Retrato de um empreendedor – Susan and Helle Jacobsen

Um espaço minimalista, predominantemente branco, um cheiro inconfundível a café… Millennials a trabalharem em frente ao computador com uma chávena ao lado que protege os apelativos desenhos gravados na espuma do café – corações, folhas de árvores, túlipas… Barismo é o nome dado a esta nova arte, que, tal como todas as outras, exige talento, sentido estético e, sobretudo, muita prática.

O inglês é a língua dominante, mas também ouvimos falar italiano, francês, dinamarquês… Poderíamos estar em qualquer ponto da Europa não fosse as janelas do Copenhagen Coffee Lab darem para a Rua da Piedade, que desemboca na Praça das Flores, uma das zonas de Lisboa com mais procura por parte dos turistas e dos estrangeiros que optam por passar uma temporada a trabalhar nesta cidade.

Susan, Helle e uma outra sócia que entretanto já não está no negócio abriram a coffee shop em março do ano passado. Nestes quase doze meses de actividade, o balanço é positivo, garante Helle. Todo o café que bebemos na loja ou levamos connosco, pois existe a opção de grab and go, vem diretamente da Dinamarca. Neste país, a empresa dinamarquesa Copenhagen Coffee Lab procede à torrefação do mesmo, que depois é vendido para restaurantes ou vai para a Business Angels Coffee Shop que a empresa detém em Copenhaga.

O que é para ti ser empreendedora?

Ser empreendedora é ir em frente com uma ideia, ser realista e estar disponível para tomar conta das várias ‘frentes’ de um negócio. Um empreendedor é alguém que lida com os desafios que vão aparecendo quando se tem uma empresa.

Como conseguiste obter financiamento para abrir o Copenhagen Coffee Lab em Lisboa?

Eu e a minha irmã somos sócias. Existe ainda um sócio investidor que é a empresa dinamarquesa Copenhagen Coffee Lab, para a qual eu trabalhei e que é detentora de uma marca de café com o mesmo nome e também de uma coffee shop em Copenhaga. Um dos accionistas dessa empresa conhecia o meu trabalho de perto porque trabalhámos juntos durante algum tempo. Um outro accionista viveu em Lisboa e teve sempre em mente montar um negócio nesta cidade, mas não sabia bem o quê… até que eu apareci com a ideia de abrir uma coffee shop na capital portuguesa! Aceitaram e aqui estamos.

Quem gere o negócio?

Somos as duas, mas cada vez mais temos funções diferenciadas. A Susan dedica-se à área operacional, enquanto eu sou responsável pelas tarefas administrativas.

Já atingiram o break even?

Eu diria que sim… mas a verdade é que estamos sempre a investir. Quando começámos vendíamos apenas cafés, aos poucos fomos introduzindo na ementa pastelaria dinamarquesa, os iogurtes e outros produtos.

É possível fazer dinheiro num negócio assente essencialmente na venda de cafés?

É possível, mas numa perspectiva de longo prazo. Estamos a pensar introduzir novos produtos na ementa, não apenas para aumentar o retorno financeiro, mas também porque os clientes nos fazem sugestões nesse sentido. Só que tudo tem de ser feito de uma forma equilibrada, pois não queremos perder o conceito original: um espaço dedicado ao café.

Quais são os grandes desafios que tens enfrentado?

Tudo é novo: o país, a gestão de um negócio próprio… Um dos aspectos que que mais me agrada é facto de nada ser previsível. Pensamos que as coisas vão acontecer de uma determina maneira e acontecem de outra! Gerir é perguntarmos a nós próprios recorrentemente qual é a melhor maneira de lidar com os problemas com que nos vamos deparando.

A gestão de recursos humanos é normalmente apontada pelos empreendedores como uma das áreas mais difíceis. Concordas?

O lidar com as pessoas é uma das partes que mais gosto neste negócio. Refiro-me à equipa, mas também aos clientes. Eu nunca digo aos meus colaboradores: ‘Não faças desta maneira, faz daquela’. Ao invés, procuro que eles percebem a razão pela qual devem adotar um determinado procedimento e não outro. E estou sempre aberta a sugestões. Contratamos diferentes tipos de pessoas e de várias nacionalidades: estudantes, não estudantes, pessoas que têm o seu próprio negócio mas que querem fazer um part-time connosco, como é um caso de uma das nossas colaboradoras. Eu e a minha irmã também servimos cafés.

Vocês estão ainda presentes no mercado de catering e de street food?

Sim… temos um serviço de catering para eventos e também vamos a festivais de street food. Por exemplo, há uns dias estivemos no Estoril no evento de apresentação do novo modelo da Renault. A nossa pequena Piaggio, que serve de loja móvel, acompanha-nos sempre. O street food também tem interesse para nós, já que é um mercado a florescer em Portugal. Mas de momento o nosso maior foco está na coffee shop. Queremos que toda a gente desfrute do nosso espaço e prove os nossos produtos, um desejo que nem sempre é realizável, já que muitas vezes o café está completamente lotado e as pessoas veem-se obrigadas a sair porque não têm lugar. Cada vez que isso acontece, fico angustiada…

Trabalham com alguma agência de comunicação para a promoção da vossa marca em Portugal?

Não. Às vezes, somos nós que contactamos os organizadores dos festivais de street food e apresentamos a nossa proposta. Outras vezes, são eles que nos perguntam se queremos fazer parte!

Qual é o vosso público-alvo?

São pessoas que vivem ou viveram fora de Portugal e que estão habituadas a este tipo de espaço, que não é muito comum por cá. Mas é sempre uma pergunta difícil de responder. Eu diria que o nosso target é um segmento jovem que procura conceitos inovadores.

A sorte é um fator importante no sucesso de um negócio

Na minha perspetiva, a sorte está ligada ao timing certo. Mas como te disse antes tu não podes prever tudo o que se vai passar no negócio, por isso o fator sorte é sempre importante.

 

 

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