O mundo pode estar prestes a experimentar o maior colapso económico depois da Grande Depressão, nos próximos dois ou três anos, o que poderá desencadear um colapso no sistema global.
Este colapso económico será agravado pelo problema da impressão maciça de dinheiro, mas também pode ser uma consequência da transição para um novo mundo económico que vem sofrendo várias recessões nas últimas décadas. E essa transição é, obviamente, muito agravada pela recente pandemia.
Existem 4 factores (ou transições) que estão ocorrendo na economia moderna que por si só podem resultar em recessões:
O primeiro factor tem a ver com os efeitos do envelhecimento da população (gráfico animado, WEF). Rússia, China, Europa e a maior parte do hemisfério norte começarão a envelhecer muito rapidamente a partir de agora, já que as pirâmides populacionais estão a inverter-se rapidamente devido às baixas taxas de natalidade e ao rápido envelhecimento da população.
A história já nos mostrou o que aconteceu no Japão (Japan Economic Growth, Trading Economics), onde o país praticamente não teve crescimento económico desde 1990. Esse problema afecta actualmente mais da metade da economia mundial, principalmente os países desenvolvidos, o que poderia levar a uma recessão de longo prazo nas próximas décadas.
O segundo factor tem a ver com o fim do livre comércio. Tanto os EUA quanto a China estão construindo blocos comerciais e barreiras tarifárias que estão a criar fortes divisões no resto da economia mundial.
Neste momento já estamos a presenciar uma forte ruptura nas cadeias de produção e distribuição, como consequente aumento dos preço dos bens essenciais, o que por sua vez gera mais inflação e mais pressão sobre a economia e a estabilidade social.
No entanto, muitos países tem estado estão a unir-se na construção de grandes blocos comerciais para proteger os seus canais de distribuição e conquistar novos mercados para seus produtos. Recentemente, o maior bloco comercial do mundo chegou a um acordo após oito anos de negociações, o Regional Comprehensive Economic Partnership (RCEP) junta 15 países da Ásia-Pacífico, incluindo Coreia do Sul, China, Japão, Austrália e Nova Zelândia. O acordo, que exclui os EUA e a Europa, é o primeiro acordo comercial multilateral regional assinado pela China.
O terceiro factor tem a ver com a transição acelerada para a economia digital que está ocorrendo e que terá efeitos de longo alcance. O trabalho remoto está a tornar-se na norma, especialmente devido à pandemia, e isso está a fazer com que muitas pessoas abandonem as cidades, que estão com preços super inflacionados, mudando-se para locais rurais mais agradáveis.
Da mesma forma, a criação de conteúdo e os serviços digitais são sectores em constante crescimento da economia e o ritmo de transformação digital será cada vez mais acelerado com as empresas a passar a anotar processos automatizados e serviços de inteligência artificial. Neste cenário, o investimento imobiliário que quase todos consideram um investimento incrivelmente seguro mesmo em tempos de crise, poderá cair e contribuir para o desmembramento do resto da economia.
Durante décadas, o próprio crescimento populacional fez com que mais pessoas precisassem de casas e isso levou ao agravamento das desigualdades, levando muita gente a viver em áreas suburbanas de grandes cidades e, criando preços altíssimos em lugares como Nova York, Londres ou São Francisco. Se fizermos a transição para uma sociedade onde as pessoas, especialmente a elite da economia da informação, possa trabalhar remotamente, isso pode levar ao colapso das economias dessas cidades, que são os motores do crescimento económico.
O quarto factor que poderia causar um colapso económico é a dívida histórica em que se encontram a maioria das economias. Mesmo antes da pandemia, a dívida pública (e também privada) tem estado a crescer para níveis altos, mesmo quando em comparação com o início da crise de 2008, e os últimos dois anos tem se assistido a uma grande geração/impressão de dinheiro por parte de muitos governos, especialmente dos EUA, a UE e a China.
Esta situação tem vindo a criar pressões inflacionarias e poderá resultar que entremos num cenário deflacionista (inflação ao mesmo tempo que recessão), o que por sua vez reduz o “output” da economia e desequilibra ainda mais as finanças de cada país bem como a capacidade de sustentação da sua dívida.
Nouriel Roubini, o economista que previu a crise financeira de 2008, chamou essa situação de “mãe de todas as dívidas” e o fato de os bancos centrais não terem mais mecanismos além da impressão de dinheiro, com juros baixos e a economia ainda enfrentando problemas extremos devido à pandemia e aos problemas da cadeia de abastecimento, poderemos em breve entrar em um colapso económico global semelhante ao da década de 1930.