redes sociais e marketplaces; o que é um sinal claro, que este setor está a despertar para o mundo digital e para a necessidade de criação de um cluster muito mais organizado, sofisticado e inovador.
Já em Portugal, penso ser do conhecimento geral, que começa a surgir um novo paradigma; é o próprio presidente da CAP (João Machado) que refere que nesta associação aparecem todos os meses aproximadamente 200 novos agricultores, maioritariamente, com menos de 40 anos e quase todos licenciados. Além disso estes novos empresários agrícolas estão muito mais profissionalizados, mais propensos ao uso da tecnologia e muito sensibilizados para o facto de terem obrigatoriamente de produzir de forma mais eficiente para conseguirem competir num mercado cada vez mais globalizado. Todavia, existe uma grande potencialidade, já que se prevê que nos próximos 35 anos, o Mundo terá mais 2.000.000.000 pessoas e as necessidades alimentares terão de aumentar entre 60% a 90%.