A minha experiência é ainda curta, mas acho que é a suficiente para conseguir transmitir o que para mim ainda falta ao empreendedorismo europeu, mas mais concretamente ao empreendedorismo português.
Tenho, ao longo deste período, conhecido imensos empreendedores trabalhadores, resilientes e ambiciosos que felizmente têm conseguido com muito sacrifício levar os seus projetos a bom porto. Tenho também conhecido muitos outros empreendedores inteligentes, apaixonados e com ideias belíssimas que infelizmente têm caído no chamado ‘vale da morte’, local obscuro, onde cerca de 50% das startups sucumbem nos primeiros três anos de existência.
Sei que é um processo orgânico, que muitos designam por ‘lei do mais forte’, mas será que não seria possível diminuir esta taxa de ‘defuntos’?
Bem… eu acredito que sim.
Não é a origem de todos os males, mas acredito que é uma parte significativa do puzzle que está a falhar. Querem saber qual é?
Falta de investimento seed e excesso de conservadorismo por parte dos agentes financeiros.nAcredito e sei que há muitos business angels que têm feito os possíveis para contrariar esta tendência, mas para mim ela é evidente. Também sei que existem muitas entidades que se designam ‘seed investment’, mas de seed só utilizam mesmo o nome.
Portugal é um país pequeno, eu sei. Também compreendo que não haja investimento disponível para toda a gente e sei que existem muitos projetos que não têm aquilo que é necessário. Mas será só falta de dinheiro ou há também uma enorme aversão ao risco? O que nos separa dos investidores norte americanos? O que podemos fazer melhor?
A minha resposta é simples…
Olhar menos para as métricas e mais para os empreendedores.nSei que é um exercício recorrente, mas será o papel do investimento seed olhar quase sempre só para os números?
Quando procuramos este tipo de investimento, depois de um pitch diziam-nos quase sempre o mesmo:
‘Gostamos muito do vosso projeto, está bem estruturado, vemos que têm vontade e potencial, mas voltem cá quando tiverem clientes e o produto estiver desenvolvido’
E eu pensava:
‘Bolas! Mas é exatamente para desenvolver este produto que vim cá’
Se tivesse nascido em berço de ouro ou trata-se o gerente do banco por ‘tu’ talvez esta resposta não fosse um problema. Mas como não era o meu caso, as nossas opções eram cada vez mais limitadas.
Nas inúmeras apresentações que fizemos também sentimos outra particularidade do investimento ‘pseudo seed’. Uma enorme ganância onde a palavra ‘seed’ é substituída por outra constituída exatamente pelas mesmas letras e denominada ‘sede’. Sede, porque alguns investidores depois de dizerem ‘sim’ acreditavam que retirando a maioria da equity, numa fase inicial do projeto aos fundadores,estariam a fazer um bom negócio.É sem dúvida diminuir grande parte do ímpeto e do ADN do projeto.Fazendo um paralelismo, é quase o mesmo que pedir ao corpo para viver sem alma.
Felizmente, no nosso caso a opção ‘Seedrs’ conseguiu livrar-nos desta última situação e ainda cá estamos para contar a história (esperemos continuar…).
Mas nem tudo é mau. Existem alguns mecanismos que fazem bem o seu trabalho, mas sei que podemos ir mais longe. Sei que quem faz os projetos são as pessoas e não o contrário. Sei que os empreendedores de sucesso apresentam quase sempre as mesmas qualidades pessoais e portanto acredito que os mecanismos de investimento seed também saberão reconhecê-las.
A única coisa que desejo é que gradualmente, os agentes financeiros possam vir a assumir uma postura mais audaciosa. Só assim teremos mais startups, aumentaremos o emprego, potenciaremos a nossa competitividade internacional e criaremos valor acrescentado.
Só uma atitude diferente poderá contribuir para um verdadeiro e duradouro ‘cluster’ do empreendedorismo.
É isso que as startups anseiam e é isso que no meu entender Portugal precisa.