Já lhe aconteceu ter discutido com alguém e ter-se arrependido logo a seguir? Ou ter presenciado uma injustiça e nada ter feito? Por que é que isso acontece?
Este artigo vai ajudá-lo a entender melhor quando deve ou não lutar.
Quando não deve lutar…
Já pensou quanto tempo perde a tentar convencer alguém que não quer admitir que você tem razão em determinado assunto? A verdade é que para uma pessoa que não quer entender, nem 1000 palavras lhe serão suficientes. É como discutir com um estúpido. Ele fará com que a discussão baixe ao nível dele e lhe ganhará por experiência!
Não estou a sugerir que se torne numa pessoa passiva ou mansa, mas sim que tenha a inteligência emocional necessária que lhe permita escolher o que é mais vantajoso para si em determinado momento. Se quer obrigar um cavalo a beber água, não discuta, meta-lhe sal na aveia e vai ver que ele irá beber água sozinho.
Segundo o general Sun Tzu, “Será vencedor quem souber quando e como lutar, não lutar, manobrar, preparar, e quem tiver capacidade militar, não sofrendo a interferência do soberano…”
No exemplo a seguir irá perceber melhor porque não lutar pode ser a opção mais sábia em algumas ocasiões:
“Um casal está mesmo em cima da hora combinada para jantar em casa de uns amigos e quando estão quase a chegar ao seu destino deparam-se com um cruzamento. Após um momento tenso de tomada de decisão, ele diz convictamente que é para virar à esquerda. Ainda que ela saiba que o caminho correcto é virando à direita, ela esboça um sorriso maroto e deixa-o tranquilamente levar a dele avante. Após alguns metros, ele percebeu que estava no caminho errado, desculpou-se e timidamente deu a volta com o carro e tomou o caminho correcto.
Prestes a chegar a casa dos seus amigos, o marido pergunta à sua mulher….
– Porque sorriste quando me enganei no caminho? Tu sabias o caminho para casa deles?
– Sim.
– Então porque é que não insististes para eu virar à direita?
– Porque tu tinhas tanta a certeza que era para virar à esquerda que se eu insistisse naquela altura certamente acabaríamos por discutir, chegaríamos mais atrasados e acabaríamos chateados o jantar inteiro. Eu apenas decidi que preferia ser feliz do que ter razão naquele momento.”
Todos temos a nossa razão porque partirmos do nosso ponto de vista, das nossas crenças, das nossas percepções. O que é que ganha se entrar em conflito com as pessoas que mais ama? Serão mais importantes essas pessoas ou ter razão no assunto que gerou o conflito? Às vezes vencer uma discussão pode ter o gosto amargo de uma derrota.
Quando deve lutar…
Começo esta parte do artigo com uma história interessante que ilustra muito bem quando é realmente importante que você não fique quieto e lute.
“Numa universidade de direito, um professor no primeiro dia de aulas para alunos do primeiro ano, perguntou o nome a um aluno que se sentava na primeira fila.
– Tu aí, como te chamas?
– João, Professor.
– Sai imediatamente da minha aula e não voltes nunca mais! – Gritou o professor.
O aluno ficou em estado de choque com aquela situação absurda, pegou nas suas coisas, levantou-se e saiu da sala rapidamente. Os outros alunos presentes na sala ficaram assustados e indignados com aquela situação, porém ninguém disse nada a respeito acerca do que se passara.
– Muito bem, podemos começar.
– Para que servem as leis? Perguntou o professor.
Os alunos ainda assustados, pouco a pouco, começaram a responder à sua pergunta:
– Para que haja ordem na nossa sociedade.
– Não! – Respondia o professor.
– Para cumpri-las.
– Não!
– Para que as pessoas que cometem crimes sejam condenadas. – Não!
– Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?
– Para que haja justiça. – Diz uma rapariga timidamente no fundo da sala de aula.
– Até que enfim! É isso, para que haja justiça. E agora, para que serve a justiça?
– Para salvaguardar os Direitos Humanos…
– Bem, e mais? – Perguntava o professor.
– Para diferençar o certo do errado…
– Ok, não está mal, agora peço que respondam a esta pergunta: agi correctamente ao expulsar João da sala de aula?
Todos os alunos ficaram calados, ninguém respondia.
– Quero uma resposta decidida e unânime!
– Não! – Responderam todos os alunos de uma só voz.
– Poderia dizer-se que cometi uma injustiça?
– Sim!
– E porque ninguém aqui fez nada? Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para praticá-las? Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. Todos! Não voltem a ficar calados, nunca mais! Vão buscar o João. Afinal, ele é o professor e eu um aluno do terceiro ano.”
Lute pela sua vida, pela sua família, pela justiça, pela dignidade, pela liberdade, pela igualdade, pela sua felicidade, pela sua carreira, por algo que realmente valha a pena!
Há uns anos, quando eu viajava de carro do Porto para Lisboa, com o meu administrador e o diretor técnico da altura, depois de um cansativo dia de trabalho, um veículo aproxima-se a alta velocidade e faz uma manobra arriscada, que quase provocava um acidente. Na altura, eu e o meu administrador ficamos furiosos, dissemos uma série de palavrões e só nos calámos quando o condutor já ia a 1 km de distância. Se estávamos esgotados, por causa dessa situação ainda ficámos pior.
Todavia, ao olhar para o lado, vejo que o meu diretor técnico estava impávido e sereno e perguntei-lhe: “Ribeiro, tu viste bem o que aquele tipo fez?” Calmamente, ele respondeu: “Tenham calma! Aquele indivíduo deve ser um médico em emergência. Era ótimo que ele conseguisse chegar a tempo para salvar o paciente…” Fiquei por uns instantes sem perceber o que ele queria dizer, mas logo entendi a sua mensagem.
Para quê nos enervarmos, stressarmos ou perdermos a nossa energia com coisas que não podemos controlar? A vida é como um frasco com bolas e areia lá dentro, as bolas são as coisas mais importantes da nossa vida, as que valem verdadeiramente a pena lutar. A areia representa apenas as circunstâncias do dia-a-dia.
Nem sempre é fácil ter o discernimento necessário para saber quando se deve – ou não – “lutar”, mas se treinar ao longo do tempo irá melhorar significativamente a sua motivação, além da qualidade de vida e dos seus relacionamentos, pois se tornará mais inteligente e forte emocionalmente.
4 Questões:
- Identifique uma situação onde podia, ou não, ter lutado.
- Que medidas ou acções podia ter feito?
- Que resultados positivos pensa que poderia ter obtido?
- Como vai agir se voltar a acontecer?