Mulheres da Web Summit consideram que, no trabalho, os homens são julgados pelo seu potencial, enquanto as mulheres são avaliadas pelas capacidades comprovadas. Essa diferença marca a divisão de género no setor tecnológico. O evento, que este ano atraiu 31 mil mulheres entre 70 mil participantes, analisa regularmente o papel das mulheres nas empresas tecnológicas.
A Web Summit pesquisou a opinião de várias das mulheres, investidoras, fundadoras, participantes e membros da comunidade para avaliar suas perspetivas sobre o estado atual das mulheres na tecnologia. Os resultados mostram que as mulheres se sentem respeitadas, confiantes e empoderadas em seus papéis, mas ainda assim acham que governos, locais de trabalho e até mesmo a sociedade como um todo ainda precisam se atualizar para avançar.
O estudo realizado pela Women in Tech (uma conferência que integra a Web Summit, destinada a debater o papel das mulheres no setor tecnológico) revelou que a divisão de gênero na tecnologia tem-se tornado mais equilibrada, embora permaneça um forte desequilíbrio quando se trata de liderança das empresas.
Quando interrogadas se houve um maior equilíbrio de género no setor tecnológico nos últimos 12 meses, 34% das entrevistadas concordaram, 26% discordaram e 40% afirmaram que não tinham certeza. No entanto, quando foi perguntado se houve uma melhoria no último ano, quando se trata de mulheres em posições de liderança de empresas de tecnologia, apenas 17% concordaram.
A maioria das mulheres sente-se respeitada, confiante e capacitada no setor tecnológico
74% das entrevistadas afirmaram que se sentem respeitadas no seu trabalho. Muitas acham que ter uma mistura saudável de funcionários do sexo masculino e feminino na empresa, gera culturas saudáveis nas empresas e impulsiona a mentalidade de mudança do papel das mulheres na tecnologia.
Quanto à confiança, a maioria afirmou estar muito consciente de suas habilidades, experiência e impacto positivo que trazem para o local de trabalho, isso foi confirmado por 87% das pesquisadas. 75% dos entrevistados também concordam que se sentem capacitados para buscar ou manter uma posição de liderança, com uma parte significativa das entrevistadas a reforçar que “As coisas parecem estar mudando, pois há cada vez mais eventos, iniciativas e encontros voltados para o empoderamento das mulheres no setor digital”.
61% das mulheres sentem que têm mais pressão para provar o seu valor do que os homens.
Quando à forma de tratamento no local de trabalho, 43% das mulheres sentem que são tratadas da mesma forma, no entanto 40% sentem-se discriminadas relativamente aos seus homólogos masculinos, enquanto 17% não têm certeza. Em relação à igualdade de remuneração, 37% acreditam que são pagas de forma justa, face aos seus homólogos masculinos, e 31% acreditam o contrário.
Algo que atraiu um forte consenso foi a pressão que as mulheres sentem para provar seu valor. 61% das entrevistadas sentem essa pressão. Uma entrevistada comentou que “Os homens são julgados com base no potencial, enquanto as mulheres são julgadas com base em capacidades comprovadas”. Algumas outras mulheres mencionaram que isso se pode dever ao preconceito que ainda favorece os homens como sendo mais competentes, e ao medo das mulheres serem vistas como agressivas ou emocionais se derem a sua opinião, em vez de mostrarem resultados.
Algumas das entrevistadas também referiram que necessitam de provar que são um investimento valioso para as empresas, já que muitas consideram que as mulheres custam mais do que os homens, especialmente se tiverem o desejo de se tornarem mães. Apesar destas condicionantes, 50% afirmaram que não sentem necessidade de escolher entre uma carreira e uma família.
“Os homens são julgados com base no potencial, enquanto as mulheres são julgadas com base em capacidades comprovadas”
O estudo da Women in Tech revelou ainda que 49% das mulheres acreditam que o seu local de trabalho está a fazer o suficiente para garantir a igualdade de género, enquanto apenas 16% acham que seus governos estão fazendo o suficiente.
A maioria das entrevistadas defendeu que os governos deveriam empenhar-se mais no reforço das leis que proíbem a discriminação de género, e aplicar cotas de género em todos os níveis empresariais. No entanto 87% considera que a mudança deve ser cultural e os governos devem fazê-la na escola. “Se as meninas são encorajadas a brincar com brinquedos de cozinha e bonecos e meninos são encorajados a serem engenheiros – como podemos esperar que essa imagem impressa mude mais tarde?” Interroga uma das entrevistadas.
No estudo, várias mulheres responsabilizaram os departamentos de RH pela desigualdade de género nas empresas. 63% acreditam que os departamentos de recursos humanos fazem uma triagem cega de currículos, com base em preconceitos. “Como é que as mulheres podem obter óptimos empregos em tecnologia se nunca tiverem a oportunidade de conhecer os gerentes de contratação ou adquirir experiência?” Destaca uma das entrevistadas.