Pedro Ferraz da Costa escolheu o jornal i para, numa entrevista polémica, retomar uma ideia muitas vezes repetida de que “Os portugueses não querem trabalhar”.
Esta frase – ou outras semelhantes – já a ouvimos várias vezes à mesa do café, pronunciada por velhos “baby boomers”, agora reformados, ou quarentões da “geração X” que resistiram às sucessivas reestruturações laborais. No entanto, provindo de alguém com competências no setor empresarial, e consequentemente no mercado de trabalho, a frase revela impreparação ou – pior – visa um propósito populista para gerar clivagens e atrair uma faixa do eleitorado.
Com efeito, o que Pedro Ferraz da Costa, enquanto antigo dirigente de uma das mais importantes associações empresariais, deveria saber é que o mercado de trabalho mudou. Pior: grande parte dessa mudança foi impulsionada pelas empresas que agora defende no “Fórum da Competitividade” que dirige.
O mercado de trabalho mudou e grande parte dessa mudança foi impulsionada pela precariedade imposta pelas empresas
Hoje, os jovens da geração Z, que estão a entrar no mercado de trabalho viveram toda a sua vida a ouvir falar de crise. Viram os seus pais entrar no desemprego, dos quais muitos não conseguiram sair. Os mais velhos, da geração Y ou ‘millennials’, que começaram a trabalhar depois do ano 2000, já mudaram três ou quatro vezes de trabalho e estão na sua maioria a desempenhar funções abaixo das suas qualificações.
A precariedade, de tanto ser induzida pelas empresas, acabou por moldar as metas dos novos jovens e agora elas são bem diferentes das dos seus pais. A incerteza no trabalho e os salários a ‘recibos verdes’ impediu-os de conseguir empréstimo para comprar casa. Muitos vivem ainda na casa dos pais, outros tiveram a sorte de receber uma casa da família, em resultado de uma herança de avô, familiar emigrado ou do divórcio dos pais e posterior recomposição familiar.
Sem a pressão do empréstimo da casa, e com os baixos salários, por vezes ainda condicionados pela incerteza, os jovens adquiriram outros hábitos de consumo, definiram outras prioridades e acabaram por ficar menos presos à pressão patronal.
Isso naturalmente tem reflexos na contratação e retenção de recursos humanos e os trabalhadores hoje sabem que mesmo as grandes empresas – como a Autoeuropa, por exemplo – não estarão cá toda a vida.
Certamente na próxima década a maioria das empresas de hoje terá desaparecido, sido deslocalizada, ou alvo de uma reestruturação semelhante às que aconteceram até aqui. O avanço da automação é uma certeza que os jovens trabalhadores sabem que os irá afetar no curto prazo. Isso muda toda a forma de pensar, desde a sua dedicação à empresa, até à forma como esta deve procurar reter os colaboradores mais qualificados.
Vivemos tempos de mudança. Ferraz da Costa deveria sabê-lo e levar as empresas a também elas se adaptarem. Hoje já não são os salários nem as garantias de futuro que atraem os jovens, são os desafios e as oportunidades de progressão numa carreira que os leva a escolher uma empresa ou a mudar-se na primeira oportunidade.
A descida da taxa de desemprego cria novos desafios para o mercado laboral. Já não é a concorrência do subsídio de desemprego que rivaliza com os baixos salários, são os valores dos jovens que mudaram. E se Ferraz da Costa não quer que a empresas se transformem em “lares de terceira idade” era bom que se preparasse para a mudança. Em vez disso, o antigo dirigente da CIP prefere fazer barulho, levantar poeira e deixar tudo como está. Um politico, portanto. Talvez tenha futuro num qualquer partido populista, porque como empresário tem os dias contados.
Preguiçosos? Quero ver os empresários trabalharem com ordenandos que oferecem. Querem enrriquecer à custa do empregado. Chulos, parasitas e corruptos são todos os empresários deste país e não só 🙁