‘The next Big Ideias’ ao virar da esquina

Há ideias que são originais e nativas, e outras que são adaptadas de conceitos que já existiam noutros mercados, mas que não estavam ainda implantadas em Portugal. Neste campo, é possível identificar algumas tendências (ou oportunidades de negócio) que começam já a ganhar tração no estrangeiro, mas que ainda não encontramos no mercado nacional.

Um bom exemplo seria a indústria dos seguros, algo ‘cristalizada’ em termos do que é a sua oferta de negócio e de serviços, por contraste com outras. Apesar de ser um sector que vale quase 6% do PIB, com resultados líquidos de cerca de 700 milhões de euros, não se tem sabido renovar.

As seguradoras travam uma luta para se adaptarem à era digital, e indicadores como a experiência online dos clientes de seguros, as Apps específicas, ou mesmo o grau de conhecimento do cliente em relação às várias apólices, por exemplo, estão muito abaixo de outros serviços, como a banca ou as utilities. Ao mesmo tempo, essa fraca relação com o consumidor dá igualmente origem a problemas como a pouca exposição de marca, a fraca lealdade face à marca ou dificuldades na retenção de clientes.

A tecnologia também é um factor de perturbação: o público começa a ter acesso a muita informação médica e legal, a motores de comparação de preços, a ferramentas que permitem um maior controlo e eficácia nos vários custos associados aos seguros.

Mas nem tudo são rosas para uma startup neste ramo: a apertada regulação, os players incumbentes, a falta de registos históricos para análise de risco, e a robusta estrutura financeira associada ao negócio são dissuasores de aventuras neste campo. Ainda assim, não faltam casos de sucesso, como a chinesa Ping An, fundada em 1988 em Shenzhen, entrou em bolsa em 2004 com uma valorização de $10 mil milhões de dólares e vale hoje $100 mil milhões de dólares. A Ping An foi sempre uma seguradora ancorada no aspecto tecnológico do negócio, e continua a inovar nesse campo.

A startup Oscar pode também ser aqui referida, tendo abalado o tecido dos seguros médicos nos EUA, havendo sobre isso muitas referências na imprensa internacional. De notar que no arranque os fundadores angariaram $350 millhões de dólares junto de capital de risco e outros investidores, incluindo $32.5 milhões de dólares da Google Capital. Hoje esta startup está avaliada em mais de mil milhões de dólares, de acordo com alguns analistas.

O mercado dos seguros tem muitas oportunidades, desde os animais domésticos aos telemóveis. Apesar das dificuldades em montar um negócio de grande escala neste sector, há muitos nichos quase a pedir a chegada de uma startup.

Sejam eles serviços de concierge para seguros de telemóveis (hoje um dos bens pessoais mais queridos para uma crescente franja de pessoas), propostas de seguro desenhadas para públicos mais expostos (como diabéticos ou condutores de primeiro ano), seguros cooperativos, tipo peer-to-peer (onde um conjunto de pessoas paga e assume os riscos da própria atividade), seguros à atividade agrícola (que tirem partido das novas tecnologias para prevenir e prever melhor os riscos específicos desta atividade), ou seguros para bilhetes de avião (onde a seguradora assume os custos de atrasos e desmarcações por um fee sobre o preço inicial do bilhete, numa altura em que as viagens de avião dispararam).

Fora deste sector, que não tem conhecido muita dinâmica recentemente mas movimenta muito investimento, exemplos como a Made, onde um dado objecto de mobiliário, mesmo estando no mostruário online, só vai para produção ao fim de um determinado número de encomendas que tornem essa produção viável, ou a portuguesa Undandy, que permite a customização quase total de um par de sapatos de produção nacional por um preço acessível, ao não depender de lojas físicas, são também bons indicadores de novas tendências.

Criar e desenvolver um negócionNa nossa óptica, é importante não ter medo de falar e de ‘vendermos’ a nossa ideia, ao mesmo tempo que devemos trabalhar para reduzir o medo de falhar. Os empreendedores portugueses são destemidos por natureza, mas, por outro lado, ainda temos uma cultura de medo que por vezes nos impede de sonhar alto, e de criar uma verdadeira cultura de sucesso.n nDevemos pensar com mais ambição, e de forma global, para que o potencial de negócio possa ser interessante para investidores internacionais e, ao mesmo tempo, ter uma melhor noção do investimento que uma estratégia de crescimento exige e por isso ‘apontar’ para o nível de investimento adequado para a fase em que o projeto se encontra, bem como para a agressividade de crescimento que pretendemos ter.

Essencialmente, importa olhar para o lado e perceber se a equipa que temos é a certa, se é dotada das competências técnicas e de negócio complementares e relevantes, capacidade de execução, flexível e com a atitude proactiva e resiliente. Por outro lado, é importante que se tenha um produto que resolva um problema real e concreto, e com uma vantagem competitiva clara e sustentável. É imprescindível que o mercado seja global, com uma estratégia de crescimento eficaz, e com um modelo de negócio altamente escalável.

Para um empreendedor, há poucas coisas mais importantes do que conhecer as pessoas certas ou ter uma rede de contactos de qualidade. Construir relações relevantes com influenciadores-chave é uma preocupação desde o primeiro dia da startup, relações das quais a mais importante é a que se começa com o primeiro investidor, digna de efeitos secundários semelhantes aos das relações amorosas. No entanto, há muito que namorar antes de se chegar a esta fase de maturação da startup.

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